Blog do Torero

Categoria : Futebol

Zé Cabala e Foguinho em volta da fogueira
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Torero

Ontem à noite fui até a casa de Zé Cabala, o supremo correio das almas, o grande facebook dos espíritos.

Fui encontrá-lo em seu quintal. Ele e Gulliver, seu assistente anão, estavam em volta de uma fogueira. Sentei-me entre eles e perguntei:

“Estão fazendo algum ritual xamânico?”

“Acabou o gás e estamos assando salsichas”, respondeu Gulliver.

Só então reparei que havia ali uma grelha improvisada.

O mestre dos mestres retirou um espeto, mordeu a ponta de uma salsicha e disse:

“O que o traz aqui em plena noite de domingo, foliculário?”

“Não houve nenhum jogo interessante e preciso fazer um texto para amanhã de manhã.”

“Isso vai lhe custar uma taxa extra.”

“Quanto?”

“Um botijão de gás.”

“Feito.”

Então o supino sábio levantou-se e começou a dar voltas em torno da fogueira. Começou andando, depois acelerou, e por fim correu como um doido. Depois de algumas voltas, sentou-se esbaforido.

“Bah, tchê, nada como um exerciciozinho. Mas podiam ter me arranjado um corpo melhor.”

“Quem sois vós, oh, ser do além?”

“Foguinho.”

“Foguinho?”

“Bah, já vi que não entendes nada de história de futebol. Já ouviste falar em estilo gaúcho de jogar?”

“Claro.”

“Esse estilo sou eu. Eu que inventei esse negócio de força física, de aplicação tática, de marcação e jogo de conjunto.”

“O senhor? Por quê? Nasceu muito forte?”

“Pelo contrário. Nasci um ruivo bem franzino, daí o meu apelido. Então, no inverno de 1926, quando eu tinha 16 para 17 anos, caí doente. O médico disse que eu era muito fracote e, se continuasse jogando bola, poderia pegar uma tuberculose.”

“O que o senhor fez? Parou com os exercícios?”

“Pelo contrário. Resolvi fui remar no Guaíba e levantar peso para pegar corpo. Deu certo. Com 19 anos eu era um touro! Mas não um touro xucro. Um touro canhoto e com habilidade, que sabia driblar e chutar.”

“Lembra do seu jogo de estréia?”

“O primeiro a gente nunca esquece. Foi contra o Americano, que era o campeão de Porto Alegre. Ganhamos por quatro a dois.”

“E o primeiro campeonato?”

“Foi o da cidade, em 1930. A final foi contra o Cruzeiro. 3 a 1. E eu fiz o terceiro. Naquele tempo, quem ganhava o campeonato da cidade disputava o estadual contra os campeões das outras quatro regiões: Serra, Fronteira, Nordeste e Litoral. E lá fomos nós.”

“Ganharam?”

“Chegamos à decisão contra o Pelotas, do Litoral. O empate dava o título para eles. Mas de cara abrimos dois a zero. Só que o juiz deu dois pênaltis para o Pelotas e o jogo empatou. Depois fiz o terceiro, mas o juiz deu outro pênalti para eles. Aí não agüentei! Dei um bico na bola, fui expulso, teve tapa pra lá, tapa pra cá, o Grêmio saiu de campo e eu tive que fugir do estádio no carro de um dirigente. Mas o pior é que o juiz mandou o Pelotas cobrar o pênalti, mesmo sem adversário, e perdemos o título.”

“Pena, pena…”

“Mas nos vingamos nos dois anos seguintes. Fomos campeões invictos da cidade e do estado.”

O time de 1931. Foguinho é o último e pé, à direita.

“O seu salário deve ter aumentado.”

“Qual o quê? E eu lá era homem de jogar por dinheiro. Jogava por amor ao clube. Já ganhava bem como funcionário das lojas Renner, não precisava de dinheiro do futebol. Tanto que nem aceitei o convite para jogar no Vasco da Gama e no Botafogo.”

“Quantas vezes o senhor foi campeão?”

“Dez. Metropolitano em 30, 31, 32, 33, 35, 37, 38 e 39, e estadual em 31 e 32.”

“Parou de jogar com quantos anos?”

