Blog do Torero

Arquivo : November 2010

Link legal – Mario Monicelli
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Torero

Clique aqui para ver a abertura do filme “O incrível exército de Brancaleone”, um grande filme de Mario Monicelli, que se suicidou ontem, aos 95 anos,  atirando-se da janela do hospital. Um final que combina com ele.

Quanto ao filme, de certa forma é o pai de “Em busca do cálice sagrado”, do Monthy Phyton.

Quem não viu está perdendo um filmaço.


Tico, Teco e a tabela do Brasileiro
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Torero

 

Quando cheguei ao Bar da Preta, os dois estavam lá na mesa do canto.

Um era Tico, supervisor de planejamento avançado de tabelas da CBF. O outro era Teco, diretor adjunto de regulamentos e afins.

Sentei-me na mesa ao lado, abri o jornal para que não me reconhecessem e fiquei escutando a conversa da poderosa dupla.

“Pois é, Teco, andam reclamando que estes últimos jogos estão uma barbada.”

“Mas estão mesmo, Tico. Você já tinha visto o São Paulo perder de 4 daquele jeito? O Vasco também não foi grande coisa ontem. E nem vou falar do Palmeiras. Depois que tomou o segundo gol, ficou com medo de passar do meio de campo.”

“É verdade. No segundo tempo, quando o Kléber deu um chute, deu para ver ele torcendo para a bola não entrar.”

“Quase vibrou quando o goleiro defendeu.”

“É, eu vi. Tem uma turma que não está se esforçando mesmo. E na próxima rodada vai ser igual.”

“Que vai, vai, Tico. Goiás e Guarani já não querem nada com nada.”“O pior é que andam dizendo que a culpa por este final de campeonato chocho é da tabela.”

“Adoro quando falam da gente.”

“Eu também, Teco.”

“Só que tem uma turma querendo mudar a tabela.”

“Em time que está empatando não se mexe.”

“Também acho, mas eles, não. Tanto que já há duas sugestões. Uma turma quer que o segundo turno tenha uma ordem diferente de jogos. Assim, o primeiro colocado começaria enfrentando o último, depois o penúltimo, aí o antepenúltimo e assim por diante.”

“Ah, entendi. Querem guardar os jogos decisivos para o fim. Uma mistura de pontos corridos com mata-mata.”

“É.”

“Hum, tem sua lógica, Teco…”

“O outro grupo está sugerindo que os clássicos regionais devem ficar para o fim.”

 “Hum…, bem bolado. Realmente, se o Vasco tivesse jogado contra o Fluminense e o Palmeiras contra o Corinthians, os jogos de domingo teriam tido mais sangue. Ou, pelo menos, algum suor. Eles não iam querer facilitar as coisas para os maiores inimigos.”

“Então vamos mexer na tabela, Tico?”

“O quê? Ceder à simples lógica? Nunca! Nós somos artistas, Teco, e arte tem que ser polêmica.

“Assim que se fala, Tico! Viva a arte das tabelas!”

“Viva!”

Então eles brindaram com seus copos de café com leite e tomaram um grande gole. Depois, Tico cochichou:

“Na verdade, eu não quero é mexer no Excel de novo. Dá um trabalho…”

“Eu sei, Tico, eu sei.”


Não pedala, Robinho!
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Torero

Texto de Luiz Guilherme Piva

           Pedalou, tiro do time. Irrita. O cara não sabe driblar e fica lá, com os pulinhos prum lado e pro outro. Desde que começou essa história ninguém dribla mais. E no meu time só joga quem sabe driblar. Mas tem que ser drible mesmo, de enganar, de humilhar, de fazer a bola sumir e reaparecer em outro lugar. Se pedalar no treino, tá fora. Se pedalar no jogo, tiro do time e peço à diretoria pra dispensar.

            O futebol é o drible. Quando a molecada começa, o que diferencia quem joga e quem não joga é o controle, a embaixada, o drible. Os que não sabem vão pra defesa ou pro gol. Mas quem manda mesmo é quem sabe a firula, quem tem ginga, quem passa por três ou quatro, dá chapéu, elástico, faz que vai e volta – até fazer o gol ou perder a bola. Mas é ali que tá quem joga mesmo. Futebol, eu tô falando. Aí vêm esses caras agora com a pedalada. Francamente!

