Blog do Torero

Categoria : Futebol

Atores da bola
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Torero

Quem finge melhor uma contusão?

( ) Rojas

( ) Rivaldo

( ) Neymar

( ) Dagoberto

( ) Serra


Como foi e o que decidiu o encontro da ANT
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Torero

Amigxs,

aconteceu com sucesso a reunião de fundação do núcleo São Paulo da Associação Nacional dos Torcedores, na Praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu. Apresento aqui um breve relato do que aconteceu.

Desde às 18h, já havia gente nas imediações do Pacaembu esperando pela reunião. Entre essas pessoas, estavam o Jorge “Vardemá” e eu (Danilo “Mandioca”), que em conjunto articulamos essa primeira reunião. Estava também o Chris Gaffney, estadunidense e fundador da ANT-RJ, a primeira de todas. Logo chegaram outras pessoas e ficamos a ouvir o Chris contar da experiência do Rio. Aproveitamos também pra tentar rascunhar uma proposta de manifestação pro dia 24, no mesmo Pacaembu, durante o derby Corinthians x Palmeiras.

Por volta da 20h, mais e mais pessoas foram chegando. Quando começamos a reunião, às 20h30, éramos em pouco mais de 30. Logo de início um primeiro obstáculo: de segunda-feira acontece um insólito uso da praça por amantes de carrinhos de controle remoto, MUITO barulhentos, de modo que na roda de apresentação de todos era difícil nos escutarmos. Na dúvida entre chutar todos os carrinhos e mudar de lugar, resolvemos pela segunda opção. E aí veio a primeira amostra de como será difícil a nossa luta.

Fomos para o hall de entrada do portão principal do Pacaembu. Não íamos entrar no estádio. Porém, mal paramos e o segurança do estádio veio nos dizer que não poderíamos ficar ali, “só da marquise pra lá”. Tentamos argumentar de que só faríamos uma reunião, mas ele, imbuído da sensação de poder que toma toda autoridade, começou a nos destratar e ameaçar. Um outro segurança chegou e perguntou à ele se “queria que pegasse as coisas lá dentro”. A princípio, quisemos pagar pra ver e nos sentamos no chão pra começar a reunião. Mas ele voltou a nos ameaçar com a chamada da PM e ficamos entre confrontar a postura autoritária e não fazer a reunião ou irmos até o escadão no meio da praça e realizá-la lá. Acabamos optando pela segunda opção. De cara, já ficou explícito que lutar pelo espaço público em São Paulo não será nem um pouco fácil.

Uma vez no escadão, mais pessoas chegaram. Chris apresentou a ideia da ANT, o que os levou a fundá-la, e a partir disso, até pelo horário, começamos já a pensar na organização da manifestação do dia 24. Falamos, ouvimos, opinamos e chegamos a uma conclusão (que depois será postada com mais destaque). Por fim, lemos um manifesto de criação pré-escrito pelo Jorge e por mim, ouvimos as sugestões de alteração, acréscimos e decréscimos no texto, as fizemos coletivamente (o texto será enviado depois) e arrecadamos grana pra confecção das camisetas para domingo (o total arrecadado foi de R$ 164,10).

No geral, a reunião foi bastante clara e objetiva, sem atropelos nem grandes desentendimentos. Ficou bem claro que alguns pontos são divergentes e precisarão ser conversados em reuniões futuras, pouco a pouco, e que São Paulo terá uma pauta específica diferente da do RJ (o que era de se esperar), já que a repressão em nossos estádios vai além da que acontece no Rio, pra começar.

Estiveram presentes torcedores de Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Portuguesa, Santo André, Juventus, São Bento de Sorocaba, Bragantino e Vasco. Membros da Esquadrão Andreense, torcida do Santo André, e da Gaviões da Fiel Torcida – Movimento Rua São Jorge, do Corinthians, marcaram presença. Quanto à relação entre ANT e TO’s, inclusive, ficou claro que a ANT é aberta a TODOS os torcedores, incluindo os de TO, mas que ela não se vinculará a nenhuma TO em específico, permanecendo sempre independente. Os membros das TO’s presentes estiveram de acordo e se declararam ali pra contribuir trazendo o que tem de aprendizado (MUITA coisa) nas TO’s, e também pra levar de volta à elas o que tivermos de aprendizado na ANT.