“Trinta e dois. Quase todo mundo parava por aí. Então fui cuidar da minha alfaiataria no centro da cidade. Mas um ano depois decidi voltar ao futebol. Só que como juiz. Apitei durante dez anos, e era tão correto que o Inter sempre queria que eu apitasse os grenais.”

“Isso sim, é prova de honestidade.”

“Em 53, o Cruzeiro me chamou para ser técnico. Hesitei mas topei. E gostei. De lá voltei para o meu Grêmio. Então pude pôr em prática várias coisas, como o esquema tático da Hungria, o esmero na preparação física e a força de conjunto. Em 55 perdemos o título por pouco, mas depois disso ganhamos cinco estaduais seguidos. Só saí em 1961 porque o diretor de futebol quis escalar o meu time. Aí peguei o boné. Se eu ficasse não seria um homem, seria um rato. Mas tudo bem. O importante é que, como jogador e depois como técnico, eu mudei o jeito da minha terra jogar. Hoje, quando falam em estilo gaúcho, sem saber estão falando de mim.”

 

PS: Quando estava saindo da casa de Zé Cabala, vi na prateleira um livro chamado “Os dez mais do Grêmio”, de Marcelo Ferla, e o marcador de página estava justamente na parte que contava a história de Foguinho. O mundo é cheio de coincidências.


A hora da Seleção dos Pesadelos 2010
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Torero

Sem delongas, vamos aos escolhidos pelos leitores do blog. 

O goleiro, apesar do esforço de Bruno, foi Fábio Costa, disputado por Santos e Atlético Mineiro para ver quem não fica com ele. Teve um ano infeliz, mas santistas e corintianos sabem que é um bom goleiro e que, se ficar em forma, há poucos como ele no Brasil.

 O goleiro ainda pode ser um terror para os atacantes.

 Os laterais mais lembrados foram Victor, do Palmeiras, e Juan, agora no São Paulo. O primeiro me parece inseguro; o segundo, confiante demais. Dá no mesmo.

A zaga ficou com André Luiz e Miranda, o primeiro por se empenhar demais, o segundo, de menos.

No meio de campo está o capitão do time dos pesadelos, ninguém menos do que Felipe Melo, o volante de Dunga. Felipe realizou alguns jogos surpreendentes logo que foi convocado, mas, no fim das contas, fez o que todo mundo esperava: perdeu a cabeça.

Felipe Melo, o pesadelo de Júlio César

 Ao seu lado, outro convocado de Dunga: Kléberson. O volante, talvez a convocação mais criticada de Dunga, pois era reserva no próprio clube, ocupou a vaga de um meia e pouco fez este ano.

Falando em meias, para esta posição foram escolhidos dois jogadores que não jogaram metade do que podem: Kaká, que passou o ano machucado e novamente não fez uma boa Copa, e Diego Souza, que brigou com a torcida palmeirense e não encantou a atleticana. Valdívia também foi lembrado.

Será este o problema de Diego Souza?

 Na frente houve uma grande disputa, mas Adriano, do Roma, e Souza, do Corinthians, acabaram merecendo a posição. Na reserva, Val Baiano e Washington, uma dupla especialista em perder gols.

A partida deste grande time seria narrada por Galvão Bueno e comentada por Neto. A dirigente seria Patrícia Amorim

O pior jogo foi Vasco 0 x 0 Palmeiras, em São Januário, que eu, por sorte, não vi.

O pior esportista fora do futebol foi Felipe Massa, que lembrou o Rubinho dos piores anos.

E o esportista mais citado pelos leitores, aquele que se consagrou como o pesadelo de 2010, foi ninguém menos do que W(V)anderley(i) Lux(ch)emburgo, que assim ocupará o cargo de técnico da nossa seleção de horrores. O veterano treinador, que tantas glórias já conseguiu, parece ter desaprendido, e quase rebaixou dois dos times de maior torcida no país.

Luxemburgo não deu sorte com a camisa do Flamengo.

São-silvestrinas
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Torero

Durante a corrida pude colher algumas histórias. Quatro delas:

1-) Os dois já têm certa idade. Ele é um negro alto e forte, com um bigode imponente. Ela, baixinha e com ar decidido. Ele veio do Rio. Ela, do Ceará. Os dois viajaram para São Paulo em 2006 para participar da prova e ficaram no mesmo hotel. “A gente já se pegou antes da prova”, ela explica.  Os dois acabaram se casando e correm a prova inteira lado a lado.

