O último pôr-do-sol em Brasileirão City
Torero
Agora é recolher os corpos, enxugar as lágrimas, limpar o sangue.
Chegaram ao fim os duelos em Brasileirão City. E foi um último dia emocionante. Três destemidos caubóis poderiam ficar com a estrela dourada de xerife: Will Uai, Tim Timão e Louis Laranjeira.
Quem quisesse saber de tudo, teria que ficar com os olhos numa luta, os ouvidos noutra, e com o nariz na terceira, para sentir o cheiro chumbo e sangue.
Mas havia ainda outras lutas e outros caubóis interessantes. Alguns lutando pela glória, outros, pela vida.
Era o caso de Victoria Salvador e Dave Dragon. A bela cauguel tinha que vencer para não ser mandada para Série B Village. E ela lutou como pode. Mas estava nervosa demais e o confronto terminou sem tiro certo nem sangue derramado. Aliás, as melhores chances acabaram ficando com Dragon, agora o único caubói do cerrado em Brasileirão City.
Outro que foi expulso da nobre cidade foi o jovem Pete Prudente. Em seu duelo de despedida, levou três balaços de James Colorado. Pete, o homem sem nome e sem cidade, terá que lutar muito para voltar a Brasilerão City.
Sancho Pampa teve um encontro decisivo com Set Fire. Decisivo, mas não difícil. O alvinegro e solitário caubói estava nervoso e logo perdeu seu chapéu Santana. Isso o perturbou ainda mais, e em seguida levou o primeiro tiro. Pouco depois, o segundo. E o terceiro veio no começo da parte final. Sancho teve uma recuperação impressionante este ano, e há até quem diga que seu chapéu Gaúcho foi o melhor da competição.
Outro caubói celeste se deu bem nesta rodada final de duelos. Foi Will Uai, o destemido das gerais. Ele venceu Big Green na Arena Alligator. Parecia que seria uma luta fácil, pois Green veio apenas com armas de brinquedo. Mas os revólveres de água estavam carregados com algo mais ácido, e logo cegaram um olho de Will. O caubói mineiro teve que lutar muito, e só no último minuto é que conseguiu virar a situação e acabar como vice-xerife. Um razoável prêmio de consolação. Se Will pudesse ter feito seus duelos no Saloon Big Boy from Minas, talvez tivesse sido o grande vencedor do ano. Mas não existe “se” em Brasileirão City.
Um duelo surpreendente aconteceu entre John Esmeraldine e Tim Timão. John, assim como Big Green, levou armas de criança para lutar. Mas seus estilingues se mostraram melhor que seus revólveres. Tanto que ele começou vencendo, aproveitando-se de um furo no colete de Tim.
Tim, porém, era melhor e lutou muito, mas só conseguiu empatar o duelo. Estava nervoso e, para seu azar, as balas acabavam no colete de Esmeraldine ou na trave de alguma mesa. Com o empate, Tim acabou em terceiro lugar. Se sua principal arma, uma Ronald Colt 145 (quilos, não calibre), estivesse um pouco melhor, poderia ter ficado com a estrela dourada. Tim ainda depende muito deste bom mas antigo revólver. Seria bom ir se acostumando a lutar sem ele.
O índio Guarani, por já estar com passagem comprada para Série B Village, dava a impressão que seria uma presa fácil para Louis Laranjeira. Ledo engano. O Guarani lutou como nunca. Se tivesse sido sempre assim, talvez continuasse na capital dos duelos.
A luta ficou empatada por 61 minutos. 61 minutos de aflição para Louis e esperança para Tim e Will. Mas então, com uma bala que passou entre as pernas de duas cadeiras, Louis finalmente fez verter o sangue do índio. Guarani não tinha mais forças para atacar. Aquela tinha sido a bala final, para alegria e glória de Louis Laranjeira.
Foi uma conquista dura, difícil, contra valorosos inimigos, e que veio apenas nos instantes finais. Por isso mesmo, mais saborosa. Ela se deve em boa parte ao chapéu Muricy, um tanto cinzento, mas que protege bem e ajuda Louis a pensar com mais lógica.
Aliás, os chapéus fizeram a diferença. Tim Timão perdeu o seu, da marca Mano. Louis manteve o seu. E isso acabou decidindo as coisas em Brasileirão City. Isso e milhares de outros detalhes.
Agora o sol já se pôs e cai a noite sobre Brasileirão City. Mas, na memória, este dia não acabará nunca. Na memória dos fãs de Laranjeira, este glorioso dia nunca verá o sol se pôr.
PS: As ilustrações de André Bernardino para este post foram feitas a partir de cartazes de filmes clássicos.