           Lembra do Joãosinho? Do Júlio César? Do Eduardo Rabo-de-vaca? Do Edu? Do Rivelino? Eram dribladores, ilusionistas. Pega os vídeos do Pelé e vê se tem lá alguma pedalada! Do Garrincha. Do Dener. Ou faz o drible direito, enfileira, humilha, mesmo que perca a bola e o gol lá na frente, ou dá o passe. Mas não pedala! Pelamordedeus, não pedala!

            Tem outra. Beque dando chutão fingindo que é lançamento. Ou dá de bico ou sai jogando ou lança de verdade. O cara ajeita o corpo, faz que olha alguém entrando em diagonal e bate bonito na bola. Ela sobe, sobe, sobe e cai na cabeça do adversário. Ou vai pra lateral. Dez vezes por jogo. E ninguém tira o cara. Eu tiro na hora. Fica uma semana treinando passe e lançamento. E banco, que é pra aprender. Se duvidar, vou eu lá e faço, ensino. Marco um xis a 40 metros e faço ela cair lá. Já joguei. Eles sabem disso.

            O negócio é que eu gosto de futebol. Vê esses aí: Parreira, Capelo, aquele escocês, o holandês, o Mourinho. Não gostam. Imagine eles andando de carro numa estrada. Passam perto de um lugarejo. Tem umas cabrinhas, um buteco, um cemiteriozinho e um campinho de terra com uns moleques jogando. Eu pergunto: eles param pra ver? Param? Nunca! Pois eu paro. Descobri muito craque desse jeito. Uns até progrediram, saíram aqui da várzea.

            Eu também tive chance. Fui chamado por uns times. Mas não. Aqui é que precisam de mim. Se não, acaba o futebol aqui. E esses meninos aí, quem é que vai cuidar?

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Luiz Guilherme Piva publicou Ladrilhadores e semeadores (Editora 34) e A miséria da economia e da política (Manole).


Uma lição da UEFA
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Torero

Texto de Marcio R. Castro

 

Retirei os trechos abaixo diretamente do site da UEFA, no espaço que fala sobre a história da Liga dos Campeões:

 “A principal competição europeia de clubes foi lançada um mês após o primeiro congresso da UEFA, que teve lugar em Viena, a 2 de Março de 1955. Contudo, a então denominada Taça dos Campeões Europeus não surgiu de uma iniciativa da UEFA”.

 “Com a maioria dos membros fundadores da UEFA mais preocupada em criar uma competição europeia para selecções, o jornal francês L’Equipe e o seu editor, Gabriel Hanot, desenhavam uma competição continental destinada aos clubes”.

 “A competição idealizada pelo L’Equipe não obrigava a que os participantes fossem campeões nacionais, funcionava sim por convites aos clubes que geravam maior interesse junto dos adeptos. Representantes de 16 clubes foram convidados para uma reunião que teve lugar a 2 e 3 de Abril de 1955 e as regras do L’Equipe foram aprovadas por unanimidade”.

 É, é isso mesmo. O mais importante campeonato de clubes do mundo não surgiu de forma oficial, mas sim organizado por um jornal. No ano seguinte, a UEFA encampou a grande ideia de forma entusiasmada e passou a organizar o torneio.

 O Real Madrid, que venceu a disputa, é considerado o primeiro campeão europeu. Pela própria UEFA, aliás, que expõe no seu site toda essa história sem melindre nenhum. Mas afinal, por que a entidade “reconheceu” um torneio não-oficial, realizado fora de seu controle e alçada, como o primeiro campeonato europeu de clubes?

 Simplesmente porque a competição, independentemente de quem a organizou, teve essa representatividade, esse significado, essa dimensão. A UEFA percebeu isso e somente respeitou a história.

 No último dia 10, dirigentes de grandes clubes brasileiros se reuniram com Ricardo Teixeira para, mais uma vez, solicitar à CBF o reconhecimento da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa como competições que consagravam o campeão brasileiro de futebol, equiparando os dois certames ao atual Campeonato Brasileiro. Afinal, ambos tiveram essa representatividade, esse significado e essa dimensão.

 O cartola os recebeu com disposição, posou para fotos e prometeu, outra vez, um estudo profundo sobre o tema. Avaliação que seria desnecessária, se a CBF fosse uma organização que se preocupasse em preservar e fazer justiça à história do nosso futebol. Aliás, à sua própria história, já que a Taça Brasil e o Robertão foram criados por ela, ainda como CBD, justamente para aclamar o campeão brasileiro de clubes. Infelizmente, pelo visto, quem nasce para CBF, nunca chegará a UEFA.

