Blog do Torero

Categoria : Futebol

Ronaldo, o brahmeiro
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Torero

(Para não ficar só nos elogios, republico hoje um texto sobre um comercial de gosto duvidoso feito por Ronaldo)

 
Beberraz leitor, alcoofilista leitora, vocês viram o comercial do Ronaldo? O comercial da Brahma? Para quem não viu, faço um resumo: ele aparece driblando vários obstáculos, faz um trocadilho entre o suor dele e o suor da cerveja e acaba dizendo, com um copo na mão, que é um “brahmeiro”.

Como assim? Um atleta importante fazendo comercial de cerveja? Ou pior, um atleta ainda gordo, em recuperação, fazendo comercial de cerveja? Não entendi. E não entendi porque me parece uma propaganda ruim para os dois.
Para a cerveja, porque eu, vendo o comercial, penso: “Poxa, cerveja engorda pra caramba!”. Para o jogador, porque mostra que ele não é um atleta sério. É um cara que bebe mesmo ainda estando longe da sua melhor forma.

A Brahma e Ronaldo já estiveram juntos em outros comerciais. É uma parceria antiga, desde que ele tinha 17 anos. Mas ela já foi mais sutil e inteligente. Lembro que houve uma propaganda chamada “Guerreiro” em que apenas aparecia o rosto do jogador e havia um bom texto ao fundo. Outra trazia Ronaldo como um toureiro, driblando um touro várias vezes até que o vencia e abria a garrafa nos chifres do animal.

Mas este novo comercial está bem abaixo dos anteriores. Agora há uma ligação direta entre futebol e álcool. E obviamente os dois não combinam. A campanha ainda teve o azar de vir logo depois do anúncio de aposentadoria (talvez compulsória) de Adriano, que tem seu nome associado a problemas com bebidas. Estou longe de ser uma virgem vestal, defensor da pureza absoluta ou abstêmio radical. Até sou a favor da liberação de drogas leves (o que existe em parte, já que as bebidas alcoólicas são drogas leves), mas jogador fazer propaganda explícita de cerveja não dá. Passa da conta.

A legislação permite que as propagandas de bebidas abaixo de 13 graus GL (Gay-Lussac) sejam exibidas em qualquer horário. Por isso é que vemos comerciais de cervejas e dessas vodkas ice a toda hora. Porém, em maio de 2007, Lula assinou um decreto que classificou como alcoólica toda bebida com mais de 0,5 grau GL. Só que, inexplicavelmente, esse decreto não restringiu a propaganda de cerveja.

Voltando ao comercial, que foi criado pela agência África, no texto o atacante afirma que tem orgulho de “dar a volta por cima”. Comparar o esforço heroico de Ronaldo para voltar três vezes ao futebol com o suor da cerveja é chamar o espectador de estúpido. É fazer troça da fantástica recuperação do jogador, que deveria falar “Eu sou artilheiro” e não “Eu sou brahmeiro”.

A publicidade brasileira, que já foi das melhores do mundo, vem piorando nos últimos anos. Mas, agora, se superou. Acho que, pelo menos, para desencargo de consciência, esta nova propaganda deveria vir com um daqueles avisos no final, algo do tipo: “O Ministério da Saúde adverte: Cerveja dá barriga e faz você confundir mulher com similares”.


Dois textos sobre Ronaldo
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Torero

Recebi ontem dois bons textos sobre Ronaldo, de André e Al-Chaer. Como são textos quentes, que falam sobre a aposentadoria do jogador, decidi antecipar para esta quarta o “Sempre aos domingos”, quando coloco textos alheios. Amanhã volto a colocar textos meus sobre o artilheiro.


Sobre Ronaldo e Camus
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Torero

 Texto de André Assis

Duas frases do goleirósofo Albert Camus estão, creio, no panteão dos que gostam de assistir ao jogo de bola e de tentar entender o sentido da vida: “devo ao futebol tudo o que aprendi nesta vida sobre moralidade e obrigações” e “o suicídio é a única questão filosoficamente importante”. Acrescente-se aí uma terceira, que ombreia as duas primeiras – embora Falcão, seu autor, não seja filósofo de ofício: “o jogador morre duas vezes; a primeira é quando para de jogar”.

