Blog do Torero

Como foi e o que decidiu o encontro da ANT

Torero

Amigxs,

aconteceu com sucesso a reunião de fundação do núcleo São Paulo da Associação Nacional dos Torcedores, na Praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu. Apresento aqui um breve relato do que aconteceu.

Desde às 18h, já havia gente nas imediações do Pacaembu esperando pela reunião. Entre essas pessoas, estavam o Jorge ''Vardemá'' e eu (Danilo ''Mandioca''), que em conjunto articulamos essa primeira reunião. Estava também o Chris Gaffney, estadunidense e fundador da ANT-RJ, a primeira de todas. Logo chegaram outras pessoas e ficamos a ouvir o Chris contar da experiência do Rio. Aproveitamos também pra tentar rascunhar uma proposta de manifestação pro dia 24, no mesmo Pacaembu, durante o derby Corinthians x Palmeiras.

Por volta da 20h, mais e mais pessoas foram chegando. Quando começamos a reunião, às 20h30, éramos em pouco mais de 30. Logo de início um primeiro obstáculo: de segunda-feira acontece um insólito uso da praça por amantes de carrinhos de controle remoto, MUITO barulhentos, de modo que na roda de apresentação de todos era difícil nos escutarmos. Na dúvida entre chutar todos os carrinhos e mudar de lugar, resolvemos pela segunda opção. E aí veio a primeira amostra de como será difícil a nossa luta.

Fomos para o hall de entrada do portão principal do Pacaembu. Não íamos entrar no estádio. Porém, mal paramos e o segurança do estádio veio nos dizer que não poderíamos ficar ali, ''só da marquise pra lá''. Tentamos argumentar de que só faríamos uma reunião, mas ele, imbuído da sensação de poder que toma toda autoridade, começou a nos destratar e ameaçar. Um outro segurança chegou e perguntou à ele se ''queria que pegasse as coisas lá dentro''. A princípio, quisemos pagar pra ver e nos sentamos no chão pra começar a reunião. Mas ele voltou a nos ameaçar com a chamada da PM e ficamos entre confrontar a postura autoritária e não fazer a reunião ou irmos até o escadão no meio da praça e realizá-la lá. Acabamos optando pela segunda opção. De cara, já ficou explícito que lutar pelo espaço público em São Paulo não será nem um pouco fácil.

Uma vez no escadão, mais pessoas chegaram. Chris apresentou a ideia da ANT, o que os levou a fundá-la, e a partir disso, até pelo horário, começamos já a pensar na organização da manifestação do dia 24. Falamos, ouvimos, opinamos e chegamos a uma conclusão (que depois será postada com mais destaque). Por fim, lemos um manifesto de criação pré-escrito pelo Jorge e por mim, ouvimos as sugestões de alteração, acréscimos e decréscimos no texto, as fizemos coletivamente (o texto será enviado depois) e arrecadamos grana pra confecção das camisetas para domingo (o total arrecadado foi de R$ 164,10).

No geral, a reunião foi bastante clara e objetiva, sem atropelos nem grandes desentendimentos. Ficou bem claro que alguns pontos são divergentes e precisarão ser conversados em reuniões futuras, pouco a pouco, e que São Paulo terá uma pauta específica diferente da do RJ (o que era de se esperar), já que a repressão em nossos estádios vai além da que acontece no Rio, pra começar.

Estiveram presentes torcedores de Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Portuguesa, Santo André, Juventus, São Bento de Sorocaba, Bragantino e Vasco. Membros da Esquadrão Andreense, torcida do Santo André, e da Gaviões da Fiel Torcida – Movimento Rua São Jorge, do Corinthians, marcaram presença. Quanto à relação entre ANT e TO's, inclusive, ficou claro que a ANT é aberta a TODOS os torcedores, incluindo os de TO, mas que ela não se vinculará a nenhuma TO em específico, permanecendo sempre independente. Os membros das TO's presentes estiveram de acordo e se declararam ali pra contribuir trazendo o que tem de aprendizado (MUITA coisa) nas TO's, e também pra levar de volta à elas o que tivermos de aprendizado na ANT.

Agora, será criado um blog específico da ANT-SP e uma lista de discussão também específica. A princípio, estarão nela os presentes na reunião. Quem tiver interesse em participar dela, favor declarar aqui.

A próxima reunião, ainda sem data, será utilizada para definirmos as comissões internas da ANT-SP.

É isso, acho. Desculpem se me alonguei. Complementem os que estiveram presentes, por favor.

