Blog do Torero

Arquivo : December 2010

Toreroteca do gol campeão
Comentários Comente

Torero

Quem fará o gol campeão?

Esta é a pergunta da toreroteca de hoje.

Será Ronaldo aos 17’ do primeiro tempo?

Será Fred aos 3’ do segundo?

Será Wellington Paulista na prorrogação?

É claro que a coisa pode ser mais complicada. O Fluminense pode ganhar de 4 a 0, e nesse caso o gol campeão seria o do 1 a 0. Ou então o Guarani pode vencer (em tempo, acho a mala branca algo aceitável) e o Corinthians ficar no zero a zero. Nesta hipótese, o gol campeão seria de alguém do time campineiro.

Mesmo que ninguém acerte na mosca, inventarei uma regra e mandarei o prêmio para um dos apostadores. Aliás, o livro é este aqui:

Por que um livro sobre o Fluminense? Porque ele é o mais provável campeão, ainda mais que o Marcio Rezende de Freitas já se aposentou (o Simon, juiz de Fluminense x Guarani, às vezes erra, mas não tanto).

Mande aí seu palpite.

O meu é Conca, aos 22’ do primeiro tempo.


Sempre às sextas: E o “Prato de Comida” vai para…
Comentários Comente

Torero

 Texto de Marcio R. Castro

A última rodada do campeonato, finalmente. Além da luta pela vaga na Libertadores e da briga para se manter na primeira divisão, uma acirradíssima disputa pelo título. Nada mal. 

Mas eu gostaria que outra taça também estivesse em jogo nesse domingo. Uma que não fosse conquistada dentro das quatro linhas, mas ainda no vestiário: o inestimável troféu “A Bola Tem Que Ser Um Prato de Comida”, destinado aos representantes da nobre arte de motivar jogadores.

É mesmo uma pena que as palestras motivacionais dos treinadores não sejam televisionadas, ao vivo. Ou filmadas em película. Depois de saírem de cartaz, transformadas em DVD e colocadas à venda. Não entendo por que nos privam desse espetáculo curioso e grotesco.

A reação dos jogadores seria um capítulo à parte. Dos poucos constrangidos aos muitos com a pele toda arrepiada com aquelas tocantes palavras, todos renderiam extras preciosos, ainda que hilários. 

Trilhas sonoras melosas, trechos de filmes edificantes, visitas de padres e pais-de-santo, Içamis Tibas diversos, cartas de familiares, faixas de campeão distribuídas antecipadamente, dinâmicas de grupo, recortes de jornal. Vale de tudo um pouco para inflamar o elenco, para conseguir aquele algo mais. Qualquer frase vira menosprezo do adversário, toda opinião da imprensa é uma afronta à honra (e uma arma singular a serviço dos motivadores).

Pelo visto, tais estratégias realmente surtem efeito na maioria dos boleiros. No fim das contas, talvez seja só mais um aspecto do ambiente infantilóide em que vivem os jogadores de futebol. Paparicados e controlados em regime de internato, muitos parecem crianças abobalhadas, que se impressionam facilmente com discursos manipulativos e lotados de clichês.

Imagino que os mais veteranos até achem graça dos “professores” e suas táticas mirabolantes de motivação. Ou não, já que muitos deles, ainda em atividade, assumem o papel bravamente.

Por isso, fiquemos tranquilos: novas gerações continuarão surgindo para mexer com os brios dos nossos craques. Só nos resta torcer para que, algum dia, tenham mesmo a ideia de televisionar.


Sete respostas de Arlindo Chinaglia
Comentários Comente

Torero

(O deputado Alindo Chinaglia respondeu as sete perguntas feitas por leitores aqui do blog. Eis as respostas)

Caro José Roberto Torero,

Agradeço pelas generosas palavras. Ao redigir a resposta, sábado passado, estava em Monte Aprazível a trabalho.

Leio sua coluna sempre que posso e admiro. Concordo com suas observações quanto ao porquê de o tema ter atraído a atenção de mais leitores do que matérias relativas ao próprio futebol.

Isto sempre reforça a esperança de que, cada vez mais, as pessoas participam da vida política e social do País.

Agradeço, ainda, a boa seleção de perguntas. (Garrincha jogou também no Corinthians).

Vamos às perguntas e às respostas.

 

1) Há algum dado que demonstre que Copa do Mundo realmente traz benefícios?