Agora, será criado um blog específico da ANT-SP e uma lista de discussão também específica. A princípio, estarão nela os presentes na reunião. Quem tiver interesse em participar dela, favor declarar aqui.

A próxima reunião, ainda sem data, será utilizada para definirmos as comissões internas da ANT-SP.

É isso, acho. Desculpem se me alonguei. Complementem os que estiveram presentes, por favor.

Abraços,

Mandioca.

Manifesto de fundação – ANT-SP

 

No último dia 10 de outubro, um grupo de torcedores iniciou no Rio de Janeiro algo que deveríamos ter feito há anos: uma Associação Nacional dos Torcedores.

A ANT, como foi batizada, é a realização de uma necessidade básica: a de reivindicarmos nossos direitos. Há anos no Brasil que a cultura torcedora vem sendo desrespeitada. Setores populares extintos, preço dos ingressos exorbitante, horários dos jogos refém das redes de televisão. Com a Copa do Mundo de 2014 no horizonte, então, os prognósticos não são nada animadores: os novos estádios projetados parecem mais teatros para a elite, shoppings para o consumo, do que espaços para o exercício da cultura torcedora. Sem falar na remoção de milhares de famílias para a construção desses novos elefantes brancos. O que está em processo é a criminalização da pobreza.

Em São Paulo, mais do que no restante do país, sentimos na pele essa nova realidade: nossos estádios são os mais repressivos do Brasil. Não pode bandeira, nem camiseta com frases políticas, nem pirotecnia. Nem mesmo jornal e papel picado são permitidos nas arquibancadas paulistas. Já passou da hora de agirmos.

Assim, nós, abaixo assinados, damos aqui o pontapé inicial no núcleo de São Paulo da ANT. Nos unimos e nos organizamos pela permanência da cultura torcedora, pela compreensão de que somos muito mais que consumidores, somos protagonistas e sujeitos históricos do futebol brasileiro. Se querem reformar nossos templos, que nos consultem antes. Se querem construir novos estádios, que sejam estádios coerentes com o que nós torcedores queremos.

Não somos pioneiros. Associações como a ANT existem em diversos países do mundo. Na Alemanha, por exemplo, os torcedores unidos e organizados conseguiram inclusive deter o processo modernizador e elitizador que hoje vemos por aqui e garantir aos torcedores setores populares onde ainda se pode assistir ao jogo de pé, cantando e dançando, como sempre fizemos.

Assim, chamamos aqui todos os que desejam um futebol popular de fato a juntar-se a nós. A Associação Nacional dos Torcedores não é uma torcida organizada, não tem clube, não defende interesses de cartolas ou de partidos políticos. Somos, sim, uma organização de torcedores de todo clube, classe e estirpe, pela defesa dos interesses daquilo que nos torna comuns uns aos outros: sermos torcedores.

Sem torcedor não há futebol, e sem futebol não há alegria.
São Paulo, 18 de outubro de 2010.
Associação Nacional dos Torcedores – Núcleo São Paulo

www.torcedores.org


Duas perguntas
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Torero

1-) Se Ronaldo estivesse um pouco mais magro, ainda estaria impedido?

2-) O slogan do candidato é “Serra é do Bem” ou “Serra é do Dem”?


ABC do fim de semana
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Torero

Alencar: Se o cearense José de Alencar fosse torcer para um time hoje, seria o Guarany-CE. E ele estaria contente, pois sua equipe subiu para a Série C ao vencer, de virada, o Vila Aurora. 

Benazzi: O novo técnico do Avaí terá a difícil missão de impedir seu rebaixamento. Ainda mais que o time entrou no B-4. E pensar que o time teve uma fase tão boa com Antonio Lopes…

Cruzeiro: Tomou uma virada do Grêmio. Perdeu o jogo mas não a liderança.

Dragão: Venceu o Vasco e conseguiu sair da zona de rebaixamento.

Empate: Os torcedores do fluminense devem lamentando o contra o Botafogo. Era a chance de assumir a liderança. Mas foi um resultado justo até na opinião de Muricy.

Falta: Deixe com Marcos Assunção. Fez mais um gol deste jeito. Uma contratação muito esperta do Palmeiras. Mas o Ceará conseguiu o empate. Sem Kleber e Valdivia, o Palmeiras é um time sem graça.

