Blog do Torero

E se a Gaviões fizesse um desfile sobre Pelé?
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Torero

(Para não deixar o aniversário do Negrão passar em branco, coloco aqui um texto sobre Ele, escrito na Folha de S.Paulo em 22/2/2007)

O carnaval acabou, mas meus ouvidos ainda escutam um zumbido. Explico: é que um bloco carnavalesco achou por bem eleger a calçada em frente à minha casa como sua sede, de modo que o baticum perseguiu-me durante todos os dias e, pior, noites do reinado de Momo.

Por conta disso, meus sonhos foram confusões carnavalescas.

Vi-me morrendo afogado num mar de confetes e enforcado por serpentinas. Sem falar nos devaneios eróticos, em que Grazi misturava-se a Juliana Paes, Sabrina Sato a Kelly Key, e, misteriosamente, Preta Gil à águia da Portela.

Mas o mais curioso foi que sonhei que uma escola de samba, a Gaviões, fazia um belo desfile que contava a vida de Pelé.

Na comissão de frente, como não poderia deixar de ser, vinham Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe acenando para a torcida. Zito, é claro, era o diretor de harmonia. E Gilmar, o mestre da bateria.

Depois vinham três alas relativas às cidades onde o Rei jogou. A primeira era formada por homens fantasiados de bauru. Nota para as esvoaçantes folhas de alfaces amarradas aos braços dos foliões, transbordando dos sanduíches e dando leveza às fantasias.

A ala ''Santos, sempre Santos'' era formada por umas cem pessoas, cada uma fantasiada de um santo diferente. O destaque, obviamente, era são Jorge, que vinha montado num imenso dragão.

Depois veio a ala ''Niuiorque, Niuiorque'', onde todos estavam vestidos como a estátua da Liberdade. Só que, em vez de tochas, seguravam bolas. E vestiam a camisa do Cosmos.

A segunda maior ala em tamanho foi a ''Ala dos Mil Gols'',  e ela era formada por nada menos do que mil pessoas, cada uma representando um dos gols de Pelé. Em tamanho, a ''Ala dos Mil Gols'' só perdeu para a ''Ala das Ex-Namoradas'', composta pelas próprias.

Falando em mulheres, o ''Bloco das Xuxas'' fez muito sucesso. Era formado apenas por homens, todos usando imensas perucas loiras. Seguindo o ''Bloco das Xuxas'', vinham o mestre-sala e a porta-bandeira, Robinho e Marta, que faziam malabarismos com a bola.

A ''Ala dos Novos Pelés'' comoveu o público. Era formada por crianças vestindo a camisa 10 e por Cláudio Adão, o único novo Pelé que deu mais ou menos certo.

As baianas vinham com vestidos imitando meia bola, causando um bonito efeito quando vistos de cima, parecendo dezenas de bolas a girar. Uma ala de muito bom humor foi a ''Sonho Corintiano'', que trazia seus foliões todos engessados.

Pelé, o próprio, vinha dentro de uma gigantesca Taça Jules Rimet de dez metros de altura, e lá embaixo os integrantes da escola estavam vestidos como a própria taça. Mas, de repente, numa curiosa coreografia, de dentro do grande troféu saíam homens vestidos de ladrões e carregavam as mulheres fantasiadas de taça.

O carro alegórico que trazia Edinho numa prisão foi considerado de gosto duvidoso, assim como o bloco que homenageava o Pelé cantor, composto somente por integrantes surdos.

Talvez a ala mais engraçada tenha sido a ''Exame de DNA, oba!'', que falava dos filhos ilegítimos do Rei. A fantasia era simples, mas interessante: todos os componentes usavam apenas fraldas e uma máscara de Pelé.

Um humor um tanto ácido, é verdade, mas há que lembrar que o desfile foi bolado pela Gaviões.

Só não me lembro muito bem do samba-enredo, mas acho que se utilizava da melodia de uma conhecida marchinha de Carnaval e começava com algo como:

 ''Doutor, eu não engano, quando criança fui corintiano''.


Zé Cabala e o homem que virrou estádia
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Torero

Quando cheguei à nova sede da Igreja Mundial da Divina Ascensão, que é um puxadinho que Zé Cabala fez atrás de sua casa, disse:

“Gostei da nova sede, mestre.”

