Blog do Torero

Arquivo : December 2010

Futebol, kichute e galinhada
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Torero

Luiz Guilherme Piva

 

Laranja lima debaixo da árvore. Cedinho, a relva molha os pés e a bola. Sol de domingo na horizontal. Bostas de vaca aqui e ali. Secas, tiradas com chutes. Água de bica na mangueira do casebre, do qual saem cheiro de café e uma parte da família amontoada na bicicleta, cuja trilha demarca a linha do meio-campo. Cordão do calção desamarrado, meião, bate-bola pro aquecimento, mosquitinhos nas perebinhas do joelho, cruzamentos pro goleiro se alongar. 

O time da casa chega aos pedacinhos. Uns magrelos vindos do capinzal com kichute na mão. Uns grandes, de bicicleta, descalços. Um a cavalo. Dois de carroça. Mais uns dez de caminhonete.  Tem sarará, negão, branquelo, pardo, gordo, espigado, índio. A camisa velha, amarela e uma outra cor já apagada. Shorts, bermudas, calças dobradas até o joelho.

Já sem relva, sem bosta de vaca, há umas galinhas no canto onde acaba a grama. Dentro de um gol, uma cadela sonada. Carniça no córrego atrás do campo, com moscas, urubuzinhos, flores silvestres, arbustos.

Do casebre outra parte da família sai e senta no chão perto do campo. Uns meninos barrigudos às vezes entram pra brincar no meio do jogo com uma dente-de-leite furada. O pai atravessa o campo na bicicleta duas ou três vezes no leva e traz de alguma coisa – e pode parar no que seria o círculo central pra ficar assistindo a uma cobrança de córner ou a um pênalti. Se der rebote, ele poderá até deitar a bicicleta, jogar o chinelão de lado e dar um bico na bola de volta pro lugar de onde ela veio.

Velhos de chapéu na beirada picam fumo. Três mocinhas assanhadas dão jeito de passar pela grande área, roupinhas coloridas, rindo e cochichando. Um barulho de bambu partido com facão. Bois mugindo e vindo. Dá pra ouvir forte os que chutam de pés descalços, com as solas mais grossas que o kichute dos menores. O juiz fica sentado perto do casebre, conversa com a dona enquanto o marido ainda não volta. Se este desponta na trilha, ele levanta e apita infinitamente, correndo pra demarcar o local da falta.

 O sol agora é diagonal. Segundo tempo alto. Nada de gol. Um comecinho de briga. Os visitantes assistem – é entre eles daqui, que se entendam. No final, dois gols do time da casa: confusão na área, poeira, empurrões, um negão no primeiro, um menino sarará no segundo, põem pra dentro. Do casebre, dois rojões. A mãe entra em campo e abraça o moleque, suado, sardento, sorrindo, sebento. Depois, prende a barra do vestido numa ponta com as mãos e volta aos pulinhos. Os velhos do outro lado tomam pinga.

Fim do jogo. Os visitantes só de meião, sem camisa, sobem na carroceria. Levam mangas, milhos, mudos. Não são onze horas, mas no casebre já tem galinhada. As camisas do time, de listras amarelas e outra cor, nas bacias. Vão passar a tarde no arame, orgulhosas, bandeiras agitadas em festival. O sol imenso deixa tudo deserto, avermelhando os morros e as distâncias até a noitinha, só com o som da Rádio Globo chiando um Flamengo e Madureira.

Luiz Guilherme Piva publicou Ladrilhadores e semeadores (Editora 34) e A miséria da economia e da política (Manole).


São Silvestre
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Torero

Caro leitor, querida e adorada leitora, informo-vos que este ano correrei a São Silvestre.

Sim, eu, que nunca corri mais do 10 km numa prova, decidi correr a mais famosa corrida brasileira, e que tem nada menos do que 15km, incluindo a terrível subida da Brigadeiro.

Depois contarei aqui tudo o que acontecer na prova (que disputarei ombro a ombro com Marcelo Lyra, meu algoz em várias corridas já relatadas neste blog; clique aqui para ler um texto com o biltre).

É claro que não vou começar a treinar neste fim de semana, que o descanso é sagrado (sábado para os judeus, domingo para os cristãos, e eu como seguidor da moral judaico-cristã, tenho que seguir estes preceitos).