Goleador: Jonas tem vinte gols, quase o dobro do segundo artilheiro do Brasileirão, o corintiano Bruno César, com 11.

Huanderson é o herói da semana. Ele é o goleiro do Araguaína e pegou três cobranças na decisão por pênaltis contra o Uberaba, classificando seu time para a Série C em 2011.

Ituiutaba: O jovem clube, de apenas 12 anos, subiu para a Série B do Brasileiro. Em compensação, caiu para a B do Mineiro.

Joinville: Só empatou com o América-AM e perdeu a chance de subir para a Série C. Os catarinenses estão morrendo na praia, pois o Chapecoense também chegou perto mas não subiu de divisão.

Libertadores: O Santos é bicampeão no feminino e agora já tem quatro taças continentais.

Maurine: É minha musa no futebol feminino. Além de bela, fez o gol decisivo na final contra o Everton, aos 44´do segundo tempo. Ah, Maurine…

Novidade: Coisa em falta na Série B. Lá, os quatro primeiros já se afastaram bem do quinto colocado e os quatro últimos vem longe do décimo-sexto. Ou seja, Coritiba, América-MG, Figueirense e Bahia têm boa chance de subir e Ipatinga, Santo André, Brasiliense e América-RN, de descer.

Ombro-a-ombro: lado a lado, em condições de igualdade. Qual o time que mais empatou no campeonato? O Botafogo. Quinze vezes. A metade dos jogos (e até nisso há empate). Em compensação foi o time que menos perdeu.

Paulo César Carpeggiani: Já tinha feito um bom trabalho de recuperação no time do Atlético-PR e agora vem repetindo a dose no São Paulo.

Quarenta e sete: Foi quando saiu o quarto gol do São Paulo. Bah!

Ronaldo: Em fase caipora. Demorou para voltar e, quando voltou, teve seus gols anulados.

Surpresa: O S também poderia ser de Salgueiro, que venceu o Paysandu em Belém ( o Paysandu precisa apenas de um zero a zero) e se classificou para a Série B. O Salgueiro é um raro caso de time novo que conseguiu uma torcida e bons resultados ao mesmo tempo.

Tocantins: Com o Araguaína, o futebol do estado conseguiu um acesso inédito.

Última rodada: Será no dia 5 de dezembro, quando os três líderes atuais enfrentarão três times verdes: Flu x Guarani, Cruzeiro x Palmeiras e Corinthians x Goiás. E eis aí uma informação bem pouco útil.

Vinte minutos: Foi o quanto São Paulo e Santos demoraram para fazer cinco gols.

Xis: Para os cruzeirenses, o xis do problema foi a arbitragem de Paulo César Oliveira. Também não entendo por qual motivo ele é tão badalado

Zé Cabala: O desta semana foi Rodrigo Domingues, que foi o primeiro a acertar os resultados dos jogos da Série D e ganha os livros. Errou os placares, é verdade, mas aí já era querer demais.


Convite
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Torero

Bom dia a todos.
 
A ANT (Associação Nacional dos Torcedores) está em busca dos homens e das mulheres de bem deste país, independentemente de classe social, profissão, ideologia política, opção sexual, etc.
 
Como advogado, sinto-me na obrigação moral e cívica de fazer um sincero apelo aos colegas espalhados pelo Brasil para que abandonem a postura passiva, tão admirada pelo staus quo, e juntem-se a nós nesse humilde, de fato, mas ousado e esperançoso projeto destinado a transformar torcedores em cidadãos de verdade, seres capazes de democratizar o futebol tornando-o exemplo a ser seguido pelas demais modalidade esportivas.
 
Lanço um chamado, também, à Ordem dos Advogados do Brasil, na figura de suas comissões de Direito Desportivo, pois apenas com a união de esforços venceremos as paixões clubísticas, o corporativismo e a intolerância.
 
Eis um breve relato acerca da reunião de fundação da seccional paulista da ANT:
 
“Amigos,
 
escrevo para convidar a todos os interessados a participar da reunião de fundação da Associação Nacional dos Torcedores – núcleo São Paulo, que acontecerá na segunda, 18/10, às 20h, na Praça Charles Miller (estádio do Pacaembu), em frente ao Museu do Futebol.
 
