Blog do Torero

O último pôr-do-sol em Brasileirão City
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Torero

Agora é recolher os corpos, enxugar as lágrimas, limpar o sangue.

Chegaram ao fim os duelos em Brasileirão City. E foi um último dia emocionante. Três destemidos caubóis poderiam ficar com a estrela dourada de xerife: Will Uai, Tim Timão e Louis Laranjeira.

Quem quisesse saber de tudo, teria que ficar com os olhos numa luta, os ouvidos noutra, e com o nariz na terceira, para sentir o cheiro chumbo e sangue.

Mas havia ainda outras lutas e outros caubóis interessantes. Alguns lutando pela glória, outros, pela vida.

 

Era o caso de Victoria Salvador e Dave Dragon. A bela cauguel tinha que vencer para não ser mandada para Série B Village. E ela lutou como pode. Mas estava nervosa demais e o confronto terminou sem tiro certo nem sangue derramado. Aliás, as melhores chances acabaram ficando com Dragon, agora o único caubói do cerrado em Brasileirão City.   

 

Outro que foi expulso da nobre cidade foi o jovem Pete Prudente. Em seu duelo de despedida, levou três balaços de James Colorado. Pete, o homem sem nome e sem cidade, terá que lutar muito para voltar a Brasilerão City.

  

Sancho Pampa teve um encontro decisivo com Set Fire. Decisivo, mas não difícil. O alvinegro e solitário caubói estava nervoso e logo perdeu seu chapéu Santana. Isso o perturbou ainda mais, e em seguida levou o primeiro tiro. Pouco depois, o segundo. E o terceiro veio no começo da parte final. Sancho teve uma recuperação impressionante este ano, e há até quem diga que seu chapéu Gaúcho foi o melhor da competição. 

 

Outro caubói celeste se deu bem nesta rodada final de duelos. Foi Will Uai, o destemido das gerais. Ele venceu Big Green na Arena Alligator. Parecia que seria uma luta fácil, pois Green veio apenas com armas de brinquedo. Mas os revólveres de água estavam carregados com algo mais ácido, e logo cegaram um olho de Will. O caubói mineiro teve que lutar muito, e só no último minuto é que conseguiu virar a situação e acabar como vice-xerife. Um razoável prêmio de consolação. Se Will pudesse ter feito seus duelos no Saloon Big Boy from Minas, talvez tivesse sido o grande vencedor do ano. Mas não existe “se” em Brasileirão City.

 

Um duelo surpreendente aconteceu entre John Esmeraldine e Tim Timão. John, assim como Big Green, levou armas de criança para lutar. Mas seus estilingues se mostraram melhor que seus revólveres. Tanto que ele começou vencendo, aproveitando-se de um furo no colete de Tim.

 

Tim, porém, era melhor e lutou muito, mas só conseguiu empatar o duelo. Estava nervoso e, para seu azar, as balas acabavam no colete de Esmeraldine ou na trave de alguma mesa. Com o empate, Tim acabou em terceiro lugar. Se sua principal arma, uma Ronald Colt 145 (quilos, não calibre), estivesse um pouco melhor, poderia ter ficado com a estrela dourada. Tim ainda depende muito deste bom mas antigo revólver. Seria bom ir se acostumando a lutar sem ele.

 

O índio Guarani, por já estar com passagem comprada para Série B Village, dava a impressão que seria uma presa fácil para Louis Laranjeira. Ledo engano. O Guarani lutou como nunca. Se tivesse sido sempre assim, talvez continuasse na capital dos duelos.

A luta ficou empatada por 61 minutos. 61 minutos de aflição para Louis e esperança para Tim e Will. Mas então, com uma bala que passou entre as pernas de duas cadeiras, Louis finalmente fez verter o sangue do índio. Guarani não tinha mais forças para atacar. Aquela tinha sido a bala final, para alegria e glória de Louis Laranjeira.