Abraços,

Mandioca.

Manifesto de fundação – ANT-SP

 

No último dia 10 de outubro, um grupo de torcedores iniciou no Rio de Janeiro algo que deveríamos ter feito há anos: uma Associação Nacional dos Torcedores.

A ANT, como foi batizada, é a realização de uma necessidade básica: a de reivindicarmos nossos direitos. Há anos no Brasil que a cultura torcedora vem sendo desrespeitada. Setores populares extintos, preço dos ingressos exorbitante, horários dos jogos refém das redes de televisão. Com a Copa do Mundo de 2014 no horizonte, então, os prognósticos não são nada animadores: os novos estádios projetados parecem mais teatros para a elite, shoppings para o consumo, do que espaços para o exercício da cultura torcedora. Sem falar na remoção de milhares de famílias para a construção desses novos elefantes brancos. O que está em processo é a criminalização da pobreza.

Em São Paulo, mais do que no restante do país, sentimos na pele essa nova realidade: nossos estádios são os mais repressivos do Brasil. Não pode bandeira, nem camiseta com frases políticas, nem pirotecnia. Nem mesmo jornal e papel picado são permitidos nas arquibancadas paulistas. Já passou da hora de agirmos.

Assim, nós, abaixo assinados, damos aqui o pontapé inicial no núcleo de São Paulo da ANT. Nos unimos e nos organizamos pela permanência da cultura torcedora, pela compreensão de que somos muito mais que consumidores, somos protagonistas e sujeitos históricos do futebol brasileiro. Se querem reformar nossos templos, que nos consultem antes. Se querem construir novos estádios, que sejam estádios coerentes com o que nós torcedores queremos.

Não somos pioneiros. Associações como a ANT existem em diversos países do mundo. Na Alemanha, por exemplo, os torcedores unidos e organizados conseguiram inclusive deter o processo modernizador e elitizador que hoje vemos por aqui e garantir aos torcedores setores populares onde ainda se pode assistir ao jogo de pé, cantando e dançando, como sempre fizemos.

Assim, chamamos aqui todos os que desejam um futebol popular de fato a juntar-se a nós. A Associação Nacional dos Torcedores não é uma torcida organizada, não tem clube, não defende interesses de cartolas ou de partidos políticos. Somos, sim, uma organização de torcedores de todo clube, classe e estirpe, pela defesa dos interesses daquilo que nos torna comuns uns aos outros: sermos torcedores.

Sem torcedor não há futebol, e sem futebol não há alegria.
São Paulo, 18 de outubro de 2010.
Associação Nacional dos Torcedores – Núcleo São Paulo

www.torcedores.org

  1. Diego

    23/10/2010 18:08:44

    Companheiros torcedores, Considero muito importante a iniciativa e gostaria de fazer parte da lista de discussão citada. Se possível gostaria de saber também mais informações sobre a manifestação preparada e futuras reuniões, já deixando a proposta de realizar uma proxima reunião durante o final de semana, que tornaria possivel a participação de mais pessoas.diegobalves@gmail.comDiego

  2. dorgo_tjs

    22/10/2010 17:32:32

    toreroestou sonhando acordado, minha familia sempre fez parte de torcida organizada desde 1970 participando inclusive de manifestaçoes contra a ditura entre outros movimento. Mas o q mais me interessa nas historias que eles contam sao as festas e incentivos que passavam atraves das arquibancadas nos estadios onde tinham bandeiras instrumentos e muitas alegria, meu pai butequeiro ja me contou varias vezes onde eles passavam no pacaembu em frente a torcidas adversarias batucando e cantando na maior festa e sem confusao e eu super fascinado querendo ter vivido toda essa emoçao. Mas agora quem sabe possa acontecer ne?

  3. Aylton Silva Affonso

    21/10/2010 19:08:48

    Pô, muito legal mesmo!A coisa já começa bem: nada de reivindicar "lugares numerados", como a nossa imprensa reacionária e elitista faz questão de exigir, como se assistir futebol fosse como assistir a uma ópera.Centra toda a sua crítica justamente no elitismo crescente, e, excelente, denuncia a criminalização da pobreza. Torero, pode apostar, voce é um dos poucos jornalistas que vai fazer repercutir esse movimento - infelizmente, dada a tendência elitista de nossa imprensa, toda chegada a ver "tumultos" e "bagunças" naquilo que na verdade é popular e autêntico (exemplo maior: o protofascista do Flávio Prado).De minha parte, pode deixar que, onde e como puder, vou ajudar a divulgar.

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