Se você já é associado da ANT, sabe do que estou falando. Se não é, acesse  , se associe e compareça.www.torcedores.org
 
A reunião de fundação servirá para definirmos comissões – Direção e planejamento, Comunicação e divulgação, Mobilização e atividade, Jurídica, Pesquisa, Ética, Finaças e patrimônio – e planejarmos nossa primeira atividade, que a princípio está sendo pensada para o derby de 24/10 entre Corinthians e Palmeiras.
 
Estenda este convite a todos aqueles que você conhecer que sejam torcedores de futebol e concordem com a nossa missão que é, em 7 pontos para homenagear Garrincha, a alegria do povo:
  

Criar uma organização sem fins lucrativos para lutar contra:

  1. A exclusão do povo brasileiro dos estádios de futebol, fruto de uma política deliberada de diminuição da capacidade dos estádios, extinção de setores populares dos estádios e aumento abusivo dos ingressos;
  2. O desrespeito à cultura torcedora com a extinção de áreas populares como a geral, onde há uma tradição própria de participação no espetáculo que inclui assistir ao jogo de pé (o que acontece na Alemanha);
  3. A falta de transparência no futebol brasileiro, há décadas nas mãos de dirigentes incompetentes e corruptos; exigimos a democratização das decisões acerca do futebol brasileiro com a participação dos torcedores; por exemplo: as sucessivas e milionárias reformas do Maracanã, feitas sem nenhuma consulta aos torcedores;
  4. A exploração politiqueira do futebol visando eleger candidatos que aproveitam-se da sua popularidade para conseguirem mandatos contra o povo;
  5. O controle das tabelas e horários dos campeonatos na mão da rede de televisão que há décadas detém o lucrativo monopólio das transmissões televisivas de jogos de futebol; horário máximo de 20h para o início das partidas durante a semana e 17h aos domingos;
  6. Fim da retirada de comunidades de trabalhadores em nome da Copa do Mundo e das Olimpíadas;
  7. A falta de meios de transporte dignos durante os dias de jogos; exigimos esquemas especiais em dias de jogos.
 Apareçam então segunda-feira!
 
18/10 – 20h
Praça Charles Miller (estádio do Pacaembu) – em frente ao Museu do Futebol”
 
 
A semente já foi plantada; agora, nossa tarefa é fazê-la germinar e tornar-se árvore das mais frutíferas.
 
Vamos à luta!!!
 
 
Muito obrigado.
 
Daniel Carlos Melo de Jesus
São Paulo – SP
PS: Depois de várias tentativas, finalmente o convite entrou. Aproveito para convidar aos de Presidente Prudente para uma conversa amanhã, domingo, às 19h00, no Salão do Livro. 

Zé Cabala e João Sem Medo
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Torero

Ontem à tarde, quando cheguei à casa de Zé Cabala, nem precisei dizer nada.

“Você quer falar com o João Saldanha, não é, caro foliculário?”

“Exatamente, mestre! Puxa, seu poder me espanta a cada dia.”

“Sim, sou poderoso. E olhe que nem li seu blog hoje de manhã, onde você dizia que iria entrevistá-lo com minha ajuda.”

“Caramba, adivinhou o que eu vim fazer e o que eu escrevi? Incrível!”

Ele fez uma cara que não entendi e logo adentramos sua sacrossanta sala, onde há cerca de cem turbantes espalhados pelas estantes. Ele escolheu um deles, o que tem uma estrela na frente, rodou cinco vezes e depois disse:

“Vamos logo com isso!”

“Estou falando com João Alves Jobin Saldanha?”

“Sim. Em carne osso. Ou, no caso, em ectoplasma e espectro.”

“Bem, para começar, o senhor poderia contar onde nasceu, onde cresceu, essas coisas…”

“Certo, vamos à parte RG da entrevista. Nasci em Alegrete, em 1917. Mas fui criado em Curitiba. Minha casa era a duas quadras do campo do Atlético Paranaense, e aí já comecei a pegar gosto pela coisa. Depois mudei para o Rio de Janeiro. Lá joguei no Botafogo e me formei em Direito.”

“E se filiou ao partido Comunista, não é?”

“Com muito orgulho.”

“E quando o senhor começou como técnico?”

“Foi em 1957. O Botafogo me chamou, eu topei, e fomos campeões estaduais naquele ano.”

“E a seleção brasileira. O senhor foi convidado em 1969, não é?”