 P.S.: Há quase dois anos e meio, no “velho” Blog do Torero, foi publicado um texto meu (http://blogdotorero.blog.uol.com.br/arch2008-06-01_2008-06-30.html), que rebate com convicção, ainda que com a mesma dose de presunção, qualquer argumento contrário à equiparação das conquistas nacionais. Se você se interessar, confira.

 P.S. 2: Não é só à CBF que a UEFA dá uma lição de justiça e postura. A uma tal de FIFA também, que no alto de sua obsessão por controle, por inúmeras vezes já “não-reconheceu”, “reconheceu” e “não-reconheceu” novamente a Copa Rio e a Copa Intercontinental como Mundiais de Clubes. O que, de fato, as duas competições foram.


Sete perguntas de leitores para Arlindo Chinaglia
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Torero

Caro deputado Arlindo Chinaglia,

agradeço pela resposta à carta aberta publicada neste blog, aliás muito bem escrita e com bom humor.

Curiosamente, a carta e sua resposta tiveram mais leitura e comentários do que a maioria dos textos sobre futebol, mesmo estando nós na reta final do Campeonato Brasileiro.

Creio que o assunto interessou tanto aos leitores porque a Copa é uma poderosa metáfora de um novo e possível Brasil, uma chance de mudar a idéia que temos de nós mesmos. A Copa poderá dizer se somos ainda um país pouco sério, onde o importante é levar vantagem em tudo, ou estamos conseguindo evoluir em consciência pública, honestidade, etc…

Pois bem, como muitos leitores queriam mais explicações sobre a Copa, benefícios fiscais, transparência e fiscalização, pedi que eles formulassem suas dúvidas sobre o assunto. Chegaram centenas de perguntas. Selecionei sete, o número da camisa de Garrincha. 

Vou publicá-las logo abaixo e enviá-las ao seu email, a fim de continuar este diálogo internético-missivista sobre um assunto que tanto interessa aos brasileiros. 

1-) Há algum dado que demonstre que Copa do Mundo realmente traz benefícios? 

2-) Prestação de contas depois da Copa não é pouco? Ela não seria mais útil se acontecesse durante a preparação para a competição? A Câmara tem algum movimento neste sentido? Haverá uma comissão especial para fiscalizar as obras e gastos públicos com a Copa? 

3-) Nos últimos 16 anos, as medidas provisórias se tornaram uma rotina. E quase nunca encontram objeção. Se a Câmara tem papel de fiscalizar o poder executivo, por que há receio de derrubar uma Medida Provisória? Isso não conflita até a necessidade de ter um Congresso? 

4-) O documento da Fifa que propõe que a importação seja livre, ou seja, que pede perdão fiscal e, em última instância, dinheiro público, está disponível para a população?

5-) Provavelmente o Ministério do Esporte fez um estudo a respeito dos ganhos e custos com a Copa, como empregos gerados, aumento de receitas, ganhos com turismo, custo das obras, renúncia fiscal, etc. E provavelmente a Câmara fiscalizou isso, com um segundo estudo, independente. Poderíamos ter acesso a um link, cópia ou algo assim? 

6-) Qual a lógica de tratar de renúncias de arrecadação em um momento em que já se discute, no período pós-eleitoral, alternativas para financiar as reais carências do Brasil (leia-se boatos sobre o retorno da CPMF)? 

7-) Se há meios de se melhorar a infraestrutura para a Copa, é sinal de que há condição de se fazer isso sem a Copa. Por que tivemos que esperar por ela?

No aguardo de suas respostas, José Roberto Torero e leitores.


Vencedores da toreroteca
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Torero

Depois de acuradas análises e científicos unidunitês, cheguei aos vencedores da toreroteca.

Antes de revelar os gloriosos premiados, digo-vos que foram muitas as boas idéias, e quem não leu as propostas dos leitores pode ir até lá e rir um bocado.

Bem, na categoria não-finalista, o livro (A Década de Ouro) vai para Carlos Eduardo Souza, com seu Corinthians Beneficiation Football. Ele foi o que mais teve votos dos próprios leitores do blog e, como a voz do internauta é a voz de Deus, não sou eu quem vai desprezá-la.