2-) Todo ano Zaguinha corre com Nossa Senhora nas costas. Mas só isso seria muito fácil, então ele também vai fazendo embaixadas pelo caminho. Teve um ano em que foi controlando a bola durante todo o percurso. Demorou duas horas e meia, mas diz que não a deixou cair. “Para quê pressa, eu não vou ganhar mesmo?”

3- No meio da prova, uma senhorita alta me alcança, olha para a câmera em minha cabeça  e pergunta se eu estou fazendo uma filmagem. Respondo que sim e ela começa a me contar sua história: “Eu corro para provar que não morri. É que eu mudei do meu bairro e todo mundo começou a dizer que eu tinha morrido. Mas eu não morri, tanto que estou aqui”. Depois me distraí um pouco e, quando olhei de novo, ela não estava mais do meu lado.

4-) Jirinaldo correu com uma capa e um chapéu de papelão. A capa era uma propaganda de plástico de Paulo Maluf. E no chapéu estava escrito: “Judas traiu Jesus e o povo traiu Maluf. O povo virou Judas”. Pergunto por que ele é malufista e Jirinaldo me explica que não acredita em nada, nem em Deus, mas acredita em Maluf. Pergunto sobre a honestidade de seu ídolo e ele rresponde: “Maluf nunca foi condenado a nada. Ou ele é honesto ou a justiça do Brasil não presta.”


A primeira São Silvestre a gente nunca esquece. Mas eu vou tentar.
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Torero

Cheguei na Paulista às 15h00. Iria fazer a prova para ajudar uma amiga que está fazendo um documentário sobre a prova.

Antes de qualquer coisa, tirei uma foto com este sujeito:

Logo depois a equipe de filmagem instalava uma câmera em minha cabeça e um microfone em minha cintura.

O microfone pesava uns 200 gramas no começo da prova e uns dois quilos no final. Sem falar que nos primeiros quilômetros o treco estava bem presa, mas, depois, com o suor, as fitas afrouxaram e a câmera veio balançando e batendo em minha testa. Tenho 312 galos para provar.

Eu e Gilvan, o outro cameraman.

Quanto ao microfone, estava coberto com uma capa peluda para evitar o som do vento. Quem olhasse de longe teria a impressão de que eu possuía um enorme e cabeludo membro, que estava ereto e fora do calção. Não é à toa que recebi olhares admirados de algumas senhoritas e parabéns de alguns rapazes.

Quando finalmente largamos, tive que andar por uns cinquenta metros, mas logo era possível trotar e em menos de duzentos já se pode correr. Ou seja, a idéia de que você anda o primeiro quilômetro da São Silvestre é um mito, um exagero.

A descida da Consolação é um consolo para nós, os comuns. Você consegue correr na mesma velocidade dos sujeitos mais atléticos e se sente leve, rápido. Chega até a pensar: “Ah, se eu tivesse saído no grupo de elite…”

Ledo engano. Tudo tem seu preço. Quem acelera na descida morre na subida.

Depois da Consolação vem uma parte plana e o Minhocão. Continuei num bom ritmo e completei o sexto quilômetro, no fim do elevado, em 33 minutos. Ou seja, na média de 5’30”/km. Se continuasse assim faria a prova em 1h22’30”, o mesmo tempo do 4600º. colocado.

Mas logo começaram algumas pequenas subidas e eu comecei a ser ultrapassado. Um cara parecido com o Biro-Biro, mas que carregava um cartaz do Rogério Ceni (sendo aplaudido e vaiado pelo caminho), passou por mim voando. Logo depois foi a vez do Homem-Aranha e do Chapolin.

“O Chapolin, não!”, eu pensei.

Pensei, acelerei e passei. Mas um quilômetro depois ele me passava de novo e desaparecia.

Cheguei ao décimo quilômetro em 58 minutos. A média já caíra bastante. Agora estava em 5’48’. Mesmo assim, se a mantivesse chegaria em 1h27’, por volta da 6100ª. posição. Mas aí cometi um erro.

É que decidi dar-me um prêmio por um tempo tão bom e peguei um copo de água. Enquanto o bebia, comecei a andar e lembrei o quanto é bom uma simples caminhada. Foi como o alcoólatra que bebe a primeira gota. Depois disso, passei a andar e a correr alternadamente. No plano, eu corria. Mas, se houvesse uma subida, mesmo que suave, meus pés se punham em ritmo de caminhada-de-domingo-na-pracinha-do-coreto.