“Não. Já tinham me chamado quatro vezes antes. Em 1958, 1966, 1967 e 1968. Em 1969 eu aceitei.”

“Como foi o convite?”

“Um dia, o doutor Antonio do Passo apareceu na minha casa e me convidou. Não falou em contrato, em dinheiro, em nada. Só perguntou se eu queria ser o treinador da Seleção. Eu disse: Topo. Acho que a ideia deles era que, com um jornalista dirigindo a seleção, a imprensa iria criticar menos.”

“E a sua seleção foi bem?”

“Ganhamos todos os seis jogos das eliminatórias. Fora o baile. O time era: Cláudio; Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Joel e Rildo; Piazza e Gerson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu.”

“Como é aquela história da miopia famosa de Pelé?”

“Pelé, a meu ver, nunca teve problema de vista. Aquela história deve ter surgido dentro do SNI.”

“E por que depois de ganhar todos os jogos, o senhor foi demitido?”

“Palavra de honra que não sei. Porque não me deram nenhuma explicação. Mas tenho um palpite: fui convidado para a seleção brasileira no governo Costa e Silva. E Costa e Silva, estranhamente, morreu no meio do caminho. O governo mudou. Houve uma série de modificações na cúpula. E entrou o governo Médici. Daí…”

“Daí o presidente Médici pediu o Dario?”

“Presidente, não. Não o chamo de presidente da República porque costumo chamar de presidentes os que foram eleitos; não os usurpadores do poder. Então, o usurpador do poder naquele momento era o senhor Médici, que desejava popularidade e quis fazer popularidade através da seleção. Como o Dario era do Atlético Mineiro e o governo precisava de uma barretada pra Minas Gerais, quiseram botar Dario à força.”

“Como foi a pressão pelo Dario? O general Médici lhe chamou para uma conversa?”

“Não. E eu não iria. Não teria prazer em apertar a mão de um homem que tinha matado vários amigos meus – ou mandado matar ou deixado matar. Não sei nem se foi ele que mandou ou deixou. O caso é que, coincidentemente, trezentos e tantos morreram naquele governo, o mais assassino da história do Brasil.”

“Então foi uma pressão indireta?”

“A pressão era nos homens da CBD. Diziam: ‘Ou bota Dario ou sai fora’. Aí o Antônio do Passo e João Havelange diziam: ‘Pelo amor de Deus, convoque Dario, nem que seja pra ele nem mudar de roupa. Convoque pelo nome, porque vamos ficar bem com os homens e precisamos de dinheiro!’.”

“E o senhor não convocou?”

“Eu ia me avacalhar? Não mesmo. Não tenho hábito de me avacalhar e não me avacalhei.”

E depois não quiseram que o senhor fosse para a Copa nem como jornalista, não é?

“Quando eu ia sair do Brasil para o México, fui posto para fora do avião no aeroporto. Já estava com passagem comprada, passaporte, tudo certinho. Tive de ir para o México por um caminho meio Ronald Biggs. Ou seja, fui para Port of Spain, via Pará-Paramaribo. Lá, vendem umas passagens estranhas de ida-e-volta, assim numa espécie de falso turismo, porque nem precisa de passaporte nem nada. Avião de vagabundo. Fui parar lá. Comprei uma passagem com meu passaporte, tudo legal e fui para Port of Spain. Lá, peguei a Pan-American para a Guatemala e, só então, fui para o México. Cheguei três dias depois de quando tinha saído do Brasil”.

“E o que alegaram para que o senhor não embarcasse?”

“Não alegaram nada. Usaram o argumento da força. É o argumento da ditadura. Porque a ditadura faz a lei: ‘A Lei sou eu’.”

“Naquele tempo se dizia muito que o futebol era o ópio do povo. O que o senhor acha disso?”

“É errado. Futebol não é alienação nem nada: é lazer. O homem precisa de lazer. Precisa caminhar, passear, namorar, se divertir e tudo o mais. O futebol é um lazer que tem uma expressão de arte, como o tênis.”

“Arte?”

“O futebol é um ramo da arte popular. Todo mundo tem necessidade de expandir a vocação artística em qualquer coisa. Há cantor de banheiro às dúzias e jogador de futebol aos milhões. Poucos, entretanto, conseguem atingir o estrelato”, disse ele apontando para a estrela de seu turbante, com o que entendi que a entrevista tinha acabado.