“A Imunda merecia este palácio.”

“Imunda?”

“É a nossa sigla. I de igreja, Mun de Mundial…”

“Já entendi, já entendi.”

“Pois bem, o que vai ser hoje?”

“Gostaria de fazer algo diferente. Quem sabe vossa santa espiritualidade possa incorporar um jogador internacional.”

“Tudo bem, mas você vai ter que pagar em euros.”

Antes que eu fizesse alguma objeção, o supino mestre começou a dançar de uma maneira estranha, algo entre a polca e um ataque epilético.

Depois de algum tempo, ele disse com sotaque alemão.

“Muita prazer, eu ser Fritz Walter.”

“Fritz Walter? O grande capitão da seleção alemã de 1954? O melhor jogador de alemão de todos os tempos segunda a FIFA? Aquele que foi o primeiro kaiser, depois seguido por Beckenbauer e Matthaus? Aquele que…”

“Você vai falar tudo ou vai deixar uma pouco parra mim?”

“Desculpe…”

“Pois eu ser esse mesmo: Friedrich ´Fritz’ Walter. Daqui a dez dias eu farria 90 anos. Pena que eu morri em 2002, bem no meio do Copa.”

“Dizem que o senhor foi o maior.”

“O maior, não, porque tinha só 1,73 m e era magrinha. Nem parrecia alemão. Mas fui uma bom meia.”

 “Jogou pelo Kaiserlautern, não é?”

“Isso, foi o único time em que jogar em toda a minha vida. 306 gols em 379 jogos. Meu pai era o gerrente do bar do clube. E dois de meus irmãos, Ludwig e Ottmar, também jogarram lá comigo: Comecei no Kaiserlautern com 8 anos, estreei no equipe principal com 17 e pendurei os chuteirras aos 39. Mas houve uma intervalo.”

“Contusão?”

“Pior: guerra. Fui convocado para servir como parraquedista.”

“Você lutou por Hitler?”

“Você acha que eu tive escolha? Você acha que eu querria que a guerra roubasse os melhorres anos do meu futebol?”

“Bem… e como foi na guerra?”

“Foi terrível. Tive até malárria. No fim do guerra, meu unidade se rendeu ao exército amerricano. Mas fomos entregues aos russos. Então, enquanto estar no campo de prisioneirros de Marmaros-Sziget, esperando o transferência para a Sibéria, onde os prisioneirros sobreviviam pouco tempo, alguns soldados húngaros, veja que irronia, me reconhecerram e acabei voltando para o Alemanha.”

“E a seleção?”

“Estreei aos 19 anos, em 1940, e logo nesse jogo já marquei três gols. Mas parrei com a guerra e só voltei a jogar pelo meu país em 1951, já com 30 anos.”

 “Aí foi sua melhor fase?”

“Sim. Em 1951 e em 1953 o Kaiserlautern foi campeão alemão. Depois, o clube só foi campeão em 1998. E em 53 também fui artilheirra do campeonato. Principalmente por causa dos meus cobranças de faltas.”

“E houve a Copa de 1954…”

“Foi o ponto alto do meu carreira.”

“O ponto alto de sua carreira não foram os saltos de paraquedas, rá, rá?”

“Você sempre faz piadas tão sem graça? Pois fique sabendo que fiquei tão traumatizado que nunca mais subi num avião depois do guerra.”

“Desculpe…”

“Tuda bem.”

“O senhor estava falando da Copa de 54…”

“Isso. Houve um jogo, contra o Áustria, que ganhamos de 6 a 1. Dois gols meus e dois de meu irmão Ottmar Walter.”

“Na fase de classificação vocês perderam da Hungria, não é?”

“Foi um surra! 8 a 3 parra eles. Nós entramos em campa com muitos reservas. Depois, no final do Copa, jogamos com todos as titularres e aí foi diferente.”  

“Com menos de dez minutos já estava 2 a 0 para a Hungria, não é?”

“Isso. Mas empatamos antes dos vinte. Nosso primeiro gol foi de Morlock. Depois, eu cobrei uma escanteio e Rahn marcou o segundo. Ah, Rahn, aquele bêbado mulherrengo… Você precisa entrevistar ele…”

“Estava chovendo naquele dia, não?”