Mas na segunda já inicio meu duro treinamento, que, creio, começará com uma boa caminhada até a padaria. É preciso começar devagar.


Meus leitores: Biffi, o homem do Oeste
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Torero

Na seção “Meus leitores” de hoje vou falar de um sujeito bem humorado, que não é caubói mas entende de Oeste como ninguém. Aliás, sempre que o Oeste joga ele manda uma pequena reportagem sobre o jogo, o que me poupa um bocado trabalho.

Denílson de Oliveira Biffi tem 33 anos. Nasceu em Itápolis, mas mora em São Paulo há 12 invernos. Trabalha como analista de sistemas para bancos de pequeno a médio porte (inclusive para o Panamericano, o que pode explicar os recentes problemas do banco).

Biffi tem um sobrenome um tanto particular, e por conta disso tem que aguentar piadas do tipo: “Ah! Vamos comer o Biffi!”, ou trocadilhos como “E aí, bisteca!?”. Obviamente, como este é um blog de respeito, não faremos chistes infames como estes.

Biffi a cavalo

Ele é casado com Karina há sete anos. O namoro começou em 2000, na empresa em que ele trabalha (ao que consta, ela não prestou queixa por assédio sexual). Eles não têm filhos, mas, em compensação, possuem sobrinhos, afilhados e diversos priminhos. Ou seja, criança é o que não falta na vida deles.

O futebol entrou bem cedo na vida de Biffi, pois seu pai sempre assistia aos jogos do Palmeiras. “Mas de camisa cinza, porque a TV Philips dos anos 80, que o dinheiro podia comprar à época, era em preto e branco. Demorava quase um minuto pra ligar e ainda mais uns dois pra esquentar e a imagem parar de correr.”

Quando era pequeno, Biffi queria ser goleiro, assim como seu pai era nos times de várzea da cidade (“Tiririca e Viracopos, nome sugestivíssimo”).

Ele conta que nunca foi grande coisa no futebol, “mas, como no gol eu atrapalhava menos que nas outras posições, acabava sendo goleiro reserva do time da escola, goleiro reserva do time da Patrulha Mirim de Itápolis e goleiro reserva do time juvenil de handebol da cidade”. Neste último, ele foi campeão regional, ganhando a final contra Pirassununga. E Biffi até jogou os dois minutos derradeiros, quando a partida já estava definida.

Como todo mundo, Biffi às vezes fica meio enrolado

Biffi explica seu amor pelo Oeste: “Até meus 7 anos de idade, eu morava numa casa que ficava atrás da arquibancada de cimento do estádio municipal de Itápolis. Era Estádio dos Amaros, na época. Tínhamos como vizinhos um casal de velhinhos, Sr. João e D. Adelaide (que me dava coxinhas de frango deliciosas pelo muro). Eles tinham uma caixa d’água bem alta, mais alta que os muros do estádio e ao lado da arquibancada de cimento. Subindo nessa caixa d’água por uma escada de madeira, assistíamos, meu pai, meu irmão e eu, a vários jogos de graça.”

Na adolescência ele começou a ser frequentador do Estádio dos Amaros. No ano em que o Oeste ganhou o Campeonato Paulista da Segunda Divisão (correspondente hoje à Série A3), ele foi praticamente em todos os jogo, ficando todo orgulhoso de ver a Globo e a Record, em suas emissoras regionais, fazerem a cobertura dos jogos finais.

“Acho que, talvez, a maior loucura futebolística que fiz foi por causa do Oeste. Em 1999, o Oeste foi vice campeão da série A3, e o último jogo do quadrangular semifinal foi aqui em São Paulo, no Estádio do Nacional, na Barra Funda. E lá fui eu com um amigo, olhando no guia de ruas, de metrô e ônibus, assistir ao jogo. Um frio de rachar, e eu lá, no meio da torcida do Nacional assistindo ao jogo. Placar final, Oeste 1 a 0, classificado para a A2.”

Como o Oeste não está tão presente na imprensa como um Corinthians ou um Flamengo, para ficar informado, Biffi recorre a uma comunidade no Orkut (http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=67668) e a um site extraoficial: http://rubrao.blogspot.com/.