Trabalhamos com os dados disponibilizados pelo Ministério do Esporte, que aponta os seguintes benefícios:
– investimentos em infraestrutura: R$ 33 bilhões:
– turismo incremental: R$ 9,4 bilhões
– geração de empregos: 330 mil permanentes e 380 mil temporários
– aumento no consumo das famílias: R$ 5 bilhões;
– arrecadação de tributos: R$ 16,8 bilhões
Tal estudo encontra-se disponível a partir do link abaixo:
http://www.esporte.gov.br/arquivos/assessoriaEspecialFutebol/copa2014/estudoSobreImpactosEconomicosCopaMundo2014.pdf

2) Prestação de contas depois da Copa não é pouco? Ela não seria mais útil se acontecesse durante a preparação para a competição? A Câmara tem algum movimento neste sentido? Haverá uma comissão especial para fiscalizar as obras e gastos públicos com a Copa?

Para determinados objetivos, a exemplo da conferência dos resultados mencionados na resposta anterior, só é possível ao final das Copas (das Confederações e do Mundo).

Isso não exclui outras iniciativas, principalmente para fiscalizar a realização de processos licitatórios ou a ausência deles, preços praticados, para saber se são ou não compatíveis com os de mercado, aditamento de contratos etc. Nesse sentido, a legislação brasileira já prevê atribuições a órgãos como o Ministério Público ou o Tribunal de Contas da União.

Na Câmara dos Deputados, foi criada, na Comissão de Fiscalização e Controle, uma Subcomissão para Acompanhamento, Fiscalização e Controle dos Recursos Públicos Federais Destinados à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016

3) Nos últimos 16 anos, as medidas provisórias se tornaram uma rotina. E quase nunca encontram objeção. Se a Câmara tem papel de fiscalizar o poder executivo, por que há receio de derrubar uma Medida Provisória? Isso não conflita até a necessidade de ter um Congresso?

Quando a Constituição foi editada, vinte e dois anos atrás, podiam ser editadas medidas provisórias sobre qualquer assunto, com infindáveis reedições.

A Emenda Constitucional n. 32/2001 extinguiu a reedição de medidas provisórias, estabeleceu a proibição de que elas regulassem determinadas matérias (a exemplo de normas relativas a cidadania, nacionalidade, questões orçamentárias, poupança popular) e determinou o trancamento da pauta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal após decorridos 45 dias de sua edição.

É certo que o sistema ainda possui imperfeições, tanto assim que, em 2008, quando presidia a Câmara dos Deputados, trabalhamos e foi aprovada em primeiro turno Proposta de Emenda Constitucional que buscava aprimorar ainda mais as regras relativas à edição e tramitação das medidas provisórias. Tal Proposta ainda não foi votada na Câmara dos Deputados em segundo turno. Este é um tema em permanente debate, pelo menos para alguns.

Quanto à utilidade do Congresso, ele sempre é necessário e precisa ser fortalecido, pois é o Poder mais democrático e representativo das muitas opiniões existentes na sociedade.

4) O documento da Fifa que propõe que a importação seja livre, ou seja, que pede perdão fiscal e, em última instância, dinheiro público, está disponível para a população?

Não sei se todas as informações estão disponíveis para a população. Até porque, na elaboração do relatório da medida provisória, busquei ter acesso a diversas informações e não as obtive por escrito, mas apenas verbalmente.

O que está disponível para o público é uma síntese dos compromissos assumidos pelo Brasil com a Fifa, disponibilizado pelo Ministério do Esporte conforme link abaixo:

http://www.esporte.gov.br/arquivos/assessoriaEspecialFutebol/copa2014/garantiasGovernamentais.pdf

As medidas tributárias mencionadas no referido documento são aquelas constantes do Projeto de Lei n. 7.422/2010, incorporadas no relatório da medida provisória, bem como as previstas no Projeto de Lei Complementar n. 579/2010, que autoriza os Municípios e o Distrito Federal a concederem isenção de ISS à Fifa e a outras pessoas relativamente a serviços prestados relacionados com a Copa das Confederações e com a Copa do Mundo.

5) Provavelmente o Ministério do Esporte fez um estudo a respeito dos ganhos e custos com a Copa, como empregos gerados, aumento de receitas, ganhos com turismo, custo das obras, renúncia fiscal, etc. E provavelmente a Câmara fiscalizou isso, com um segundo estudo, independente. Poderíamos ter acesso a um link, cópia ou algo assim?

Sem ter todos os dados disponíveis, fica impossível qualquer estudo independente. Por essa razão é que optamos por incluir no relatório e foi aprovada a prestação de contas ao final da Copa do Mundo, ocasião em que a Câmara dos Deputados poderá comparar os resultados efetivamente obtidos com aqueles inicialmente previstos pelo Ministério do Esporte.

6) Qual a lógica de tratar de renúncias de arrecadação em um momento em que já se discute, no período pós-eleitoral, alternativas para financiar as reais carências do Brasil (leia-se boatos sobre o retorno da CPMF)?