“Estava. E esse foi meu sorte. É que por causa do malárria eu sofria muito com o calor. Com frio e chuva eu jogava melhor. As pessoas até chamavam esse clima de clima Fritz Walter.”

“Não foi este jogo que ficou conhecido como ‘O Milagre de Berna’?”

“Foi. Porque parecia impossível vencer as húngaros. Eles estavam invictos há 33 jogos.”

“E como foi o final da partida?”

“Hidegkuti, da Hungria, acertou uma chute na trave. Logo depois, Rahn pegou um bola na entrada do árrea e chutou de perna esquerda na ângulo. Uma golaço! Aquela foi nossa primeirra Copa. Uma coisa muito boa parra o meu país recuperrar o morral. E eu tive o honra de ser o primeirro capitão alemão a receber a taça.”

“E na Copa seguinte?”

“Eu tinha 37 anos, mas ainda era o capitão. Estávamos muito bem até a semifinal contra o Suécia. O jogo estava 1 a 1. Então, faltando 15 minutos, eu me machucar e ficar andando em campo. Aí eles fizerram 3 a 1. No jogo pelo terceirro lugar, também não pude entrar e perdemos para o França.”

“O que o senhor fez depois de parar com o futebol?”

“Eu parrei em 59. Aí dirigi um lavanderria e depois uma cinema.”

“E recebeu muitas homenagens, não?”

“Muitas. O melhor delas foi em 1985, no meu aniversárria de 65 anos.”

“O que aconteceu neste dia?”

“Eu virrei estádia.”

“Hein?”

“É que colocarram o meu nome no estádia do Kaiserslautern. Não numa rua, ou numa praça, mas na estádia do único time em que joguei. Não podia ter homenagem melhor.”


Atores da bola
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Torero

Quem finge melhor uma contusão?

( ) Rojas

( ) Rivaldo

( ) Neymar

( ) Dagoberto

( ) Serra


Como foi e o que decidiu o encontro da ANT
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Torero

Amigxs,

aconteceu com sucesso a reunião de fundação do núcleo São Paulo da Associação Nacional dos Torcedores, na Praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu. Apresento aqui um breve relato do que aconteceu.

Desde às 18h, já havia gente nas imediações do Pacaembu esperando pela reunião. Entre essas pessoas, estavam o Jorge ''Vardemá'' e eu (Danilo ''Mandioca''), que em conjunto articulamos essa primeira reunião. Estava também o Chris Gaffney, estadunidense e fundador da ANT-RJ, a primeira de todas. Logo chegaram outras pessoas e ficamos a ouvir o Chris contar da experiência do Rio. Aproveitamos também pra tentar rascunhar uma proposta de manifestação pro dia 24, no mesmo Pacaembu, durante o derby Corinthians x Palmeiras.

Por volta da 20h, mais e mais pessoas foram chegando. Quando começamos a reunião, às 20h30, éramos em pouco mais de 30. Logo de início um primeiro obstáculo: de segunda-feira acontece um insólito uso da praça por amantes de carrinhos de controle remoto, MUITO barulhentos, de modo que na roda de apresentação de todos era difícil nos escutarmos. Na dúvida entre chutar todos os carrinhos e mudar de lugar, resolvemos pela segunda opção. E aí veio a primeira amostra de como será difícil a nossa luta.

Fomos para o hall de entrada do portão principal do Pacaembu. Não íamos entrar no estádio. Porém, mal paramos e o segurança do estádio veio nos dizer que não poderíamos ficar ali, ''só da marquise pra lá''. Tentamos argumentar de que só faríamos uma reunião, mas ele, imbuído da sensação de poder que toma toda autoridade, começou a nos destratar e ameaçar. Um outro segurança chegou e perguntou à ele se ''queria que pegasse as coisas lá dentro''. A princípio, quisemos pagar pra ver e nos sentamos no chão pra começar a reunião. Mas ele voltou a nos ameaçar com a chamada da PM e ficamos entre confrontar a postura autoritária e não fazer a reunião ou irmos até o escadão no meio da praça e realizá-la lá. Acabamos optando pela segunda opção. De cara, já ficou explícito que lutar pelo espaço público em São Paulo não será nem um pouco fácil.