Biffi em família

Seu segundo time é o Palmeiras, pelo qual ele diz já ter cometido alguns exageros: “Na Libertadores, quando o Marcos pegou aquele famoso pênalti, eu comecei a pular, com o calcanhar batendo com tudo no chão da sala. O vizinho de baixo deve ter pensado que era um terremoto.”

“Hoje não faço mais essas coisas, até porque a patroa é quase o oposto de mim: odeia futebol, então dou uma maneirada. Nessas horas é imprescindível ter duas TVs. Dependendo da importância do jogo, consigo a concessão de assistir na TV maior. Tento fugir do Galvão Bueno, mas quando encontro o Neto pela frente, sou obrigado a voltar pro Galvão.”

Biffi com a camisa do Oeste

O Goiás e a comida indiana
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Torero

Deve ser estranho ser um torcedor do Goiás hoje.

Por um lado, o time perdeu tudo o que disputou.

Perdeu o campeonato goiano (aliás, nem chegou à final).

Na Copa do Brasil, caiu frente o Vitória, sofrendo um doloroso 4 a 0.

No Brasileiro, caiu para a Série B.

E, na Copa Sulamericana, perdeu a decisão nos pênaltis.

Quatro fracassos.

Por outro lado, nas últimas partidas o time mostrou tanta vontade de vencer que o torcedor deve sentir orgulho do clube. Conseguiu uma vitória memorável sobre o Palmeiras em São Paulo e, nas finais contra o Independiente, mostrou-se melhor que o adversário, só perdendo porque tomou uns gols esquisitos, desses que acontecem em jogo de churrasco de firma no final de ano.

Sim, o torcedor do Goiás deve estar com um gosto amargo e doce na boca, como aqueles pratos estranhos da comida indiana, que não sabemos se são uma refeição adocicada ou uma sobremesa salgada .

Por ora, acho que o torcedor do Goiás ficará dividido. Depois, talvez venha uma ressaca. Afinal, o time não teve nenhuma grande conquista em 2010 e ainda caiu para a segunda divisão nacional, sem falar nas brigas políticas internas, que mancharam o que parecia ser uma administração tranquila (pelo menos para quem está longe) nos últimos dez anos.

Mas deixemos a ressaca para amanhã. Hoje o Goiás pode dizer com orgulho que é vicecampeão da Sulamericana, a conquista internacional mais importante em seus 67 anos de vida.


Viva o dia do cronista esportivo!
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Torero

(Como hoje é o dia do cronista esportivo, republico aqui este texto de 1999)

Nem todos sabem, mas hoje é dia do cronista esportivo. E se nem todos sabem disso, menos ainda são aqueles que sabem porque esse dia, e não outro qualquer, foi escolhido para homenagear a categoria.

É uma bela história. Tudo começou em Roma.

Como se sabe, era comum naqueles dias as pessoas irem ao Coliseu para ver cristãos serem devorados por leões. Não era o que se podia chamar de um jogo equilibrado, e por isso o esporte não fazia muito sucesso.

Numa certa tarde, o estádio estava só metade cheio como sempre e as pessoas olhavam aborrecidas para aquele espetáculo de trucidamento sem graça e emoção. Muitos conversavam entre si e não eram poucos os que roncavam.

Tudo ia assim, nessa modorra, até que um destemido jovem chamado Aulus Lépidus atirou- se na arena e foi observar de perto a dentada final, a prostração do escravo e, por fim, a calma deglutição do rei dos animais. Ficou ali até que o último pedaço humano foi engolido e então correu para a redação da “Acta Diurna”, onde fez uma descrição emocionante de todos os lances daquele duelo.

Para quem não sabe, o “Acta Diurna” é, talvez, o primeiro jornal da história e era colado nas paredes de Roma para que os cidadãos pudessem ficar sabendo dos atos governamentais. Até então ele parecia mais com um diário oficial e poucos leitores lhe davam importância. Porém, no dia em que Aulus Lépidus introduziu a editoria de esportes, as coisas mudaram.