Na categoria originalidade (que lembra concurso de fantasia de carnaval), o livro (Dos sonhos e seus efeitos colaterais) vai para as mãos de Paulo Souza, que escreveu todo seu email com palavras começadas com “c”, “b” e “f”, nesta ordem, o que não é nada fácil. Depois outros fizeram o mesmo, mas o email dele foi o primeiro e mais longo.

Por fim, na categoria finalistas, tivemos uma disputa ótima. Átila (“Copa no Brasil é Furada”) e José Mendes (“Cartolas Bem Felizes”), por exemplo, conseguiram boas tiradas, mas o prêmio vai para aquele que se assina Alan – Palmeiras.

Alan mandou nada menos do que 60 sugestões (sim, contei uma por uma). Como se isso não bastasse, ele ainda torce para o Palmeiras. E os palmeirenses hoje merecem carinho, solidariedade e piadas.

Alan fica com os “Escudos do times do mundo inteiro”.

Mandem vossos endereços.


Pacaembuazo!
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Torero

Texto de Al-Chaer

Porque é Futebol, nem sempre o melhor vence.

Porque é Futebol, não se vence antes da partida.

Porque é Futebol, chamadas de TV não ganham jogo.

Porque é Futebol, “replay” não altera resultado.

De um lado, meu Goiás, após o vexame (anunciado) do rebaixamento para a Série B, jogando lá no Pacaembu, na partida de volta da semifinal da Sulamericana, com o placar em desvantagem: um jogo que começava 0 a 0, mas que já estava 1 a 0 para o Palmeiras (resultado do jogo de ida, no Serra Dourada).

De outro lado, o Palmeiras, que “priorizou” a Copa Sulamericana, junto a 40 mil torcedores. Do “vitorioso” Felipão. FA-VO-RI-TO. Um simples empate lhe daria a classificação à Final.

Favorito até nas chamadas da TV Globo. Só faltou a TV Globo decretar W.O. favorável ao Palmeiras. Nas chamadas, parecia que somente o Palmeiras jogaria, parecia que somente o time do Palmeiras estaria em campo, parecia que não haveria um adversário em campo, para enfrentar o Palmeiras.

Uma boa comparação do que foi a partida de volta da semifinal da Sulamericana pode ser feita com uma luta de boxe. De um lado, o “Campeão”, de outro, um mero “sparring”.

O “Campeão” começou batendo, mostrando sua força. E não diminuía o ritmo. Acuava o “sparring” junto às cordas e este se defendia. Só defendia. Tudo caminhava para a felicidade do narrador: o nocaute do “sparring” estava próximo.

Quando o Palmeiras abriu o marcador, o que seria 2 a 0 no placar agregado, aí que tudo ficou “do jeito que eles queriam”, com a possibilidade de o Palmeiras “favorito” enfiar uma goleada sobre um Goiás “fraco e sem chances”.

Mas, sabem aquela do “queixo-de-vidro”? Pois é, tem isto em luta de boxe.

No primeiro tempo, o Goiás – que só tinha dado um chute a gol (Rafael Moura chutou de fora da área, no travessão) -, empatou após cobrança de falta de Marcelo Costa, que também bateu no travessão, com Rafael Tolói recolocando a bola na área, desvio de cabeça de Rafael Moura, que Carlos Alberto concluiu para dentro. Era o final do primeiro tempo, que terminava empatado (aliás, 2 a 1 para o Palmeiras, no placar agregado).

Veio o segundo tempo. Arthur Neto “leu o jogo”: colocou o atacante Felipe no lugar do lateral Douglas. Básico. Mas inteligente: o lateral Douglas era a única peça da defesa do Goiás que não correspondia; até o tal do Wellington Saci jogava melhor que o Douglas! Carlos Alberto foi deslocado para a lateral direita e o Goiás partiu para cima, com um atacante a mais.

O que se viu foi o “Campeão” tonto, após o soco no queixo (de vidro!) e o “sparring” tomando controle da “luta”, gostando de bater e se defendendo com eficiência.

Só deu GOIÁS no segundo tempo. E era uma questão de tempo o segundo gol do Goiás. Ernando fez de cabeça aos 37 minutos do segundo tempo. E o “campeão” (do “queixo-de-vidro”) dobrou os joelhos.

E um Pacaembu ficou mudo.

Antes da partida, quase deram W.O. favorável ao Palmeiras.

No final, deu G.O. (Game Over para as chamadas da TV Globo).

Porque é Futebol.

E no Futebol, depois do jogo, o favorito é o placar.