Uma vez no escadão, mais pessoas chegaram. Chris apresentou a ideia da ANT, o que os levou a fundá-la, e a partir disso, até pelo horário, começamos já a pensar na organização da manifestação do dia 24. Falamos, ouvimos, opinamos e chegamos a uma conclusão (que depois será postada com mais destaque). Por fim, lemos um manifesto de criação pré-escrito pelo Jorge e por mim, ouvimos as sugestões de alteração, acréscimos e decréscimos no texto, as fizemos coletivamente (o texto será enviado depois) e arrecadamos grana pra confecção das camisetas para domingo (o total arrecadado foi de R$ 164,10).

No geral, a reunião foi bastante clara e objetiva, sem atropelos nem grandes desentendimentos. Ficou bem claro que alguns pontos são divergentes e precisarão ser conversados em reuniões futuras, pouco a pouco, e que São Paulo terá uma pauta específica diferente da do RJ (o que era de se esperar), já que a repressão em nossos estádios vai além da que acontece no Rio, pra começar.

Estiveram presentes torcedores de Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Portuguesa, Santo André, Juventus, São Bento de Sorocaba, Bragantino e Vasco. Membros da Esquadrão Andreense, torcida do Santo André, e da Gaviões da Fiel Torcida – Movimento Rua São Jorge, do Corinthians, marcaram presença. Quanto à relação entre ANT e TO's, inclusive, ficou claro que a ANT é aberta a TODOS os torcedores, incluindo os de TO, mas que ela não se vinculará a nenhuma TO em específico, permanecendo sempre independente. Os membros das TO's presentes estiveram de acordo e se declararam ali pra contribuir trazendo o que tem de aprendizado (MUITA coisa) nas TO's, e também pra levar de volta à elas o que tivermos de aprendizado na ANT.

Agora, será criado um blog específico da ANT-SP e uma lista de discussão também específica. A princípio, estarão nela os presentes na reunião. Quem tiver interesse em participar dela, favor declarar aqui.

A próxima reunião, ainda sem data, será utilizada para definirmos as comissões internas da ANT-SP.

É isso, acho. Desculpem se me alonguei. Complementem os que estiveram presentes, por favor.

Abraços,

Mandioca.

Manifesto de fundação – ANT-SP

 

No último dia 10 de outubro, um grupo de torcedores iniciou no Rio de Janeiro algo que deveríamos ter feito há anos: uma Associação Nacional dos Torcedores.

A ANT, como foi batizada, é a realização de uma necessidade básica: a de reivindicarmos nossos direitos. Há anos no Brasil que a cultura torcedora vem sendo desrespeitada. Setores populares extintos, preço dos ingressos exorbitante, horários dos jogos refém das redes de televisão. Com a Copa do Mundo de 2014 no horizonte, então, os prognósticos não são nada animadores: os novos estádios projetados parecem mais teatros para a elite, shoppings para o consumo, do que espaços para o exercício da cultura torcedora. Sem falar na remoção de milhares de famílias para a construção desses novos elefantes brancos. O que está em processo é a criminalização da pobreza.

Em São Paulo, mais do que no restante do país, sentimos na pele essa nova realidade: nossos estádios são os mais repressivos do Brasil. Não pode bandeira, nem camiseta com frases políticas, nem pirotecnia. Nem mesmo jornal e papel picado são permitidos nas arquibancadas paulistas. Já passou da hora de agirmos.

Assim, nós, abaixo assinados, damos aqui o pontapé inicial no núcleo de São Paulo da ANT. Nos unimos e nos organizamos pela permanência da cultura torcedora, pela compreensão de que somos muito mais que consumidores, somos protagonistas e sujeitos históricos do futebol brasileiro. Se querem reformar nossos templos, que nos consultem antes. Se querem construir novos estádios, que sejam estádios coerentes com o que nós torcedores queremos.

Não somos pioneiros. Associações como a ANT existem em diversos países do mundo. Na Alemanha, por exemplo, os torcedores unidos e organizados conseguiram inclusive deter o processo modernizador e elitizador que hoje vemos por aqui e garantir aos torcedores setores populares onde ainda se pode assistir ao jogo de pé, cantando e dançando, como sempre fizemos.