Quando cheguei à subida da Brigadeiro, que tem uns 2 km, decidi que tentaria correr. A decisão durou uns 500 metros. Talvez 400. Não é impossível que 300. Ou 200. Foi quando fiz uma adaptação da filosófica música de Balu, o urso de Mogli, e cantei para mim mesmo: “Eu corro o necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais. Eu corro o necessário, por isso é que essa vida eu vivo em paz.”

Milhares de pessoas me passaram nesta hora. E “milhares” não é exagero.

Decidi voltar a correr nos últimos metros da Brigadeiro e alcancei pelo menos uma pessoa: dona Zélia, uma baixinha gordinha de 61 anos.

Emparelhei e comecei a lhe fazer algumas perguntas: nome, idade, desde quando corria, por quê, etc…

Quando entramos na Paulista, disse que iria ao seu lado até o final.

Pensei que ela ficaria agradecida por eu lhe fazer companhia, mas ela ficou é ofendida. E acelerou. A sexagenária senhora não estava querendo chegar junto deste abdominoso atleta.

Aí achei demais. Uma afronta! Não ia perder para dona Zélia.

Acelerei, dei tudo o que podia, ignorei dores e ardores, e segui com ela até a linha de chegada. Sim, cheguei ao lado de dona Zélia! Podem checar lá no site da São Silvestre. Nós dois tivemos o tempo bruto de 1h41’52”.

É bem verdade que dona Zélia tirou o 18º. lugar em sua categoria e fui o 1476º. da minha, mas que chegamos juntos, chegamos.

No fim das contas, fiquei em 9756º. na classificação geral, com o tempo líquido de 1h37’59”. Uma performance, digamos, modesta.

Perdi para Marílson por apenas 53 minutos.

No dia seguinte, minhas pernas doíam tanto que pensei em amputá-las. Tive dores de cabeça e febre. Nem tirei o pijama no primeiro dia do ano. Nada como a corrida para deixar um sujeito saudável.

Não sei se participarei da São Silvestre em 2011. Prometi a mim mesmo que ano que só tentarei de novo se estiver abaixo dos 80 quilos. 

Para não correr riscos, vou comer um panetone agora.


Última toreroteca
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Torero

E chegamos à última toreroteca. 

Quereis saber sobre o que será?

Pois eu vos digo: sobre a São Silvestre. Mais especificamente, sobre minha colocação na prova.

Sim, atlética leitora e preguiçoso leitor, vós tereis que adivinhar em que posição este colunista com problemas de coluna irá chegar.

No ano passado, 14.925 corredores completaram o percurso.

Minha aposta é que cruzarei a linha de chegada na posição de número 6666. Por quê? Porque é quase o número da Besta, e me sinto meio besta metendo-me nesta corrida. 

O prêmio será, pela derradeira vez, o glorioso, o fantástico, o maravilhoso e mais recente livro deste modesto escriba: O evangelho de Barrabás!

Façam suas apostas! 


Três livros e um filme
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Torero

Por estes dias li três livros e vi um filme. Os assuntos: vampiros, futebol, poesia e tecnologia, coisas que não têm nada a ver uma com a outra, mais ou menos como a ceia de natal lá de casa, que teve peixe, pernil e peru, que só possuem em comum a primeira letra.

O primeiro livro foi este aqui ao lado, de Giulia Moon. Foi meu primeiro livro sobre vampiros (agora já comecei a ler “Entrevista com o vampiro”. Acho que gostei do tema.).

A história divide-se em duas linhas narrativas, uma hoje em dia, em São Paulo, e a outra uns séculos antes, no Japão. Nas duas, a personagem principal é Kaori, uma bela jovem que se torna vampira.

Li o livro com rapidez, e acho que isso aconteceu porque a história é interessante, com bons ganchos. A alternância de uma linha narrativa para outra foi um recurso bem utilizado.

Às vezes as descrições são um pouco longas e nem sempre úteis. Eu, pelo menos, não me importo de saber como Kaori está vestida a cada cena, mas Giulia sempre faz as descrições detalhadas de seus belos vestidos. Imagino que muitas leitoras não devam se importar com isso.