Quando aquela edição da “Acta Diurna” foi afixada, uma grande a aglomeração se formou. E foi tão grande o sucesso que os copistas tiveram que trabalhar dobrado para dar conta dos pedidos. Era só disso que se falava nos banhos públicos.

Conta-se que a, digamos, reportagem, foi lida numa sessão do Senado e que o imperador Constâncio Cloro quis conhecer pessoalmente o rapaz que era a sensação da cidade.

Aulus Lépidus, contente com a fama, passou a fazer reportagens semanais. Todos os domingos ele entrava destemidamente na arena e acompanhava de perto o duelo entre leões e cristãos. Aquelas primeiras reportagens esportivas eram muito úteis para todos. Os estádios ficaram cheios, a “Acta Diurna” passou a ser mais lida e os cristãos ficavam contentes porque tinham a chance de dizer umas últimas palavras que saíam na imprensa. Lépidus ganhou fama, dinheiro e mulheres.

Aí é que começou o problema. Entre estas mulheres estava Flávia Faustina. E por causa dela é que nasceu o dia do cronista esportivo. Explico tudo abaixo.

Flávia Faustina era casada com Marcelus Brunus, que, por uma triste coincidência, era quem alimentava os leões. Quando Brunus descobriu que sua mulher o traía com Aulus Lépidus, o primeiro repórter de campo da história, planejou uma suculenta vingança. Ele não alimentou os leões naquele dia. Um deles, inconformado com um vaziozinho no estômago, considerou que Aulus Lépidus daria uma boa sobremesa. Júpiter o tenha… Aulus Lépidus é considerado até hoje o mártir da crônica esportiva.

Isso aconteceu num longínquo 8 de dezembro e é por isso que hoje se homenageia tão ilustre categoria.


Vencedor da Toreroteca
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Torero

Houve cerca de 250 palpites e uns oito ou nove leitores apostaram que o gol do título seria de Emerson. O prêmio vai para o Cipriano.

Mande aí seu endereço, Cipriano.


O último pôr-do-sol em Brasileirão City
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Torero

Agora é recolher os corpos, enxugar as lágrimas, limpar o sangue.

Chegaram ao fim os duelos em Brasileirão City. E foi um último dia emocionante. Três destemidos caubóis poderiam ficar com a estrela dourada de xerife: Will Uai, Tim Timão e Louis Laranjeira.

Quem quisesse saber de tudo, teria que ficar com os olhos numa luta, os ouvidos noutra, e com o nariz na terceira, para sentir o cheiro chumbo e sangue.

Mas havia ainda outras lutas e outros caubóis interessantes. Alguns lutando pela glória, outros, pela vida.

 

Era o caso de Victoria Salvador e Dave Dragon. A bela cauguel tinha que vencer para não ser mandada para Série B Village. E ela lutou como pode. Mas estava nervosa demais e o confronto terminou sem tiro certo nem sangue derramado. Aliás, as melhores chances acabaram ficando com Dragon, agora o único caubói do cerrado em Brasileirão City.   

 

Outro que foi expulso da nobre cidade foi o jovem Pete Prudente. Em seu duelo de despedida, levou três balaços de James Colorado. Pete, o homem sem nome e sem cidade, terá que lutar muito para voltar a Brasilerão City.

  

Sancho Pampa teve um encontro decisivo com Set Fire. Decisivo, mas não difícil. O alvinegro e solitário caubói estava nervoso e logo perdeu seu chapéu Santana. Isso o perturbou ainda mais, e em seguida levou o primeiro tiro. Pouco depois, o segundo. E o terceiro veio no começo da parte final. Sancho teve uma recuperação impressionante este ano, e há até quem diga que seu chapéu Gaúcho foi o melhor da competição. 

 

Outro caubói celeste se deu bem nesta rodada final de duelos. Foi Will Uai, o destemido das gerais. Ele venceu Big Green na Arena Alligator. Parecia que seria uma luta fácil, pois Green veio apenas com armas de brinquedo. Mas os revólveres de água estavam carregados com algo mais ácido, e logo cegaram um olho de Will. O caubói mineiro teve que lutar muito, e só no último minuto é que conseguiu virar a situação e acabar como vice-xerife. Um razoável prêmio de consolação. Se Will pudesse ter feito seus duelos no Saloon Big Boy from Minas, talvez tivesse sido o grande vencedor do ano. Mas não existe “se” em Brasileirão City.