Caríssima Leitorcedora Esmeraldina, caríssimo Leitorcedor Esmeraldino, que vitória, hein?!

Que orgulho !!!
AL-Braço
AL-©haer

http://futeb-al-chaer.blogspot.com/2010/11/p-c-e-m-b-u-z-o-porque-e-futebol.html


A tristeza do primeiro gol perdido
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Torero

(Hoje, no Velharias, um texto que nem sei por que escrevi)

Velhos amigos, Barba e Cabelo se encontram todo sábado à tarde, pontualmente às 17h, em sua mesa de sempre no Bar Rigão.

Barba trabalha numa fábrica de amortecedores, Cabelo é advogado. Barba tinha esse apelido porque quando tinha 20 anos tinha uma espessa barba. Cabelo, porque aos 20 tinha cabelos compridíssimos.

Agora os dois têm 40. Barba não têm mais barba, e Cabelo não têm mais cabelo. Mas Cabelo tem barba, e Barba, cabelo.

Barba chegou primeiro. Doze segundos depois, chegou Cabelo. Estavam ambos cabisbaixos, com grandes olheiras. Cumprimentaram o garçom com um rápido aceno de cabeça. Barba pediu:

“Um rabo-de-galo, Durval. Hoje eu quero encher a cara!”

“Pra mim também. E duplo!”

Barba e Cabelo olharam-se meio desconfiados, assustados com a coincidência. Barba, para quebrar o gelo, iniciou uma conversa. “É, meu amigo, aconteceu-me um desastre!”

“Empatou! Para mim, também aconteceu um desastre. Aliás, desastre não. Catástrofe!”, respondeu o exagerado Cabelo.

“Não fiz, cara! Eu, Barba, não fiz! Pensava que isso nunca fosse acontecer comigo…”

Cabelo arregalou os olhos e teve que disfarçar um engasgo com o primeiro gole da bebida. “Contigo também? Que coincidência…”

“Ontem à noite, velho.”

“Pode um negócio desses?! Foi ontem à noite comigo também!”, exclamou Cabelo em voz alta.

“Falhou?”, perguntou Barba.

“Falhei…”, respondeu Cabelo.

“Não conseguiu?”, perguntou Barba. “Não…”, respondeu Cabelo cabisbaixo. Durval, sem que os dois precisassem pedir, trouxe mais dois rabos-de-galo.

“É duro!”, comentou Barba.

“Antes fosse…”, rebateu Cabelo.

“Eu não entendo! Não podia acontecer!”, disse Barba, com voz de choro. “Ela estava ali, parada, me esperando!… Eu vim firme, dei aquele impulso e fui com tudo! Sei lá, faltou concentração.”

“Oh, meu Deus, nem fala!”, emendou o amigo, já com os olhos mareados. “Dá um desconsolo na gente que não é fácil. Eu nem peguei no sono depois.”

“Eu nunca tinha falhado, Cabelo, nunca.” “Nem eu. Foi minha primeira vez. Quase chorei.”

“Cara, eu fiz tudo como manda o figurino. Fui lá, olhei para ela, ajeitei com carinho…”

“Elas gostam dessas frescuras, Barba. Tem que fazer.”

“Pois eu não fiz, Cabelo? Tudo do jeito de sempre! Aí, concentrei-me, fui com tudo e mandei bala. Mas…”

“Eu sei o que é isso, eu sei… Eu também nunca tive problemas, mas na hora H as pernas bambearam, deu uma tremedeira, e lá se foi. Pfiu. Eu não me conformo, eu não me conformo!”

Os copos já estavam vazios. Após um breve silêncio, Cabelo deu um profundo suspiro e continuou: “É, meu velho, o tempo chega para todo mundo…”

“Acaba a pontaria…”

“A força…”

“A impulsão…”

“A capacidade de recuperação…”

“O fôlego…”

“O poder de penetração…”

“É…, futebol é fogo, Cabelo.”

“Peraí, Barba! Futebol?”

“É. Tô falando do pênalti que perdi ontem na final do campeonato da fábrica. Primeira vez!”

“Ah!…, pênalti, é?”

“Claro! Do que você pensou que eu estava falando?”

“Deixa pra lá, Barba…”

Durval, sem ninguém pedir, trouxe mais dois rabos-de-galo.


Piada para irritar corintianos
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Torero

Paul McCartney caiu durante o show no Morumbi e não aconteceu nada.

Se fosse no Pacaembu, era pênalti para o Corinthians.