 

Foi uma conquista dura, difícil, contra valorosos inimigos, e que veio apenas nos instantes finais. Por isso mesmo, mais saborosa. Ela se deve em boa parte ao chapéu Muricy, um tanto cinzento, mas que protege bem e ajuda Louis a pensar com mais lógica.

Aliás, os chapéus fizeram a diferença. Tim Timão perdeu o seu, da marca Mano. Louis manteve o seu. E isso acabou decidindo as coisas em Brasileirão City. Isso e milhares de outros detalhes.

Agora o sol já se pôs e cai a noite sobre Brasileirão City. Mas, na memória, este dia não acabará nunca. Na memória dos fãs de Laranjeira, este glorioso dia nunca verá o sol se pôr.

PS: As ilustrações de André Bernardino para este post foram feitas a partir de cartazes de filmes clássicos.


Sempre aos domingos: Serrano e Vitorino
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Torero

Texto de Jaime Belmiro*

Estava no bar da Preta, filial Campinas (tá ficando rica, a Preta), degustando um fenomenal pastel de queijo cujo óleo, que escorria pelas mãos, faria qualquer nutricionista embranquecer os cabelos.

De repente, vejo sentar-se a meu lado dois velhos amigos: Vitorino, o bugrino e Serrano, o pontepretano.

Era impossível não ouvir suas vozes tão acalorada era a discussão.

''O futebol de Campinas já era'', decretou Serrano, o pontepretano, já batendo na mesa.

''Vamos parar de besteira. Nem tudo está perdido'', acalenta Vitorino, o bugrino.

''Como não, ó rebaixado? Tá feliz, é?''

''É certo que não estou feliz com o resultado final dos times de Campinas, mas tivemos alguns bons momentos esse ano, Serrano.''

''Quá! Quá! Quá! Era só o que me faltava! Um perdedor conformado! Que bons momentos, cara-pálida?''

''Cara-pálida, não! Lembre-se que o índio aqui sou eu! Mas veja, o Bugre teve o artilheiro da competição, Roger, na maior parte do 1º turno''.

''Isso! Aí seu clube, num flash de brilhantismo (Serrano bate dois dedos na testa), vende o cara e o time fica seis, sete jogos sem marcar um mísero gol. Genial!''

''Acontece, fazer o quê? Olha a Ponte: depois da Copa emendou seis vitórias seguidas e chegou à vice-liderança! Que momento!''

''Cê tá louco?! Era ressaca da Copa. Ninguém queria saber muito de futebol depois que o Brasil perdeu e a Ponte só aproveitou… E nas últimas 10 rodadas? As únicas coisas que venceram foram as contas e o meu desodorante. Abre os olhos, Vitorino.''

''Func, Func. Vou é tapar o nariz. Ora, vislumbre pelo lado bom. Pelo menos, o time pôde já se preparar para o ano que vem… O Bugre, por exemplo, tem seu centenário em 2011.''

''Grande coisa! Estará nas 2ªs divisões do Paulista e do Brasileiro no ano do centenário. Que bela comemoração, hein?!''

''Bom, Serrano. Veja que será mais fácil o Bugrão conseguir mais um título, né?''

''Nem me fale em título, Vitorino. Nem me fale em título! Já falei que esta gozação conosco já cansou.''

''Ops, perdão, rsrs''. Vitorino, o bugrino, precisa falar de outro assunto/time. ''E o Red Bull? Que achou?''

''Aquela equipe que venceu na Fórmula 1? Detesto esporte onde um entrega a vitória para o outro, Vitorino.''

Vitorino franze a testa, pensativo. ''Bem, nosso futebol hoje não está muito diferente disso… Mas não, Serrano. Falo do time de futebol Red Bull de Campinas: Campeão Paulista da A3 este ano''.

''Sim, aquele que perdeu a Copa Paulista a três minutos do fim? Tá representando bem as derrotas do futebol campineiro''.

''Bom, Serrano. Quer saber? Vou embora! É muito chato discutir futebol com você. Tchau. Tenho que me preparar para a decisão de domingo.''