Ronaldo parou. Na média, antes da hora. Para sua história dramática, talvez até um pouco depois. Quatro anos e meio atrás, ouviu do então presidente Lula que estava gordo. Respondeu na hora, bate-pronto, na lata. Sua atitude neste momento, ao ouvir o mesmo comentário do mesmo torcedor, agora ex-presidente, demonstra bem seu novo estado de espírito. Ronaldo desistiu de responder. E optou pelo suicídio em vida, ao concluir que não havia mais muito o que fazer.

Talvez o aspecto mais fenomenal da trajetória de Ronaldo foi a rapidez com que ele passou por todas as fases que uma carreira de jogador pode ter. Chegou ao estrelato cedo demais, se despedaçou cedo demais, tornou-se em fênix cedo demais, despedaçou-se novamente, reergueu-se novamente para, finalmente, ceder à mão pesada da morte.

Acrescente-se, ao aforismo de Paulo Roberto Falcão, que os torcedores também morrem um pouco quando o jogador se retira. Ouvir as palavras espaçadas, lentas, da fala de Ronaldo antes de subir ao cadafalso da bola, lembrou-nos que o tempo está passando para nós, também. Para quem o viu surgir, parece que foi ontem. Aquele menino magricela e dentuço, com aparelho nos dentes, parece que acabou de estrear seu sorriso e seu boné na TV; que foi destaque no Gols do Fantástico ainda no domingo passado, quando fez cinco gols sobre o Bahia, inclusive aquele tento moleque sobre a lenda Rodolfo Rodríguez. Numa das matérias da época Ronaldinho mostrava, com orgulho, seu primeiro carro (embora ainda não pudesse dirigir). Impossível modelo mais sugestivo: era um Gol.

Cálculos de 1993, de ontem, portanto, mostravam que a primeira temporada de Ronaldinho no Cruzeiro foi superior à primeira de Pelé no Santos. A expectativa gerada pelo moleque era imensa. Com o rolar da bola, as coisas voltaram ao devido lugar, e se constatou que Ronaldinho não era, como ninguém é, Pelé. Mas o menino ganhou Copa, superou o Rei no total de gols em Mundiais, e superou-o com folga no quesito enredo dramático. Antes da morte definitiva, Ronaldo morreu vezes várias, a ponto de virar clichê dizer “não duvidem de que ele consegue se levantar de novo”.

Ronaldinho, de boné e aparelho no dente, acabou de aparecer. Ronaldo, homem feito e com filhos à volta, acabou de deixar a vida para entrar para a história. O mais angustiante nessa história toda é constatar que, a cada dia que passa, morremos um pouco, também. O tempo passa, torcida brasileira!

Tristeza não tem fim. Felicidade, sim.

Não tive o privilégio supremo de assistir Pelé e Tostão jogando. Menos ainda Pelé e Garrincha. O mais próximo que cheguei disso, creio, foi assistir em 1997 à dupla Romário-Ronaldo. Considerando que Pelé oficialmente não era centroavante, talvez a RoRo tenha sido a maior dupla de atacantes da história do maior futebol do mundo.

A partida mais divertida, mais lúdica, da Seleção Brasileira em tempos recentes, certamente foi o 6×0 sobre a Austrália, na final da Copa das Confederações de 1997. Romário fez três gols, Ronaldo outros três. A facilidade anormal com que os dois estufavam as redes do então já difícil adversário da Oceania mostrava que aquela dupla provavelmente protagonizaria um passeio no Mundial da França, dali a seis meses. O destino encarregou-se de impedir que isso acontecesse e, pior, encarregou-se de impedi-los de voltar a jogar juntos.

Já é um pouco melancólico ver Romário tornado em deputado, lendo discursos na Câmara. Acrescente-se o choro de um Ronaldo que anuncia sua morte e sua nova condição de “embaixador”. Tristeza não tem fim. Felicidade, sim.