Assim, chamamos aqui todos os que desejam um futebol popular de fato a juntar-se a nós. A Associação Nacional dos Torcedores não é uma torcida organizada, não tem clube, não defende interesses de cartolas ou de partidos políticos. Somos, sim, uma organização de torcedores de todo clube, classe e estirpe, pela defesa dos interesses daquilo que nos torna comuns uns aos outros: sermos torcedores.

Sem torcedor não há futebol, e sem futebol não há alegria.
São Paulo, 18 de outubro de 2010.
Associação Nacional dos Torcedores – Núcleo São Paulo

www.torcedores.org


O gol, o orgasmo e o time do Juventus
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Torero

(na seção Velharias de hoje, um texto publicado em 1999 que fala um pouco sobre sexo)

 
O gol é o orgasmo do futebol. Mesmo que seja um golzinho, é sempre goooool na garganta dos locutores de rádio, um dó de peito capaz de deixar Caruso mudo para sempre.''

O texto acima pertence ao livro ''Futebol ao sol e à sombra'' (L&PM, 265 págs., R$ 24), do escritor uruguaio Eduardo Galeano, que escreveu ''As veias abertas da América Latina'', livro que influenciou um monte de adolescentes, entre eles, este que vos escreve.

Além de ser contra as múltis, contra a concentração de renda, contra o capitalismo e ter outros gastos fora de moda, Galeano é também um apaixonado pelo futebol, a ponto de comparar gol e orgasmo.

Talvez os mais puritanos e os mais tarados não aprovem esse paralelo, mas é difícil encontrar uma palavra melhor do que orgasmo para definir a sensação de euforia que toma conta de nós quando escutamos o grito de gol do narrador.

Para que essa afirmação tivesse um caráter mais científico, resolvi fazer uma comprovação empírica. Peguei um cronômetro, um rádio e fui escutar o jogo entre Santos e Goiás. Verifiquei que o grito de gooooooool de um narrador dura em média 5,3 segundos. Depois -tudo pela ciência- peguei meu cronômetro, e, com a valiosa ajuda de uma senhorita, passei para a segunda parte da experiência.

Vocês podem não acreditar, mas essa segunda fase durou exatamente 5,3 segundos, ou seja, gol e orgasmo têm realmente mais pontos em comum do que se pensa.

Esses pontos em comum podem ser ampliados e pedem uma pesquisa mais profunda.

Os grandes artilheiros, por exemplo, não fariam feio se comparados ao galante Casanova. O maior deles, Pelé, conseguiu proezas comparáveis às dos melhores atores de filmes pornográficos. Quantos performáticos do sexo conseguem fazer oito gols em uma única noite, como ele fez em um jogo do Santos contra o Botafogo em Ribeirão Preto?

E Maradona? Quem pode esquecer o gol marcado contra a Inglaterra na Copa-86? Aquela capacidade de invadir a defesa adversária com toques sutis e penetrar na área de cabeça altiva só é comparável ao apetite de um noivo em lua-de-mel.

E há Leônidas da Silva, que entrou para a história do futebol ao inventar a bicicleta, lance que até hoje delicia torcidas. Antes dele, nem o mais criativo atleta sexual pensaria em usar bicicletas para atingir seu objetivo. E ainda nem falamos em craques como Garrincha, que, com deliciosas carícias preliminares como cruzamentos e dribles, deixava a torcida pronta para o êxtase.

Creio que a principal vantagem desse tipo de orgasmo é a frequência. Times como São Paulo, Palmeiras, Santos e Corinthians chegam lá cerca de 140 vezes por temporada, o que resulta numa média de um orgasmo a cada dois dias e meio; respeitável contribuição à cota de prazer de que necessitamos anualmente.

Já times como o Juventus não proporcionam tantos momentos de gozo e pouco ajudam seus torcedores a cumprir uma boa média anual de satisfação. Assim, os juventinos têm que conseguir o prazer com o próprio sangue. O que, no final das contas, pode ser uma vantagem.