 

Um duelo surpreendente aconteceu entre John Esmeraldine e Tim Timão. John, assim como Big Green, levou armas de criança para lutar. Mas seus estilingues se mostraram melhor que seus revólveres. Tanto que ele começou vencendo, aproveitando-se de um furo no colete de Tim.

 

Tim, porém, era melhor e lutou muito, mas só conseguiu empatar o duelo. Estava nervoso e, para seu azar, as balas acabavam no colete de Esmeraldine ou na trave de alguma mesa. Com o empate, Tim acabou em terceiro lugar. Se sua principal arma, uma Ronald Colt 145 (quilos, não calibre), estivesse um pouco melhor, poderia ter ficado com a estrela dourada. Tim ainda depende muito deste bom mas antigo revólver. Seria bom ir se acostumando a lutar sem ele.

 

O índio Guarani, por já estar com passagem comprada para Série B Village, dava a impressão que seria uma presa fácil para Louis Laranjeira. Ledo engano. O Guarani lutou como nunca. Se tivesse sido sempre assim, talvez continuasse na capital dos duelos.

A luta ficou empatada por 61 minutos. 61 minutos de aflição para Louis e esperança para Tim e Will. Mas então, com uma bala que passou entre as pernas de duas cadeiras, Louis finalmente fez verter o sangue do índio. Guarani não tinha mais forças para atacar. Aquela tinha sido a bala final, para alegria e glória de Louis Laranjeira.

 

Foi uma conquista dura, difícil, contra valorosos inimigos, e que veio apenas nos instantes finais. Por isso mesmo, mais saborosa. Ela se deve em boa parte ao chapéu Muricy, um tanto cinzento, mas que protege bem e ajuda Louis a pensar com mais lógica.

Aliás, os chapéus fizeram a diferença. Tim Timão perdeu o seu, da marca Mano. Louis manteve o seu. E isso acabou decidindo as coisas em Brasileirão City. Isso e milhares de outros detalhes.

Agora o sol já se pôs e cai a noite sobre Brasileirão City. Mas, na memória, este dia não acabará nunca. Na memória dos fãs de Laranjeira, este glorioso dia nunca verá o sol se pôr.

PS: As ilustrações de André Bernardino para este post foram feitas a partir de cartazes de filmes clássicos.


Sempre aos domingos: Serrano e Vitorino
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Torero

Texto de Jaime Belmiro*

Estava no bar da Preta, filial Campinas (tá ficando rica, a Preta), degustando um fenomenal pastel de queijo cujo óleo, que escorria pelas mãos, faria qualquer nutricionista embranquecer os cabelos.

De repente, vejo sentar-se a meu lado dois velhos amigos: Vitorino, o bugrino e Serrano, o pontepretano.

Era impossível não ouvir suas vozes tão acalorada era a discussão.

“O futebol de Campinas já era”, decretou Serrano, o pontepretano, já batendo na mesa.

“Vamos parar de besteira. Nem tudo está perdido”, acalenta Vitorino, o bugrino.

“Como não, ó rebaixado? Tá feliz, é?”

“É certo que não estou feliz com o resultado final dos times de Campinas, mas tivemos alguns bons momentos esse ano, Serrano.”

“Quá! Quá! Quá! Era só o que me faltava! Um perdedor conformado! Que bons momentos, cara-pálida?”

“Cara-pálida, não! Lembre-se que o índio aqui sou eu! Mas veja, o Bugre teve o artilheiro da competição, Roger, na maior parte do 1º turno”.

“Isso! Aí seu clube, num flash de brilhantismo (Serrano bate dois dedos na testa), vende o cara e o time fica seis, sete jogos sem marcar um mísero gol. Genial!”

“Acontece, fazer o quê? Olha a Ponte: depois da Copa emendou seis vitórias seguidas e chegou à vice-liderança! Que momento!”

“Cê tá louco?! Era ressaca da Copa. Ninguém queria saber muito de futebol depois que o Brasil perdeu e a Ponte só aproveitou… E nas últimas 10 rodadas? As únicas coisas que venceram foram as contas e o meu desodorante. Abre os olhos, Vitorino.”