Na medida em que o Brasil se candidatou a sediar uma Copa do Mundo e assumiu compromissos com a Fifa, entendemos que tais compromissos devem ser honrados. Além disso, os benefícios fiscais relacionados com as Copas são transitórios. Por fim, há que se observar que, segundo as estimativas feitas pelo Ministério do Esporte, a renúncia fiscal é da ordem de 300 milhões de reais, ao passo que o aumento de arrecadação estimado é da ordem de 16,8 bilhões de reais. Portanto, o Estado vai arrecadar quase cinquenta vezes mais do que a renúncia fiscal estimada.

7) Se há meios de se melhorar a infraestrutura para a Copa, é sinal de que há condição de se fazer isso sem a Copa. Por que tivemos que esperar por ela?

Até agora, não se fizeram determinados investimentos em infraestrutura por falta de recursos ou porque foram considerados prioritários outros investimentos, inclusive relacionados com infraestrutura, a exemplo do Programa de Aceleração do Crescimento.

Acredito que um evento como a Copa obriga um trabalho articulado das 3 esferas de governo. Acredito, ainda, que terá um efeito mobilizador de recursos e investimentos, inclusive da iniciativa privada, visto que acaba sendo criado um grande mercado consumidor. A conferir.


“A Divina Comédia” do futebol
Comentários Comente

Torero

O leitor certamente já ouviu falar de Dante. Não, não aquele meia que jogou na Ferroviária na década de 50.

Falo de Dante Alighieri (1265-1321), o autor de “”A Divina Comédia”, livro em que ele conta como seriam o inferno, o purgatório e o paraíso.

Pois bem, há alguns dias, antes de dormir, li “”A Divina Comédia”, comi uma feijoada e passei os olhos pelas páginas esportivas desta Folha. Tal combinação gerou um sonho esquisitíssimo, em que eu andei pelos nove círculos do inferno. Mas não um inferno comum. Tratava-se de um inferno futebolístico, no qual em cada círculo havia um tipo de pecador e uma punição diferente. Aliás, nesse inferno não havia círculos, mas campos de futebol.

No primeiro campo estavam os jogadores covardes, aqueles que não têm coragem de dividir uma bola. O seu castigo era ser aguilhoados eternamente por moscas e vespas.

No segundo estavam os fominhas, aqueles que não passam a bola jamais, que tentam partir para cima dos zagueiros e acabam desperdiçando o lance. Esses eram fustigados por um vento constante e inclemente e jamais conseguiam encostar na bola.

No terceiro encontrei os fazedores de cera, os que inventam contusões e ficam atrasando partidas. O castigo desses era machucar-se de verdade a todo instante e sentir dores tão terríveis quanto às que simulavam.

No quarto campo havia os armandinhos. Eles eram forçados a jogar uma partida interminável, sem intervalo nem nada, só tocando a bola de lado, um para o outro, o outro para o um. Um jogo infindável e estéril, no qual jamais havia um drible ou um chute a gol.

No quinto círculo deparei-me com aqueles que deram carrinhos por trás. Esses tinham que jogar num campo de gelo, de modo que jamais conseguiam ficar em pé. E, se um pensasse em ficar deitado, Lúcifer, juiz daquela partida, espetava-o com um tridente.

No sexto ficavam os árbitros que inventam pênaltis e não marcam impedimentos claros, mais ou menos como os que tiraram do Santos o Campeonato Brasileiro de 95. Esses eram colocados no círculo central, cercados por cem diabretes, cada um com um apito, e esses sopravam na orelha daqueles por toda a eternidade.

No sétimo campo vi os torcedores que brigam em estádios e praticam vandalismo. Sua pena era ficarem algemados às arquibancadas vendo um interminável jogo de seu maior inimigo. Presenciei, por exemplo, uma multidão de camisas verdes assistindo a um jogo do Corinthians.

O oitavo campo era a morada dos empresários desonestos. Mas esses não jogavam. Seu castigo é que foram transformados em traves e passavam a eternidade levando boladas.

Pior era o nono e último círculo, destinado aos dirigentes corruptos. Esses perderam seus corpos, e suas cabeças eram usadas como bolas de futebol.

Depois, passei pelo purgatório, onde ficavam os pernas-de-pau, e, então, finalmente cheguei ao paraíso.

Ali, na beira do gramado, aquecia-se o seguinte time: Yashin; Carlos Alberto, Figueroa, Bobby Moore e Nilton Santos; Beckenbauer e Cruyff; Garrincha, Maradona e Pelé. Foi quando Pelé pegou a camisa 11 e falou para mim: “”Você se importa de completar o nosso time? O Rivellino está atrasado”.”

Foi um bom sonho.