Curta um curta
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Torero

O de hoje é uma tremenda animação francesa, feita com logotipos. Ganhou o Oscar deste ano. Mesmo quem, como eu, não sabe nada de inglês, vai entender o filme. 

O link é: http://vimeo.com/10149605


Duas perguntas
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Torero

1-) Se Ronaldo estivesse um pouco mais magro, ainda estaria impedido?

2-) O slogan do candidato é ''Serra é do Bem'' ou ''Serra é do Dem''?


ABC do fim de semana
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Torero

Alencar: Se o cearense José de Alencar fosse torcer para um time hoje, seria o Guarany-CE. E ele estaria contente, pois sua equipe subiu para a Série C ao vencer, de virada, o Vila Aurora. 

Benazzi: O novo técnico do Avaí terá a difícil missão de impedir seu rebaixamento. Ainda mais que o time entrou no B-4. E pensar que o time teve uma fase tão boa com Antonio Lopes…

Cruzeiro: Tomou uma virada do Grêmio. Perdeu o jogo mas não a liderança.

Dragão: Venceu o Vasco e conseguiu sair da zona de rebaixamento.

Empate: Os torcedores do fluminense devem lamentando o contra o Botafogo. Era a chance de assumir a liderança. Mas foi um resultado justo até na opinião de Muricy.

Falta: Deixe com Marcos Assunção. Fez mais um gol deste jeito. Uma contratação muito esperta do Palmeiras. Mas o Ceará conseguiu o empate. Sem Kleber e Valdivia, o Palmeiras é um time sem graça.

Goleador: Jonas tem vinte gols, quase o dobro do segundo artilheiro do Brasileirão, o corintiano Bruno César, com 11.

Huanderson é o herói da semana. Ele é o goleiro do Araguaína e pegou três cobranças na decisão por pênaltis contra o Uberaba, classificando seu time para a Série C em 2011.

Ituiutaba: O jovem clube, de apenas 12 anos, subiu para a Série B do Brasileiro. Em compensação, caiu para a B do Mineiro.

Joinville: Só empatou com o América-AM e perdeu a chance de subir para a Série C. Os catarinenses estão morrendo na praia, pois o Chapecoense também chegou perto mas não subiu de divisão.

Libertadores: O Santos é bicampeão no feminino e agora já tem quatro taças continentais.

Maurine: É minha musa no futebol feminino. Além de bela, fez o gol decisivo na final contra o Everton, aos 44´do segundo tempo. Ah, Maurine…

Novidade: Coisa em falta na Série B. Lá, os quatro primeiros já se afastaram bem do quinto colocado e os quatro últimos vem longe do décimo-sexto. Ou seja, Coritiba, América-MG, Figueirense e Bahia têm boa chance de subir e Ipatinga, Santo André, Brasiliense e América-RN, de descer.

Ombro-a-ombro: lado a lado, em condições de igualdade. Qual o time que mais empatou no campeonato? O Botafogo. Quinze vezes. A metade dos jogos (e até nisso há empate). Em compensação foi o time que menos perdeu.

Paulo César Carpeggiani: Já tinha feito um bom trabalho de recuperação no time do Atlético-PR e agora vem repetindo a dose no São Paulo.

Quarenta e sete: Foi quando saiu o quarto gol do São Paulo. Bah!

Ronaldo: Em fase caipora. Demorou para voltar e, quando voltou, teve seus gols anulados.

Surpresa: O S também poderia ser de Salgueiro, que venceu o Paysandu em Belém ( o Paysandu precisa apenas de um zero a zero) e se classificou para a Série B. O Salgueiro é um raro caso de time novo que conseguiu uma torcida e bons resultados ao mesmo tempo.

Tocantins: Com o Araguaína, o futebol do estado conseguiu um acesso inédito.

Última rodada: Será no dia 5 de dezembro, quando os três líderes atuais enfrentarão três times verdes: Flu x Guarani, Cruzeiro x Palmeiras e Corinthians x Goiás. E eis aí uma informação bem pouco útil.

Vinte minutos: Foi o quanto São Paulo e Santos demoraram para fazer cinco gols.