Aposentadoria
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Torero

(Eu estava começando a fazer um texto sobre a aposentadoria de Ronaldo quando pensei: “Acho que já escrevi sobre este assunto…” Dei uma olhada nos arquivos e realmente já tinha feito um texto sobre a aposentadoria dos jogadores em 2001. Para não ser repetitivo, publico o original. E, nos próximos dias, republicarei uns textinhos sobre Ronaldo.) 

Aposentadoria

Não é novidade para ninguém que a carreira de jogador de futebol é curta e sujeita a intempéries. São dez anos -com sorte 15- de vida útil. Alguns, como Júlio César, Mauro Galvão e Romário, são exceção à regra e batem na casa dos 20 anos.

Mas mesmo eles, um dia, terão que pendurar as chuteiras. E aí vem a pergunta: O que fazer quando a bola pára de rolar?

Creio que há três tipos de jogadores aposentados: os meu-mundo-caiu, os começar-de-novo e os superbacanas.

O jogador do primeiro tipo é aquele que, cabisbaixo, canta um velho sucesso de Maísa (“Meu mundo caiu/ e me fez ficar assim/ você conseguiu/ e agora diz que tem pena de mim…”).

Todos já ouvimos falar de pelo menos um atleta que não soube superar o abalo representado pela queda no padrão de gastos, pelo sumiço das loiras e pela indiferença dos jornalistas. Muitos tornam-se alcoólatras e passam o tempo vociferando contra os atletas da atualidade, que ganham muito dinheiro e não jogam a metade do que ele jogava.

O segundo grupo é aquele que canta uma música de Ivan Lins que foi tema da série Malu Mulher (“Começar de novo/ e contar comigo/ vai valer a pena…”).
São jogadores que desaparecem do noticiário, mas que não se afundam na nostalgia, conseguindo uma segunda vida fora do campo. Eles não gostam de falar de futebol, não vêem os gols da rodada e, se por acaso uma bola lhes cai diante dos pés, fazem questão de devolvê-la com as mãos.

Para sobreviver, o começar-de-novo geralmente abre algum comércio, como uma padaria, um posto de gasolina ou um restaurante em sociedade com o cunhado. E há também os que, como Dirceu Lopes, vão viver no interior, trocando a vida dos campos pela vida no campo.

Finalmente, há os superbacanas, que continuam brilhando e cantam em seu chuveiro aquela música de Caetano Veloso: “Toda essa gente se engana ou então finge que não vê que eu nasci pra ser o superbacana”.

Entre eles, muitos são os que se tornam técnicos, como Nelsinho, Telê e Felipão, ou comentaristas, como Raul, Falcão e Casagrande.

Também não são poucos os que tentam a política. Após uma rápida busca pela minha memória (que não é grande coisa), recordo-me de Wilson Piazza, Roberto Dinamite, João Leite, Zé Maria e Biro-Biro.

Zico foi secretário de Esportes, mas hoje, sabiamente, dedica-se mais aos negócios do seu clube, o CFZ. Pelé, que foi ministro, atualmente posa de amigo de dirigentes que até ontem combatia. Podia ser um semideus, mas parece não escolher bem suas companhias.

Cá entre nós, acho que os superbacanas de verdade são aqueles que conseguem se manter no estrelato por alguma causa nobre, e não por buscar a fama ou uma conta bancária com vários zeros. Por exemplo, Raí, Leonardo e Afonsinho. Os primeiros criaram a Fundação Gol de Letra. O terceiro participa de uma ONG no Rio.

Em vez de atuarem em negócios escusos, resolveram participar da vida social.

É de superbacanas assim que o Brasil precisa para não ficar cantando por aí que seu mundo caiu e nem viver na eterna esperança de começar de novo.


Agora sim, férias!
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Torero

Nem sempre você entra em férias no primeiro dia de férias.

Às vezes é necessário um tempo de descompressão, uma fase de desintoxicação do trabalho. 

Hoje, mesmo acordando em tão matinal horário, finalmente sinto-me em férias. É que só agora, ligando o computador, é que me lembrei dos dois jogos da seleção brasileira.

Sim, agora, sim!