                         

(Por uma grande coincidência, ontem á noite, procurando mais alguma coisa sobre João Saldanha, vi que boa parte das respostas ditas por Zé Cabala eram iguais às que João Saldanha deu ao jornalista Geneton Moraes Neto. Aliás, o site dele é ótimo, com grandes entrevistas. O link é este: http://www.geneton.com.br/archives/000171.html)


Toreroteca
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Torero

A toreroteca de hoje tem um prêmio diferente: o livro “Escudos dos times do mundo inteiro”, de Rodolfo Rodrigues (não, engraçadinhos, não é o goleiro).

É um livro bem editado pela Panda Books, em quatro cores, papel de primeira, e tem cerca de 2.500 escudos de clubes, desde o do Denizlispor, da Turquia,  até o do Alecrim, de Macaíba.

Para recebê-lo em sua casa, o leitor terá que adivinhar os vencedores dos quatro mais importantes jogos deste fim de semana. Não nada de Santos x São Paulo. Estou falando dos jogos decisivos da Série D, que indicarão os emergentes que irão para a C em 2011.

Os confrontos mortais, os embates hercúleos, as lides epopéicas serão:

Madureira x Operário-PR   

Araguaína x Uberaba

Joinville x América-AM

Guarany-CE x Vila Aurora 

O meu palpite, sem empates, é Madureira, Araguaína, Joinville e Guarany-CE. 

O livro sai de qualquer jeito. Se ninguém acertar os quatro resultados, invento alguma regra.

Aposte aí.

E amanhã não perca uma bombástica entrevista com João Saldanha (via Zé Cabala, é claro).


ABC do fim de semana
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Torero

   

Alessandro: O jogador do Ipatinga, lanterna da Série B, é o artilheiro do campeonato (ao lado de Ciro, do Sport) com 14 gols. Ele já rodou o mundo (Japão, Bélgica e Holanda), mas parece que agora, aos 28 anos, no interior de Minas, é que está realmente se dando bem.

Botafogo: Se Loco Abreu tivesse acertado o pênalti contra o Palmeiras aos oito minutos de jogo, este poderia ter sido o gol da vitória. Se o Botafogo tivesse vencido o Palmeiras, iria embalado para o jogo contra o Fluminense. Se vencesse o Fluminense, estaria na luta pelo título. Se, se, se…

Coritiba: Ganhou do Bragantino fora de casa e deu uma disparada na Série B, ficando quatro pontos à frente do segundo colocado, o América-MG.

Decisões: Esta é a semana mais importante nas séries C e D. É a semana das quartas-de-finais, quando se decide quem sobe para as divisões superiores. É a hora em que muitos destinos são decididos, a hora em que muitas vidas pegam atalhos para a glória ou as esburacadas estradas para o esquecimento.

Empacado: O Corinthians está empacado. Nos últimos cinco jogos marcou apenas dois pontos. Isso lhe custou a liderança. Mas a demissão de Adílson Batista não me parece a melhor solução.  Nem a vinda de Parreira. Um pouco mais de tempo para Adilson e a volta de Elias teriam resolvido a questão.

Frustrante: Foi o fim de semana para os brasileiros na F-1. Felipe Massa treinou mal e caiu fora da corrida já na largada. Bruno Senna quebrou e Lucas di Grassi nem completou a volta de apresentação. A honra foi salva pelo veterano Rubinho, que continua correndo bem. 

Guarani: Perdeu para o Ceará no Castelão e corre perigo. 

Historinha: Roniélton Pereira Santos, o Roni, veterano jogador de 33 anos que fez sucesso no Fluminense no fim dos anos 90, estreou no Vila Nova em 1995. Agora voltou para seu primeiro clube e está indo bem. É um dos artilheiros da Série B, com 12 gols. Nesta rodada, Roni fez dois e seu clube venceu o Figueirense, que era o vice-líder. Mas o Vila ainda está na borda do rebaixamento, em 16º. lugar.

Ituiutaba: O time mineiro, que está ans quartas da Série C, foi até Santa Catarina e conseguiu empatar com o Chapecoense. Se vencer o jogo de volta, estará na Série B em 2011.

Jonas: Com 19 gols, disparou na artilharia e vive o melhor momento da carreira.