Xis: Para os cruzeirenses, o xis do problema foi a arbitragem de Paulo César Oliveira. Também não entendo por qual motivo ele é tão badalado

Zé Cabala: O desta semana foi Rodrigo Domingues, que foi o primeiro a acertar os resultados dos jogos da Série D e ganha os livros. Errou os placares, é verdade, mas aí já era querer demais.


Futebol e cinema
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Torero

Luiz Guilherme Piva*

Já li algumas vezes que, apesar de sua importância na cultura brasileira, o futebol não gerou nenhum filme de ficção que captasse e expressasse sua carga dramática, sua grandiosidade, sua plasticidade. Não por falta de filmes. Desde a época das chanchadas o tema marca presença em muitas produções nacionais. Em novelas de televisão, embora mais raramente, também.

Mas são sempre constrangedoras as cenas em que o jogo é representado. Beques patéticos levam dribles desmoralizantes, como bandidos coadjuvantes desfalecendo aos montes com pequenos socos do mocinho das lutas marciais. Chutes impossíveis descrevem parábolas sem tempo nem espaço, como tiros do justiceiro alcançando invisíveis inimigos tocaiados a quilômetros.

Diálogos completos e pausas longas para troca de olhares e sinais entre personagens no meio do jogo. Movimentos falsos. Goleiros molóides. Bicicletas perfeitas. O craque que sai enfileirando os onze adversários com rolinhos, chapéus, calcanhares, os zagueiros malvados dando socos e cuspes, o juiz safado roubando explicitamente. Talvez só o teatro infantil, aos olhos de adultos sem filhos que, sabe-se lá por quê, estejam na platéia, provoque impacto pior.

Deixo de lado a questão primeira: por que o cinema tem de tentar capturar e expressar o futebol na ficção? Acho que é uma falsa lacuna, talvez fruto de quem pensa que o cinema é a maior das artes, espécie de alma e espírito das épocas e humanidades. Eu não. Muito ao contrário.

Trato de dois outros aspectos que ajudariam a explicar a má qualidade da ficção cinematográfica sobre futebol. O primeiro, a insistência em filmar o futebol como se fosse um balé de virtuoses e malabaristas. O segundo, a impossibilidade de se reproduzir futebol se o jogo não for de verdade.

Não existe gol feio no cinema. Nem em novelas. Nem em comerciais. Na verdade, não existe nem gol bonito. Só gol maravilhoso. O herói dribla o time todo, dá lambreta, lençol, bicicleta, calcanhar, tudo numa só jogada, em geral a decisiva, no último minuto, definindo a partida ou o campeonato.

O futebol é visto como um show dos Harlem Globe Trotters. Ou como um mestre de kung Fu em acrobacias fantásticas.

E o principal: se o jogo não for a sério (e falo desde a pelada da praia ou de rua até a final da Copa do Mundo), os movimentos, lances, arranjos, acasos, sentimentos, posicionamentos, acertos, erros, e tudo o mais que caracteriza o jogo,  são absoluta, explicita e vergonhosamente
falsos. Um teatrinho sem graça de quedas, trombadas, lentidões, espaços, tabelas e dribles que não existem. O futebol só existe jogado. Em cada participante há uma carga dramática que evolui sem roteiro, em tempo real, a cada segundo, cada lance, cada erro, cada acerto. E são vinte e dois em combinações impossíveis de prever e de reproduzir como ficção.

Nos documentários é que o futebol se dá melhor. Vidas de craques, histórias de conquistas clubísticas, memórias de copas. É que neste caso a câmera busca mostrar, ampliar, carregar o que há de drama em cada lance, cada personagem, cada trama. Com duas vantagens. Uma, o final da história é conhecido, então tudo assume condição de causalidade, seja linear ou cruzada ou aleatória, e isso dá riquezas e verossimilhanças ao suposto roteiro. A outra, a câmera lenta, que, em vez de fantasiar e inventar lances e reações que não existem, expõe, vivamente, o que há de mais real e cru em cada movimento, e mostra como o jogo é difícil, é duro, é fortuito e que só é possível de ser jogado verdadeiramente. Sem fingimento. Sem ensaio.
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Luiz Guilherme Piva é autor de Ladrilhadores e semeadores (Editora 34) e A
miséria da economia e da política (Manole).