Quase nunca aos domingos: Sobre Maracanazos, Felipemelazos e Tolimazos
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Torero

(Recebi um bom texto de André Assis e resolvi colocá-lo aqui no blog, na seção “Sempre aos domingos”, que, por conta de minhas férias, passa a se chamar “Quase nunca aos domingos”)

Por: André Assis

Olá, caro amigo (posso assim chamar-lhe?) Torero.

Dentro das quatro linhas, o futebol de 1950 e o de hoje mudou pouco. A grama continua igual, as traves têm o mesmo tamanho, 11 de cada lado, 90 minutos, apito, moedinha, canelada et cetera. O que Charles Miller via diante de si e o que Neymar vê tem poucas variações. O antes e o durante do gol continuam quase intactos em sua elaboração – o depois é que ficou bem diferente, dancinhas xuxas e chochas e “alo mamãe” para a câmera substituindo a explosão atômica pelo gol obtido. Pelé suava um coração na camisa, e agora os meninos de moicano correm para a lente para fazer corações com as mãos calejadas pelos botões de joystick. Mas sai pra lá, nostalgia – essa coisa de artista em anfiteatro onde o tempo é a grande estrela já era.

Dentro do campo de ludopédio é tudo-meio-mais-do-mesmo. Fora dele é como se fossem esportes diferentes, em mundos diferentes. Se os mundos que viram o Maracanazo e os que agora assistiram ao Felipemelazo e ao Tolimazo fossem iguais, Dunga seria chofer de táxi, Felipe Melo, porteiro, Kaká, mecânico, Ronaldo, técnico de rádio e TV, Iniesta e David Villa, funcionários de cassino, Messi, comerciante.

Em um trecho de Anatomia de uma Derrota (Record, 1986, 1.a edição, pp. 178-180), Paulo Perdigão discorre sobre o destino dos heróis brasileiros e uruguaios após 1950 (nem mesmo a atual campeã de 2010, Espanha, brilhou como aqueles dois times de 1950):

Brasil

Barbosa – Tornou-se funcionário da Suderj.

Augusto – Tornou-se funcionário da Polícia Federal.

Juvenal – Tornou-se funcionário da Rede Ferroviária Nacional.

Bigode – Tornou-se técnico de rádio e TV.

Friaça – Tornou-se comerciante.

Chico – Tornou-se chofer de táxi.

Uruguai

Matías Gonzáles – Tornou-se mecânico mas, devido a problemas com alcoolismo, foi demitido de seu emprego no Frigorífico Nacional.

Gambetta – Tornou-se funcionário de cassino.

Obdulio Varela – Tornou-se funcionário de cassino.

Rodríguez Andrade – Tornou-se porteiro no Palácio Legislativo.

Ghiggia – Tornou-se funcionário de cassino.

Míguez – Tornou-se funcionários dos Correios.

Morán – Tornou-se funcionário público.

Essa revolta toda da torcida do Corinthians, por mais que pareça sandice, tem um quê de lógico. Os franceses costumam dizer “Tout comprendre, c’est tout pardonner “. Talvez. Mas certamente, olhando para a vida bucólica dos pioneiros da arte do futebol, que só se sentiam próximos de estrelas quando olhavam para o céu noturno ainda limpo de poluição atmosférica e luminosa, dá para, sim, compreender um pouco o insano que a torcida do Corinthians carrega neste momento dentro de si. Os carrões dos craquelebridades, feito tanques na Praça da Ira Celestial alvinegra, rompem a entrada. Nessa hora, Marx, Maiconsuel, a luta de classes retorna, e tudo o que é sólido quer se desmanchar no ar, empesteado pelo gás lacrimogênio. Salve o Corinthians, salve a Seleção – mas salve, salvem, acima de tudo, o amor ingênuo e original do passado. 

Taí a nostalgia, ensandecida, voltando, de novo… Control, Alt, Del.

Abraço,

André Gomes de Assis

Ouro Fino (MG)


Ah, se eu não estivesse de férias…
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Torero

Se eu não estivesse de férias, hoje escreveria um texto sobre a eliminação do Corinthians na pré-Libertadores.