''Que decisão, Vitorino? Seu time já tá rebaixado! Não tem mais nada que fazer''

''É, mas pode definir o campeão brasileiro de 2010''.

''Que migalha… Por mim, quero que tudo se exploda''.

''Que que é isso? Você é muito desumano, Serrano''.

''Ahh, você é que é um eterno e inocente menino, Vitorino''.

 

 

Jaime Belmiro* é analista de sistemas e torcedor do Guarani, que vai decidir o Brasileirão 2010.


Pesquisa
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Torero

Neste domingo você preferiria ver qual jogo pela tevê. Corinthians, Cruzeiro ou Fluminense?


Sempre aos sábados: O torcedor não merece esse tratamento
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Torero

Texto de Anderson Santos

Torcedor na fila com sua cadeira de praia antes mesmo de divulgarem os locais de venda. Além disso, ingressos inflacionados por se tratar de um jogo esperado há 26 anos. Ataque cardíaco e morte na fila por causa de tanta espera – e o torcedor era vascaíno, estava fazendo um favor -, tantos outros que desmaiaram. Gente dando ''carteirada'', passando por toda uma fila imensa e comprando muitos ingressos, enquanto os ''normais'' só podiam comprar um ou dois, quando o anunciado eram três.

Eu não escrevo há um bom tempo, mas já passei por situação de ficar em fila por horas e horas, vendo cambista fazendo a festa e a desorganização imperar. É um absurdo tamanha desorganização e não tem como ficar calado perante a isso.

Quando é que os dirigentes de futebol deste país colocarão em suas cabeças que o principal personagem é o torcedor? Que é ele que não abandona o time quando ele fica tanto tempo sem vencer o maior torneio de futebol do país, que aturou três quedas consecutivas na década de 1990?

E o principal, somos nós torcedores (e aqui falo no geral), que pagamos os ingressos, que compramos os produtos oficiais do clube, que compramos produtos dos patrocinadores dos times, que pagamos o pay-per-view de alguns jogos e assistimos as propagandas na TV aberta para comprar mais produtos ainda. Quando vão perceber a nossa importância, fundamental, para este esporte?

Um colega meu de trabalho costuma dizer que a torcida do CSA-AL é ''safada'', pois o time sempre vai nos dar aquela falsa espectativa, vamos encher o Rei Pelé e depois assistiremos à derrota sepulcral. Acho que nós torcedores, de qualquer time, nós que vivemos nesse país, independentemente de gostar de futebol ou não, também podemos ser tachados disso. Apanhamos, sofremos, reclamamos na hora, mas nada de concreto fazemos.

Será que teremos que propor um boicote das torcidas nos estádios, um boicote à transmissão na televisão, um boicote a patrocinadores de times para podermos ser respeitados?


Toreroteca do gol campeão
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Torero

Quem fará o gol campeão?

Esta é a pergunta da toreroteca de hoje.

Será Ronaldo aos 17’ do primeiro tempo?

Será Fred aos 3’ do segundo?

Será Wellington Paulista na prorrogação?

É claro que a coisa pode ser mais complicada. O Fluminense pode ganhar de 4 a 0, e nesse caso o gol campeão seria o do 1 a 0. Ou então o Guarani pode vencer (em tempo, acho a mala branca algo aceitável) e o Corinthians ficar no zero a zero. Nesta hipótese, o gol campeão seria de alguém do time campineiro.

Mesmo que ninguém acerte na mosca, inventarei uma regra e mandarei o prêmio para um dos apostadores. Aliás, o livro é este aqui:

Por que um livro sobre o Fluminense? Porque ele é o mais provável campeão, ainda mais que o Marcio Rezende de Freitas já se aposentou (o Simon, juiz de Fluminense x Guarani, às vezes erra, mas não tanto).

Mande aí seu palpite.

O meu é Conca, aos 22’ do primeiro tempo.


Sempre às sextas: E o “Prato de Comida” vai para…
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Torero

 Texto de Marcio R. Castro

A última rodada do campeonato, finalmente. Além da luta pela vaga na Libertadores e da briga para se manter na primeira divisão, uma acirradíssima disputa pelo título. Nada mal. 

Mas eu gostaria que outra taça também estivesse em jogo nesse domingo. Uma que não fosse conquistada dentro das quatro linhas, mas ainda no vestiário: o inestimável troféu ''A Bola Tem Que Ser Um Prato de Comida'', destinado aos representantes da nobre arte de motivar jogadores.

É mesmo uma pena que as palestras motivacionais dos treinadores não sejam televisionadas, ao vivo. Ou filmadas em película. Depois de saírem de cartaz, transformadas em DVD e colocadas à venda. Não entendo por que nos privam desse espetáculo curioso e grotesco.

A reação dos jogadores seria um capítulo à parte. Dos poucos constrangidos aos muitos com a pele toda arrepiada com aquelas tocantes palavras, todos renderiam extras preciosos, ainda que hilários. 

Trilhas sonoras melosas, trechos de filmes edificantes, visitas de padres e pais-de-santo, Içamis Tibas diversos, cartas de familiares, faixas de campeão distribuídas antecipadamente, dinâmicas de grupo, recortes de jornal. Vale de tudo um pouco para inflamar o elenco, para conseguir aquele algo mais. Qualquer frase vira menosprezo do adversário, toda opinião da imprensa é uma afronta à honra (e uma arma singular a serviço dos motivadores).

Pelo visto, tais estratégias realmente surtem efeito na maioria dos boleiros. No fim das contas, talvez seja só mais um aspecto do ambiente infantilóide em que vivem os jogadores de futebol. Paparicados e controlados em regime de internato, muitos parecem crianças abobalhadas, que se impressionam facilmente com discursos manipulativos e lotados de clichês.

Imagino que os mais veteranos até achem graça dos ''professores'' e suas táticas mirabolantes de motivação. Ou não, já que muitos deles, ainda em atividade, assumem o papel bravamente.

Por isso, fiquemos tranquilos: novas gerações continuarão surgindo para mexer com os brios dos nossos craques. Só nos resta torcer para que, algum dia, tenham mesmo a ideia de televisionar.


Sete respostas de Arlindo Chinaglia
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Torero

(O deputado Alindo Chinaglia respondeu as sete perguntas feitas por leitores aqui do blog. Eis as respostas)

Caro José Roberto Torero,

Agradeço pelas generosas palavras. Ao redigir a resposta, sábado passado, estava em Monte Aprazível a trabalho.

Leio sua coluna sempre que posso e admiro. Concordo com suas observações quanto ao porquê de o tema ter atraído a atenção de mais leitores do que matérias relativas ao próprio futebol.

Isto sempre reforça a esperança de que, cada vez mais, as pessoas participam da vida política e social do País.

Agradeço, ainda, a boa seleção de perguntas. (Garrincha jogou também no Corinthians).

Vamos às perguntas e às respostas.

 

1) Há algum dado que demonstre que Copa do Mundo realmente traz benefícios?

Trabalhamos com os dados disponibilizados pelo Ministério do Esporte, que aponta os seguintes benefícios:
– investimentos em infraestrutura: R$ 33 bilhões:
– turismo incremental: R$ 9,4 bilhões
– geração de empregos: 330 mil permanentes e 380 mil temporários
– aumento no consumo das famílias: R$ 5 bilhões;
– arrecadação de tributos: R$ 16,8 bilhões
Tal estudo encontra-se disponível a partir do link abaixo:
http://www.esporte.gov.br/arquivos/assessoriaEspecialFutebol/copa2014/estudoSobreImpactosEconomicosCopaMundo2014.pdf

2) Prestação de contas depois da Copa não é pouco? Ela não seria mais útil se acontecesse durante a preparação para a competição? A Câmara tem algum movimento neste sentido? Haverá uma comissão especial para fiscalizar as obras e gastos públicos com a Copa?

Para determinados objetivos, a exemplo da conferência dos resultados mencionados na resposta anterior, só é possível ao final das Copas (das Confederações e do Mundo).

Isso não exclui outras iniciativas, principalmente para fiscalizar a realização de processos licitatórios ou a ausência deles, preços praticados, para saber se são ou não compatíveis com os de mercado, aditamento de contratos etc. Nesse sentido, a legislação brasileira já prevê atribuições a órgãos como o Ministério Público ou o Tribunal de Contas da União.

Na Câmara dos Deputados, foi criada, na Comissão de Fiscalização e Controle, uma Subcomissão para Acompanhamento, Fiscalização e Controle dos Recursos Públicos Federais Destinados à Copa do Mundo de 2014 e às Olimpíadas de 2016

3) Nos últimos 16 anos, as medidas provisórias se tornaram uma rotina. E quase nunca encontram objeção. Se a Câmara tem papel de fiscalizar o poder executivo, por que há receio de derrubar uma Medida Provisória? Isso não conflita até a necessidade de ter um Congresso?

Quando a Constituição foi editada, vinte e dois anos atrás, podiam ser editadas medidas provisórias sobre qualquer assunto, com infindáveis reedições.

A Emenda Constitucional n. 32/2001 extinguiu a reedição de medidas provisórias, estabeleceu a proibição de que elas regulassem determinadas matérias (a exemplo de normas relativas a cidadania, nacionalidade, questões orçamentárias, poupança popular) e determinou o trancamento da pauta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal após decorridos 45 dias de sua edição.

É certo que o sistema ainda possui imperfeições, tanto assim que, em 2008, quando presidia a Câmara dos Deputados, trabalhamos e foi aprovada em primeiro turno Proposta de Emenda Constitucional que buscava aprimorar ainda mais as regras relativas à edição e tramitação das medidas provisórias. Tal Proposta ainda não foi votada na Câmara dos Deputados em segundo turno. Este é um tema em permanente debate, pelo menos para alguns.

Quanto à utilidade do Congresso, ele sempre é necessário e precisa ser fortalecido, pois é o Poder mais democrático e representativo das muitas opiniões existentes na sociedade.

4) O documento da Fifa que propõe que a importação seja livre, ou seja, que pede perdão fiscal e, em última instância, dinheiro público, está disponível para a população?

Não sei se todas as informações estão disponíveis para a população. Até porque, na elaboração do relatório da medida provisória, busquei ter acesso a diversas informações e não as obtive por escrito, mas apenas verbalmente.

O que está disponível para o público é uma síntese dos compromissos assumidos pelo Brasil com a Fifa, disponibilizado pelo Ministério do Esporte conforme link abaixo:

http://www.esporte.gov.br/arquivos/assessoriaEspecialFutebol/copa2014/garantiasGovernamentais.pdf

As medidas tributárias mencionadas no referido documento são aquelas constantes do Projeto de Lei n. 7.422/2010, incorporadas no relatório da medida provisória, bem como as previstas no Projeto de Lei Complementar n. 579/2010, que autoriza os Municípios e o Distrito Federal a concederem isenção de ISS à Fifa e a outras pessoas relativamente a serviços prestados relacionados com a Copa das Confederações e com a Copa do Mundo.

5) Provavelmente o Ministério do Esporte fez um estudo a respeito dos ganhos e custos com a Copa, como empregos gerados, aumento de receitas, ganhos com turismo, custo das obras, renúncia fiscal, etc. E provavelmente a Câmara fiscalizou isso, com um segundo estudo, independente. Poderíamos ter acesso a um link, cópia ou algo assim?

Sem ter todos os dados disponíveis, fica impossível qualquer estudo independente. Por essa razão é que optamos por incluir no relatório e foi aprovada a prestação de contas ao final da Copa do Mundo, ocasião em que a Câmara dos Deputados poderá comparar os resultados efetivamente obtidos com aqueles inicialmente previstos pelo Ministério do Esporte.

6) Qual a lógica de tratar de renúncias de arrecadação em um momento em que já se discute, no período pós-eleitoral, alternativas para financiar as reais carências do Brasil (leia-se boatos sobre o retorno da CPMF)?

Na medida em que o Brasil se candidatou a sediar uma Copa do Mundo e assumiu compromissos com a Fifa, entendemos que tais compromissos devem ser honrados. Além disso, os benefícios fiscais relacionados com as Copas são transitórios. Por fim, há que se observar que, segundo as estimativas feitas pelo Ministério do Esporte, a renúncia fiscal é da ordem de 300 milhões de reais, ao passo que o aumento de arrecadação estimado é da ordem de 16,8 bilhões de reais. Portanto, o Estado vai arrecadar quase cinquenta vezes mais do que a renúncia fiscal estimada.

7) Se há meios de se melhorar a infraestrutura para a Copa, é sinal de que há condição de se fazer isso sem a Copa. Por que tivemos que esperar por ela?

Até agora, não se fizeram determinados investimentos em infraestrutura por falta de recursos ou porque foram considerados prioritários outros investimentos, inclusive relacionados com infraestrutura, a exemplo do Programa de Aceleração do Crescimento.

Acredito que um evento como a Copa obriga um trabalho articulado das 3 esferas de governo. Acredito, ainda, que terá um efeito mobilizador de recursos e investimentos, inclusive da iniciativa privada, visto que acaba sendo criado um grande mercado consumidor. A conferir.


“A Divina Comédia” do futebol
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Torero

O leitor certamente já ouviu falar de Dante. Não, não aquele meia que jogou na Ferroviária na década de 50.

Falo de Dante Alighieri (1265-1321), o autor de ''''A Divina Comédia'', livro em que ele conta como seriam o inferno, o purgatório e o paraíso.

Pois bem, há alguns dias, antes de dormir, li ''''A Divina Comédia'', comi uma feijoada e passei os olhos pelas páginas esportivas desta Folha. Tal combinação gerou um sonho esquisitíssimo, em que eu andei pelos nove círculos do inferno. Mas não um inferno comum. Tratava-se de um inferno futebolístico, no qual em cada círculo havia um tipo de pecador e uma punição diferente. Aliás, nesse inferno não havia círculos, mas campos de futebol.

No primeiro campo estavam os jogadores covardes, aqueles que não têm coragem de dividir uma bola. O seu castigo era ser aguilhoados eternamente por moscas e vespas.

No segundo estavam os fominhas, aqueles que não passam a bola jamais, que tentam partir para cima dos zagueiros e acabam desperdiçando o lance. Esses eram fustigados por um vento constante e inclemente e jamais conseguiam encostar na bola.

No terceiro encontrei os fazedores de cera, os que inventam contusões e ficam atrasando partidas. O castigo desses era machucar-se de verdade a todo instante e sentir dores tão terríveis quanto às que simulavam.

No quarto campo havia os armandinhos. Eles eram forçados a jogar uma partida interminável, sem intervalo nem nada, só tocando a bola de lado, um para o outro, o outro para o um. Um jogo infindável e estéril, no qual jamais havia um drible ou um chute a gol.

No quinto círculo deparei-me com aqueles que deram carrinhos por trás. Esses tinham que jogar num campo de gelo, de modo que jamais conseguiam ficar em pé. E, se um pensasse em ficar deitado, Lúcifer, juiz daquela partida, espetava-o com um tridente.

No sexto ficavam os árbitros que inventam pênaltis e não marcam impedimentos claros, mais ou menos como os que tiraram do Santos o Campeonato Brasileiro de 95. Esses eram colocados no círculo central, cercados por cem diabretes, cada um com um apito, e esses sopravam na orelha daqueles por toda a eternidade.

No sétimo campo vi os torcedores que brigam em estádios e praticam vandalismo. Sua pena era ficarem algemados às arquibancadas vendo um interminável jogo de seu maior inimigo. Presenciei, por exemplo, uma multidão de camisas verdes assistindo a um jogo do Corinthians.