Líder: O Cruzeiro, que agora encontrou uma nova casa, o Parque do Sabiá, em Uberlândia (conhecido por alguns burocratas como Estádio João Havelange), é o novo líder do Brasileiro. O curioso é que o Fluminense assumiu há liderança vencendo o mesmo Cruzeiro há 16 rodadas, pelo mesmo 1 a 0. Será que o técnico Cuca finalmente será campeão brasileiro?

Madureira: O simpático time carioca venceu, fora de casa, ao Operário de Ponta Grossa (sem trocadilhos, por favor) por 4 a 2. Está com um pé na Série C do ano que vem.

Nunca: Nunca se deve acreditar muito quando um técnico diz que pediu demissão depois de uma derrota. Em geral, ele é demitido mesmo, mas a diretoria, para não parecer autoritária e para não desvalorizar o técnico, deixa que ele diga que pediu demissão. Talvez tenha sido o caso de Adílson Batista.

Olé: A melhor coisa do fim de semana foi a vitória do vôlei brasileiro sobre Cuba na final do Mundial. Foram três sets a zero, três sets quase perfeitos. Algum dia o futebol conseguirá trazer Bernardinho para suas hostess, como já fez com Brunoro e José Roberto Guimarães? Ele poderia trazer mudanças interessantes.

Petróleo: O Macaé, time de prefeitura regado com dinheiro do petróleo, ganhou a primeira partida das quartas contra o Criciúma: 3 a 2. Se empatar em Santa Catarina, estará na Série B.

Quartel-general: O do América-AM é o estádio do SESI, em Manaus. Neste fim de semana o time venceu o Joinville por 2 a 1. O América-AM é presidido por uma mulher e recentemente mudou seu nome para Manaos. Mas voltou atrás.

Ronaldo: Deve retornar contra o Guarani. O Corinthians precisa que ele volte e bem, para dar uma chacoalhada na equipe e voltar a sonhar com o título. É a hora de Ronaldo ser fenômeno.

Salgueiro: O time pernambucano é uma experiência interessante. Tem apenas cinco anos, mas já conseguiu uma boa torcida. Parece ter uma administração razoavelmente moderna e vem ganhando espaço. Empatou com o Paysandu em 1 a 1 nas quartas da Série C. No próximo jogo, em Belém, se ficar precisar vencer para subir à Série B.

Tropeço. O Sport tropeçou feio neste fim de semana. Perdeu, e em casa, para o lanterna do campeonato, o Ipatinga. Segue em quinto lugar na B, ou seja, é o primeiro dos últimos, a cinco pontos do Bahia.

Uberaba x Araguaína. A partida ficou no 0 x 0 e foi pelas quartas da Série D. Quem passar, estará na C no ano que vem. Neste primeiro jogo, o herói foi o goleiro Régis, do Araguaína. O time de Tocantis, o Tourão do Norte, está perto de voltar para a Série C, onde esteve em 2007.

Vovô valente: Parecia que o Ceará entregaria os pontos, mas, tirou os tubos, jogou longe o marcapasso e venceu o Guarani. Conseguiu sair da UTI, mas ainda inspira cuidados.

Xô!: Vitória e Avaí estão à beira do precipício. Daqui a duas ou três rodadas podem estar na zona de rebaixamento, no lugar dos Atléticos Mineiro e Goianiense.

Zada: Oucos ouviram falar deste lateral-esquerdo. Mas ele teve um dia de glória neste domingo. Marcou, de falta, o primeiro gol do Guarany-CE contra o Vila Aurora, em Rondonópolis. O resultado final foi 2 a 0. Ou seja, mesmo com uma derrota por um gol de diferença em Sobral, o time de José de Alencar (que já eliminou Santa Cruz e Sampaio Corrêa) estará na Série C em 2011. Em tempo, Zada é apelido. É claro que ele não teria um nome tão estranho. Em seu RG está escrito Zandonnayde.

PS: O título de hoje foi mandado por Elvyn Reis, que explica: Duff é a cerveja, Indi é um cantor australiano, Sema é a feira de software da Austrália e o NA é o símbolo dos narcóticos anônimos de Chicago.


O mar é salgado, o futebol é doce
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Torero

Não, não vou falar da rodada do meio de semana. Hoje há um assunto muito mais importante, muito mais candente: futebol na praia.