Começaria dizendo que a culpa é de todo mundo: jogadores, técnico, preparador físico, torcedores, dirigentes e São Jorge.

Sim, São Jorge, o santo guerreiro, também é culpado. Ele não fez sua parte.

Antigamente ele insuflava os jogadores a se doarem por completo, a saírem encharcados de campo, a jogarem com uma raça de beduíno ensandecido, de apache de filme de bang-bang.

Em que outro clube Biro-Biro seria ídolo? Que outro clube ganharia um Brasileiro como o de 90, quando venceu duas vezes o São Paulo de Raí e Telê Santana com operários como Giba, Guinei, Jacenir, Márcio, Wilson Mano e Tupãzinho?

O Corinthians era o time que sempre acreditava podia vencer. Ontem foi o time que não acreditava que poderia perder.

Aliás, ontem, não. Quando o Corinthians empatou com o Goiás na última rodada do Brasileiro e soube que teria que participar do vestibular para a Libertadores, lembro que, ainda em campo, Ronaldo disse: “Isso não é problema para a gente.”

Não foi só ele quem se enganou.

A comissão técnica deveria ter começado os treinos antes e a diretoria deveria ter reforçado a equipe. A melhor contratação, Liédson, só chega depois da eliminação. Um fiasco.

E nem vou falar na escalação inexplicável de Tite, com três armadores no banco e três volantes em campo.

O Corinthians vem sofrendo um processo de daslunização, e isso é perigoso.

O Corinthians não pode ir contra a sua história.

O Corinthians é o time do suor, não do perfume.

Bem, isso é o que eu escreveria se eu não estivesse de férias. Como estou, não escrevo nada.


Férias!
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Torero

Caros leitores, caríssimas leitoras, vou entrar em férias.

Mas não serão férias simples. Serão férias de um ano. Sim, um ano!

Tenho certeza que uns ficaram com inveja, outros lamentaram minha ausência e uns outros pensaram “Só um ano?, que pena…”.

É claro que estes doze meses podem ser mais ou menos, mas o combinado com o UOL foi um ano.

O motivo é que tenho ideias de algumas coisas para escrever mas, se continuar com este blog e com o do Lelê, não conseguirei colocá-las no papel. Ou, no caso, na tela do computador.

Fazer este blog é muito divertido e, por conta disso, em vez de trabalhar dois dias, como está no meu contrato, acabo trabalhando os sete dias da semana, inclusive aos domingos, como este. E nem conseguiria fazer diferente. Por sua culpa. É, sua!

Juntei aqui uma turma tão inteligente e bem humorada (com exceções que servem de tempero) que me sentiria culpado se não escrevesse com assiduidade. Não tenho dúvida de que tenho os melhores leitores do UOL. Tanto que juntos fizemos ótimas coisas, como a Copa dos Pesadelos e algumas reportagens, como “Qual a maior loucura que você já fez pelo seu time?”

Por isso, há uns quatro anos, todo dia acordo pensando sobre o que vou escrever no blog.

Mas agora me deu a curiosidade de saber o que escreverei se não tiver que escrever. Como será acordar sabendo que vou escrever algo menos imediato, que não será lido depois de alguns minutos na internet? Em que pensarei se pensar menos em futebol? Conseguirei fazer um romance em menos de um ano (o último levou mais de três)? Conseguirei escrever aquela peça sobre Marx e Engels?

Será a primeira vez, desde dezembro de 1994, que não terei um emprego fixo para escrever. Naquele tempo comecei uma coluna no Jornal da Tarde, depois passei para a Folha de S.Paulo, ao mesmo tempo escrevi roteiros para a Globo, e agora estou cá no UOL. São quinze anos em que tive a sorte de receber salários pela minha escrita. Mas agora quero saber o que escreverei se só tiver a mim mesmo para obedecer.

A sensação é como pular no precipício. Conseguirei voar? Acionarei um pára-quedas? Vou me estatelar no chão? De qualquer forma, vou sentir um ventinho gostoso.

Amanhã, quando acordar, será a primeira segunda-feira em muitos anos em que não comprarei um jornal, irei para o bar perto de casa com uma caneta e ficarei anotando ideias para o texto. Vai ser interessante.