O oitavo campo era a morada dos empresários desonestos. Mas esses não jogavam. Seu castigo é que foram transformados em traves e passavam a eternidade levando boladas.

Pior era o nono e último círculo, destinado aos dirigentes corruptos. Esses perderam seus corpos, e suas cabeças eram usadas como bolas de futebol.

Depois, passei pelo purgatório, onde ficavam os pernas-de-pau, e, então, finalmente cheguei ao paraíso.

Ali, na beira do gramado, aquecia-se o seguinte time: Yashin; Carlos Alberto, Figueroa, Bobby Moore e Nilton Santos; Beckenbauer e Cruyff; Garrincha, Maradona e Pelé. Foi quando Pelé pegou a camisa 11 e falou para mim: ''''Você se importa de completar o nosso time? O Rivellino está atrasado''.''

Foi um bom sonho.


Link legal – Mario Monicelli
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Torero

Clique aqui para ver a abertura do filme ''O incrível exército de Brancaleone'', um grande filme de Mario Monicelli, que se suicidou ontem, aos 95 anos,  atirando-se da janela do hospital. Um final que combina com ele.

Quanto ao filme, de certa forma é o pai de ''Em busca do cálice sagrado'', do Monthy Phyton.

Quem não viu está perdendo um filmaço.


Tico, Teco e a tabela do Brasileiro
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Torero

 

Quando cheguei ao Bar da Preta, os dois estavam lá na mesa do canto.

Um era Tico, supervisor de planejamento avançado de tabelas da CBF. O outro era Teco, diretor adjunto de regulamentos e afins.

Sentei-me na mesa ao lado, abri o jornal para que não me reconhecessem e fiquei escutando a conversa da poderosa dupla.

“Pois é, Teco, andam reclamando que estes últimos jogos estão uma barbada.”

“Mas estão mesmo, Tico. Você já tinha visto o São Paulo perder de 4 daquele jeito? O Vasco também não foi grande coisa ontem. E nem vou falar do Palmeiras. Depois que tomou o segundo gol, ficou com medo de passar do meio de campo.”

“É verdade. No segundo tempo, quando o Kléber deu um chute, deu para ver ele torcendo para a bola não entrar.”

“Quase vibrou quando o goleiro defendeu.”

“É, eu vi. Tem uma turma que não está se esforçando mesmo. E na próxima rodada vai ser igual.”

“Que vai, vai, Tico. Goiás e Guarani já não querem nada com nada.”“O pior é que andam dizendo que a culpa por este final de campeonato chocho é da tabela.”

“Adoro quando falam da gente.”

“Eu também, Teco.”

“Só que tem uma turma querendo mudar a tabela.”

“Em time que está empatando não se mexe.”

“Também acho, mas eles, não. Tanto que já há duas sugestões. Uma turma quer que o segundo turno tenha uma ordem diferente de jogos. Assim, o primeiro colocado começaria enfrentando o último, depois o penúltimo, aí o antepenúltimo e assim por diante.”

“Ah, entendi. Querem guardar os jogos decisivos para o fim. Uma mistura de pontos corridos com mata-mata.”

“É.”

“Hum, tem sua lógica, Teco…”

“O outro grupo está sugerindo que os clássicos regionais devem ficar para o fim.”

 “Hum…, bem bolado. Realmente, se o Vasco tivesse jogado contra o Fluminense e o Palmeiras contra o Corinthians, os jogos de domingo teriam tido mais sangue. Ou, pelo menos, algum suor. Eles não iam querer facilitar as coisas para os maiores inimigos.”

“Então vamos mexer na tabela, Tico?”

“O quê? Ceder à simples lógica? Nunca! Nós somos artistas, Teco, e arte tem que ser polêmica.

“Assim que se fala, Tico! Viva a arte das tabelas!”

“Viva!”

Então eles brindaram com seus copos de café com leite e tomaram um grande gole. Depois, Tico cochichou:

“Na verdade, eu não quero é mexer no Excel de novo. Dá um trabalho…”

“Eu sei, Tico, eu sei.”