Sempre aos domingos: Pelé e a filosofia
Torero
Luiz Guilherme Piva
A história da filosofia ocidental tem um grande divisor de águas, ocorrido em meados dos anos 1000. E o embate entre as duas correntes conforma muito das diferenças na formação das sociedades modernas. Isso porque não houve Pelé naquela época – cuja existência poderia ter suprimido as divergências entre os pensadores.
Uma das correntes, a mais antiga, pré-socrática, que deu base ao pensamento religioso, escolástico, metafísico e tomista, predominou na Europa até cerca de 1500, mas depois se concentrou na Península Ibérica e migrou para a América Central e do Sul, presidindo a formação intelectual e social das colônias hispânicas e portuguesas. Para ela, a verdade existe em si e cabe ao homem desvendá-la – sem nunca consegui-lo, visto que só vislumbramos arremedos e ilusões, sombras na caverna, manifestações parciais. A essência, plena e una, está guardada acima e fora do nosso alcance.
É óbvio que, se tivessem visto Pelé jogar, os próceres dessa doutrina a teriam renegado. A essência plena, a verdade maior do futebol estava ali, de carne e osso, correndo, chutando, driblando. Não eram sombras enganosas, não eram ilusões ou deformações da nossa parca apreensão intelectual.
A outra corrente, fortalecida a partir de 1500, mas sobretudo a partir do século XVIII, negou a metafísica e consolidou o império da razão e do experimentalismo (ou empirismo), dando base ao iluminismo, ao racionalismo e ao cientificismo. Para ela, que vingou nos países saxões e germânicos, principalmente, e migrou para a América do Norte, conformando parte de sua história, não existe a verdade essencial, só o mundo concreto: a verdade é construída pelo conhecimento.
É óbvio que, se tivessem visto Pelé jogar, também os fundadores dessa doutrina a abjurariam. Não poderia ser deste mundo o ser que corria, chutava e driblava como ele o fazia. Tratava-se, acreditariam, de simulacro ou sombra de algo maior, perfeito, ao qual jamais teríamos acesso por meio da razão.
Pode-se cogitar, então, que as duas correntes existiriam da mesma forma, apenas trocando de lugar os defensores de cada uma – e então tudo seguiria igual, com suas conseqüências culturais, sociais e políticas intactas.
Pode ser. Mas não creio. Acho que, se tivessem visto Pelé jogar, as duas acabariam convergindo para um leito comum – que restou para sempre, desde então, inexistente e inviável – que poderia ter ocupado o curso central do pensamento humano, no qual razão e metafísica ocupassem, harmoniosamente, seus respectivos espaços e dimensões. Não ocorreu.
Até hoje ciência e religião se digladiam, e alguns poucos ainda buscam o encaixe que as concilie. Mas em vão. A ausência de Pelé naqueles momentos inaugurais do pensamento moderno privou para sempre a humanidade e as sociedades da sua síntese fundamental.
E ainda hoje nos pegamos, cientistas materialistas de um lado, e metafísicos essencialistas de outro, ocupados com duelos e dúvidas em torno de questões menores como a verdade, o movimento, o tempo, a natureza e o ser.
Quando poderíamos já ter resolvido tais pendengas para nos dedicar ao que de fato é grandioso, que são as certezas e dúvidas que afloram na razão e no espírito ao ver e rever Pelé jogar.
Luiz Guilherme Piva é autor de Ladrilhadores e semeadores (Editora 34) e A miséria da economia e da política (Manole)
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José Carlos Prats
16/09/2011 17:19:26
Texto pretensioso. Quer dizer muito, mas diz muito pouco.Melhor faria se ao invés de escrever de maneira anedótica, escrevesse sobre algo que enriquecesse o tempo de quem se dipõe a lê-lo.
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Torero
08/11/2010 07:25:02
Daqui a alguns minutos.
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Analís
08/11/2010 03:57:05
1º corrente: A verdade em muitos casos, deve ser sentida, sentida pelo Deus que habita dentro de cada um de nós, mesmo que ainda não comprovada pela ciência.2º corrente: A unica verdade absoluta, é que não existe verdade absoluta. A ciência comprova aquilo que os recursos da época permitem que seja comprovado. Na nossa história, muitos astrônomos, matemáticos, que tinham uma grande ligação com a espiritualidade, buscaram comprovar, não a existência de Deus, pois isso já faz parte do que disse anteriormente, mas a realidade do nosso universo, mas o que era considerado verdade para um, poderia em décadas, ou séculos, ser modificada por um outro astrônomo, matemático, etc. Hoje não existe cura para câncer, mas essa verdade já não é tão verdadeira como há alguns anos atrás, graças aos avanços da ciência, até que a verdade seja totalmente modificada (amém).O ideal seria que essas duas correntes trabalhassem em conjunto, e não separadas.