Mas não pensem que vocês ficarão totalmente livres de mim. Em março ou abril estréia uma série nas tevês Cultura e TV Sesc (Somos 1 Só), já começaram as filmagens da série FDP, que será exibida pela HBO, há a história de Kubno e Velva, que continua até abril, uma série no UOL Sexo e três livrinhos sairão no primeiro semestre.

Por fim, se a saudade apertar, sempre posso colocar alguma coisa cá no blog. Por exemplo, uma crítica, um aviso de lançamento de livro ou um texto sobre a goleada do Santos sobre o Corinthians na final da Libertadores.

Até breve, Torero.


Três livros: dois de um e um de dois.
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Torero

  Vou começar pelo um de dois, que é um livro de dois autores.  “Ponte Preta, a torcida que tem um time”, de André Pécora e Stephan Campineiro, é um respeitável livro de mais de seiscentas páginas. O número pode assustar, mas, afinal de contas, são 110 anos de história. E, graças a uma escrita fluente, a uma boa divisão de capítulos e a uma boa diagramação, a leitura não pesa.  É um livro bem editado (pela Pontes, editora que nasceu da maior livraria de futebol do país, a Pontes, de Campinas, que não tem este nome por conta do clube ou do bairro, mas sim por causa de seu proprietário José Reinaldo Pontes), com páginas num suave tom amarelinho, fotos, boa diagramação, entrelinhamento generoso, etc…

“Ponte Preta,a torcida que tem um time”, conta desde coisas tradicionais nos livros sobre clubes, como a fundação e a construção do estádio, até histórias mais curiosas, como o nascimento da faixa da camisa e a ligação do clube com o anarquismo. Há também biografias futebolísticas dos principais jogadores passaram pela Ponte. Alguns são craques nacionalmente conhecidos, como Dicá e Carlos, outros são famosos apenas para os torcedores do clube (estes geralmente têm as melhores histórias), como Bruninho, Pitico e Ciasca, o goleiro que operava milagres e entendia de ópera (curiosamente, vi este livro na casa de Zé Cabala e ele estava aberto justamente no capítulo sobre Ciasca). E ainda há, claro, um capítulo especial sobre o Dérbi, o maior clássico do interior do país, e que este ano acontecerá na Série B do Brasileiro.

  O primeiro de um é este Timbuktu. E o um é Paul Auster, um autor que não está na minha Série A mas é bem interessante. O livro conta a história de um cão com nome de gente, Mr. Bones, e seu dono com nome de cachorro, Willy, que é uma mistura de artista com homem de rua.

Não é um daqueles livros fofos sobre cachorros. Está mais para pulga do que para lacinho cor de rosa. Demorei um bom tanto para lê-lo. Não é uma daquelas obras em que seus olhos voam pelas linhas e você acorda de manhã já pensando em como serão as próximas páginas. Li o outro livro do mesmo autor com muito mais gosto.

Invisível tem uma estrutura bem interessante. Ele é dividido em quatro partes, e cada parte a narração se afasta do personagem principal. Mas se afasta em relação à feitura, não em relação ao personaghem. Explico. É que a primeira parte é narrada em primeira pessoa, o jovem Adam Walker. A segunda é escrita em terceira pessoa para Adam Walker. A terceira é feita por um escritor a partir de anotações de Adam Walker. E a quarta é contada por uma pessoa que conheceu nosso personagem.

A estrutura é interessante e a história, idem. Ela conta a vida de Adam, um estudante e candidato a escritor de uns vinte anos, e seu encontro com Rudolf Born, de quem não falo nada aqui para não estragar a leitura. Para atiçar, só digo que há amores bem descritos e um assassinato. Li as 270 páginas em uns cinco dias, o que é uma prova de que o livro é agradável. Pelo menos para mim.


Links legais
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Torero

1-) Aqui você lê o texto “Mercadorias estragadas”, de Marcus Batista, sobre Ronaldinho Gaúcho e outros jogadores que retornam ao Brasil.

2-) Aqui, mais aventuras de Kubno e Velva: