São-silvestrinas
Torero
Durante a corrida pude colher algumas histórias. Quatro delas:
1-) Os dois já têm certa idade. Ele é um negro alto e forte, com um bigode imponente. Ela, baixinha e com ar decidido. Ele veio do Rio. Ela, do Ceará. Os dois viajaram para São Paulo em 2006 para participar da prova e ficaram no mesmo hotel. “A gente já se pegou antes da prova”, ela explica. Os dois acabaram se casando e correm a prova inteira lado a lado.
2-) Todo ano Zaguinha corre com Nossa Senhora nas costas. Mas só isso seria muito fácil, então ele também vai fazendo embaixadas pelo caminho. Teve um ano em que foi controlando a bola durante todo o percurso. Demorou duas horas e meia, mas diz que não a deixou cair. “Para quê pressa, eu não vou ganhar mesmo?”
3- No meio da prova, uma senhorita alta me alcança, olha para a câmera em minha cabeça e pergunta se eu estou fazendo uma filmagem. Respondo que sim e ela começa a me contar sua história: “Eu corro para provar que não morri. É que eu mudei do meu bairro e todo mundo começou a dizer que eu tinha morrido. Mas eu não morri, tanto que estou aqui”. Depois me distraí um pouco e, quando olhei de novo, ela não estava mais do meu lado.
4-) Jirinaldo correu com uma capa e um chapéu de papelão. A capa era uma propaganda de plástico de Paulo Maluf. E no chapéu estava escrito: “Judas traiu Jesus e o povo traiu Maluf. O povo virou Judas”. Pergunto por que ele é malufista e Jirinaldo me explica que não acredita em nada, nem em Deus, mas acredita em Maluf. Pergunto sobre a honestidade de seu ídolo e ele rresponde: “Maluf nunca foi condenado a nada. Ou ele é honesto ou a justiça do Brasil não presta.”