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alan
07/11/2010 23:45:49
Cara...comenta algo sobre a rodada do campeonato.
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Arnaldo Kuroski
07/11/2010 19:48:18
Pena que na época não existia os recursos da TV de hoje.Viríamos cenas incríveis...Mais de 1.200 gools e outros perdidos memoráveis.
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Deivy
07/11/2010 19:46:38
Tem razão o Piva.Pelé é desconcertante.Bem que eu quiz ser marxista, mas como se eu sei que Deus existe é negro e jogou com a camisa 10 do Santos Futebol Clube ?Além do mais, depois de vê-lo jogar alguém ainda acredita nas leis da Física?
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sergio
07/11/2010 18:57:09
Pelé é inigualavel e inexcedivel. A perfeição em todas as artes. Em nenhuma delas alguem chegou perto. Na música adoro Bach, Beethoven, Mozart, Vivaldi. Na pintura, conheço os grandes mestres. Idem, arquitetura, escultura, literatura, etc.Como dizia Nelson Rodrigues, êle era uma força da natureza,: chovia, trovejava e relampejava.Você foi muito feliz na sua síntese.O relógio de todas as religiões e do mundo deveria ser mudado para AP e DP. (antes e depois de Pelé). Assim todos os povos e criaturas atingiriam a verdadeira harmonia.
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cesar alejandro zuccala
07/11/2010 12:03:26
Bonito e inteligente texto. Mas eu ainda considero que a verdade absoluta nunca sera desvendada, porque depende do homem imperfeito que a ve. Eh extremamente dificil, ate diria impossivel livrar-nos de crenças incutadas na nossa infancia. A imparcialidade definitivamente nao existe. Todo mundo eh questionavel, ate Pele. Cada atleta, idolo, esportista, tem sua epoca e seduz como ninguem a sua geracao. Veja na musica, um Verdi, Bach, Beethoven sao facilmente superados por um Iron Maden, Justin Beber!! No futebol tem gente que soh enxerga um Ronaldo, esquecendo Garrincha, Maradona, Distefano, Pele... No automobilismo tem gente que eh Emerson, Senna ou Piquet...Tem gente ate que diz que Pace era fora de serie..O dia que tiver um jogo, Brasil e Argentina e o arbitro puder ser um brasileiro ou um argentino, vou acreditar na imparcialidade humana....Bom domingo..!
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ubiratan dos santos maia
07/11/2010 11:55:46
Eu vi Pelé jogar, estou com 67 anos, varias vezes ao vivo, vi nas vitórias e nas derrotas, e como testemunha ocular da história posso dizer e provar:...PELÈ..., IGUAL...,TALVES, MELHOR..., NUNCA!
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nelson maciel filho
07/11/2010 11:36:54
Não quero te questionar, mas se utilizar da filosofia para divinizar o Pelé é no mínimo presuçoso demais. No esporte temos esportistas tão grandes ou até maiores do que o Pelé. No futebol temos o Maradona, Puskas, Garrincha, Di Stefano. Na fórmula um temos o Sena, o Prost, o Lauda, o Shumacher. No basquete temos o Magic Jhonson, o Kobe, o Bird e principalmente o Michael Jordan, na minha opinião o atleta mais completo, mais perfeito, o maior esportista de todos os tempos. E assim teríamos outros grandes monstros sagrados em diversas modalidades na vida. Agora para fazer analogia filosófica teríamos que nos reportar aos filósofos sócrates, Platão, Aristóteles, aos teológos Paulo, Calvino, Lutero, Agostinho e principalmente falarmos do maior Homem que viveu neste planeta, que deu a vida pela humanidade, que tinha uma filosofia, mudou os padrões éticos, morais e sociais. Estou falando de Jesus muito maior do que todos os que eu citei e infinitamente superior ao Pelé, pois Jesus é a ponte, o Logos da vida. Me desculpe eu ter falado tanto, mas ainda que ache o Pelé um gênio não o vejo como o melhor atleta de todos e como homem ele deixa muito a desejar.
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