E se a Gaviões fizesse um desfile sobre Pelé?
Torero
(Para não deixar o aniversário do Negrão passar em branco, coloco aqui um texto sobre Ele, escrito na Folha de S.Paulo em 22/2/2007)
O carnaval acabou, mas meus ouvidos ainda escutam um zumbido. Explico: é que um bloco carnavalesco achou por bem eleger a calçada em frente à minha casa como sua sede, de modo que o baticum perseguiu-me durante todos os dias e, pior, noites do reinado de Momo.
Por conta disso, meus sonhos foram confusões carnavalescas.
Vi-me morrendo afogado num mar de confetes e enforcado por serpentinas. Sem falar nos devaneios eróticos, em que Grazi misturava-se a Juliana Paes, Sabrina Sato a Kelly Key, e, misteriosamente, Preta Gil à águia da Portela.
Mas o mais curioso foi que sonhei que uma escola de samba, a Gaviões, fazia um belo desfile que contava a vida de Pelé.
Na comissão de frente, como não poderia deixar de ser, vinham Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe acenando para a torcida. Zito, é claro, era o diretor de harmonia. E Gilmar, o mestre da bateria.
Depois vinham três alas relativas às cidades onde o Rei jogou. A primeira era formada por homens fantasiados de bauru. Nota para as esvoaçantes folhas de alfaces amarradas aos braços dos foliões, transbordando dos sanduíches e dando leveza às fantasias.
A ala ''Santos, sempre Santos'' era formada por umas cem pessoas, cada uma fantasiada de um santo diferente. O destaque, obviamente, era são Jorge, que vinha montado num imenso dragão.
Depois veio a ala ''Niuiorque, Niuiorque'', onde todos estavam vestidos como a estátua da Liberdade. Só que, em vez de tochas, seguravam bolas. E vestiam a camisa do Cosmos.
A segunda maior ala em tamanho foi a ''Ala dos Mil Gols'', e ela era formada por nada menos do que mil pessoas, cada uma representando um dos gols de Pelé. Em tamanho, a ''Ala dos Mil Gols'' só perdeu para a ''Ala das Ex-Namoradas'', composta pelas próprias.
Falando em mulheres, o ''Bloco das Xuxas'' fez muito sucesso. Era formado apenas por homens, todos usando imensas perucas loiras. Seguindo o ''Bloco das Xuxas'', vinham o mestre-sala e a porta-bandeira, Robinho e Marta, que faziam malabarismos com a bola.
A ''Ala dos Novos Pelés'' comoveu o público. Era formada por crianças vestindo a camisa 10 e por Cláudio Adão, o único novo Pelé que deu mais ou menos certo.
As baianas vinham com vestidos imitando meia bola, causando um bonito efeito quando vistos de cima, parecendo dezenas de bolas a girar. Uma ala de muito bom humor foi a ''Sonho Corintiano'', que trazia seus foliões todos engessados.
Pelé, o próprio, vinha dentro de uma gigantesca Taça Jules Rimet de dez metros de altura, e lá embaixo os integrantes da escola estavam vestidos como a própria taça. Mas, de repente, numa curiosa coreografia, de dentro do grande troféu saíam homens vestidos de ladrões e carregavam as mulheres fantasiadas de taça.
O carro alegórico que trazia Edinho numa prisão foi considerado de gosto duvidoso, assim como o bloco que homenageava o Pelé cantor, composto somente por integrantes surdos.
Talvez a ala mais engraçada tenha sido a ''Exame de DNA, oba!'', que falava dos filhos ilegítimos do Rei. A fantasia era simples, mas interessante: todos os componentes usavam apenas fraldas e uma máscara de Pelé.
Um humor um tanto ácido, é verdade, mas há que lembrar que o desfile foi bolado pela Gaviões.
Só não me lembro muito bem do samba-enredo, mas acho que se utilizava da melodia de uma conhecida marchinha de Carnaval e começava com algo como:
''Doutor, eu não engano, quando criança fui corintiano''.