“Func, Func. Vou é tapar o nariz. Ora, vislumbre pelo lado bom. Pelo menos, o time pôde já se preparar para o ano que vem… O Bugre, por exemplo, tem seu centenário em 2011.”

“Grande coisa! Estará nas 2ªs divisões do Paulista e do Brasileiro no ano do centenário. Que bela comemoração, hein?!”

“Bom, Serrano. Veja que será mais fácil o Bugrão conseguir mais um título, né?”

“Nem me fale em título, Vitorino. Nem me fale em título! Já falei que esta gozação conosco já cansou.”

“Ops, perdão, rsrs”. Vitorino, o bugrino, precisa falar de outro assunto/time. “E o Red Bull? Que achou?”

“Aquela equipe que venceu na Fórmula 1? Detesto esporte onde um entrega a vitória para o outro, Vitorino.”

Vitorino franze a testa, pensativo. “Bem, nosso futebol hoje não está muito diferente disso… Mas não, Serrano. Falo do time de futebol Red Bull de Campinas: Campeão Paulista da A3 este ano”.

“Sim, aquele que perdeu a Copa Paulista a três minutos do fim? Tá representando bem as derrotas do futebol campineiro”.

“Bom, Serrano. Quer saber? Vou embora! É muito chato discutir futebol com você. Tchau. Tenho que me preparar para a decisão de domingo.”

“Que decisão, Vitorino? Seu time já tá rebaixado! Não tem mais nada que fazer”

“É, mas pode definir o campeão brasileiro de 2010”.

“Que migalha… Por mim, quero que tudo se exploda”.

“Que que é isso? Você é muito desumano, Serrano”.

“Ahh, você é que é um eterno e inocente menino, Vitorino”.

 

 

Jaime Belmiro* é analista de sistemas e torcedor do Guarani, que vai decidir o Brasileirão 2010.


Pesquisa
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Torero

Neste domingo você preferiria ver qual jogo pela tevê. Corinthians, Cruzeiro ou Fluminense?


Sempre aos sábados: O torcedor não merece esse tratamento
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Torero

Texto de Anderson Santos

Torcedor na fila com sua cadeira de praia antes mesmo de divulgarem os locais de venda. Além disso, ingressos inflacionados por se tratar de um jogo esperado há 26 anos. Ataque cardíaco e morte na fila por causa de tanta espera – e o torcedor era vascaíno, estava fazendo um favor -, tantos outros que desmaiaram. Gente dando “carteirada”, passando por toda uma fila imensa e comprando muitos ingressos, enquanto os “normais” só podiam comprar um ou dois, quando o anunciado eram três.

Eu não escrevo há um bom tempo, mas já passei por situação de ficar em fila por horas e horas, vendo cambista fazendo a festa e a desorganização imperar. É um absurdo tamanha desorganização e não tem como ficar calado perante a isso.

Quando é que os dirigentes de futebol deste país colocarão em suas cabeças que o principal personagem é o torcedor? Que é ele que não abandona o time quando ele fica tanto tempo sem vencer o maior torneio de futebol do país, que aturou três quedas consecutivas na década de 1990?

E o principal, somos nós torcedores (e aqui falo no geral), que pagamos os ingressos, que compramos os produtos oficiais do clube, que compramos produtos dos patrocinadores dos times, que pagamos o pay-per-view de alguns jogos e assistimos as propagandas na TV aberta para comprar mais produtos ainda. Quando vão perceber a nossa importância, fundamental, para este esporte?

Um colega meu de trabalho costuma dizer que a torcida do CSA-AL é “safada”, pois o time sempre vai nos dar aquela falsa espectativa, vamos encher o Rei Pelé e depois assistiremos à derrota sepulcral. Acho que nós torcedores, de qualquer time, nós que vivemos nesse país, independentemente de gostar de futebol ou não, também podemos ser tachados disso. Apanhamos, sofremos, reclamamos na hora, mas nada de concreto fazemos.

Será que teremos que propor um boicote das torcidas nos estádios, um boicote à transmissão na televisão, um boicote a patrocinadores de times para podermos ser respeitados?