 E não estou falando do futebol de areia, aquele em que o Brasil sempre faz a final do Mundial contra Portugal. Estou falando no simples e cândido futebol na praia. E nem é aquele com traves e onze de cada lado, mas o gol-caixote, que deve ter nascido porque ninguém queria ficar de goleiro.

 Para quem não conhece, informo que o gol caixote não tem número fixo de jogadores, não tem área demarcada, não possui duração definida e o travessão é imaginário.

 Pois bem, estava eu correndo (está bem, caminhando rápido) pela praia de Santos (de areia cinzenta e dura, perfeito para a prática ludopédica), quando vi alguns garotos de 16, 17 anos jogando bola. Automaticamente contei-os e vi que eram nove.

 Não sei se a nobre leitora e o plebeu leitor gostam de jogar futebol na praia, mas, se gostam, sabem que, quando passamos por um joguinho, automaticamente contamos o número de jogadores. Se forem em número ímpar, o passo seguinte é fazer ar de cachorro pidão e dizer: “Ei, cabe mais um?”

 Se você tiver sorte, responderão “Entra aí”, e está feito o contrato futebolístico.

 Foi o que se deu por estes dias.

 Há anos eu não jogava uma partidinha de gol-caixote na praia, e logo lembrei de gentes e coisas dos meus tempos. Sim, passam-se os anos, o mundo gira, a Lusitana roda e tudo continua igual. Tanto que vi naquele grupo de jovens imberbes os mesmos tipos que vi há trinta anos. A saber:

Zé Bonitinho: É aquele sujeito que vai jogar na praia com uniforme oficial. E sempre dá um jeito de usar uma caneleira, uma tornozeleira ou uma cotoveleira. Às vezes, as três coisas juntas. No jogo havia um rapaz com o uniforme completo do Boca Juniors. E ele tomava bastante cuidado para não cair e sujar sua roupa de areia. 

Bip-bip: É aquele sujeito que corre muito. Ele não tem grande habilidade, mas corre tanto que acaba sendo útil. Obviamente, não é o meu caso. 

Grossíssimo: Ele é grosso. Mas muito grosso mesmo, grossíssimo. Tão grosso que nem se espera nada dele. Invariavelmente é gente boa, e assim ninguém reclama muito dele. Quando recebe a bola, todos já fazem uma cara de pré-riso, pois sabem que alguma besteira vai acontecer. É uma espécie de 007, com direito para errar. Não, leitor maldoso, também não sou esse. 

Ogro: Todo timinho tem uma cara meio grandalhão que joga dando trombadas, se apoiando nos adversárisos, empurrando todo mundo. É um garoto maior do que os outros, com pouca habilidade, e se aproveita do seu tamanho. Um bom conselho é ficar no seu time, o que evita torções de joelho, pisões nos dedos e inchaços na canela.

A bola é minha: É um jogador mais habilidoso e os amigos acham que ele até podia fazer um teste no time profissional. O cara é bom mesmo, mas nunca passa a bola. Tenta driblar todo mundo, resolver o jogo sozinho. E quase nunca consegue. Quando se cansa, se desinteressa do jogo e fica conversando com os outros jogadores. Via de regra, com o Risadinha. 

Risadinha: É um cara que mais assiste do que joga. Ele vai para fazer piadas, para tentar fazer jogadas engraçadas, para ver os outros caírem no chão. Fala o tempo todo e ri de qualquer coisa. É uma espécie de bufão futebolístico. O chato se irrita um bocado com ele. 

Chato: É aquele cara que leva o jogo a sério. Fica gritando para seus companheiros: “Marca na direita!”, “Olha aquele lá sozinho”, “Tem que passar a bola”, “Chuta, chuta!”, “Pô, eu falei para chutar…”. Geralmente é um cara meio grosso e um pouco mais velho. E não entende porque dizem que o Muricy é mal humorado. Os outros jogadores vão à praia para se divertir, mas ele vai para ganhar. Sua alegria dura apenas um segundo: quando o jogo acaba e ele percebe que seu time venceu o jogo. Infelizmente, me encaixo nesse grupo. Até tento me conter, mas, quando vejo, estou aporrinhando os pobres garotos, dizendo que eles têm que fazer isso e aquilo. Resumindo, um chato.

Em tempo, ganhamos de 5 a 3. Não fiz um gol sequer, nem dei uma assistência. Mas queria ver se não fossem os meus gritos.