De qualquer forma, este excesso de verbo, ou, no caso, de adjetivos, não atrapalha a trama, que é bem bolada.

Imagino que o livro deva agradar bastante às adolescentes. Mas vi pouca coisa sobre ele na imprensa. Uma pena.

O segundo livro já é bem velho. Tem quase 50 anos. Ele foi escrito por um dos maiores contadores de história do país, talvez o mais popular, e fala do brasileiro mais famoso de todos os tempos. Trata-se de “Eu sou Pelé”, de Benedito Ruy Barbosa.

Na verdade, o livro é apresentado como um depoimento ao escritor, que na época era um reles escriba esportivo como este que vos fala.

O curioso é que esta biografia de Pelé foi feita quando ele tinha apenas 21 anos. Ou seja, ele ainda não sabia o que seria. Tinha vencido apenas a Copa de 1958. Ainda venceria as de 62 e 70, e ganharia mais dois mundiais de clubes, duas Libertadores e seis Brasileiros (sim, isso foi para provocar).

Por conta de seus 21 anos, o Pelé que conta a sua história ainda não sabe que ela será ainda mais grandiosa. Na verdade, ele confessa que pensa em parar com o futebol aos 25 anos, e então vai se casar e passará o tempo se dedicando à família.

Há outras revelações interessantes, como de suas travessuras quando criança, de como foram os dias após a conquista na Suécia ou da cantada que o time do Santos teria recebido de um diplomata numa de suas viagens.   

Uma leitura bem agradável. É de se lamentar que o livro não tenha sido reeditado nos 70 anos de Pelé (falando nisso, fiquem atentos para a toreroteca de amanhã).

O terceiro livro é Uma noite em cinco atos, de Alberto Martins. Trata-se de um diálogo entre Álvares de Azevedo e José Paulo Paes (na parte final, Mario de Andrade se junta a eles, mas pouco fala).

Nunca fui um grande fã de poesia. Dos clássicos, gosto de Manuel Bandeira, Gregório de Matos e Drummond. Dos mais recentes, de Paulo Leminski e, justamente, José Paulo Paes.

Estes cinco, talvez Drummond um pouco menos, conseguem deixar a poesia menos sacra, mais cotidiana, rotineira, bem humorada.

De certa forma, é isso que faz Alberto Martins trazendo dois poetas para conversarem sobre São Paulo e poesia. Os diálogos são ágeis, espertos, inteligentes.

Li o livro em apenas dois almoços (é que tenho o feio costume de levar livro para restaurantes quando estou sozinho e, enquanto a comida não chega, fico lendo).

Foi uma leitura saborosa. Mesmo para quem não é um gourmand em poesia, como no meu caso.

Por fim, vamos ao filme: Tron.

Eu tinha visto a versão anterior, e lembro que não tinha entendido direito a história. Mas não fazia diferença. O importante era ver a revolução estética do filme, o primeiro a usar tanta computação de uma só vez.

Trinta anos depois, a computação já não é uma novidade em si. E a história também não é grande coisa. Há uns empréstimos de Guerra nas Estrelas: o filho que tenta resgatar o pai, a entrada num mundo diferente e em disputa, os capuzes, uma certa “força” vinda da concentração, etc…

O filme parece com uma mulher bela, mas de uma beleza fria. E, para piorar, sua conversa não é muito interessante.

A história me parece uma desculpa para batalhas interessantes. Há mais tecnologia do que emoção.

Voltando à comparação com senhoritas, digamos que há mais silicone que coração.


Piores do ano
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Torero

E vamos à grande eleição: Quem vocês acham que foram os piores do ano? Os maiores fiascos. E podemos sair do óbvio. Além dos piores esportistas em geral (sim, valem outros esportes) e dos 11 jogadores, podemos incluir técnico, torcida, lance, partida, juiz, blogueiro (jáganhei!, já ganhei!), comentarista, dirigente, patrocinador etc…

Vocês votam e depois eu faço as contas por cá.


Pedidos para Papai Noel
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Torero

Chegaram 102 pedidos ao Papai Noel, três vezes mais do que no ano passado.

Alguns dos pedidos se repetiram bastante: são-paulinos querem um meia, corintianos querem a Libertadores, santistas querem o mundial e palmeirenses não querem passar vergonha.

Muitos torcedores, em vez de pedirem a chegada de jogadores, pediram a aposentadoria de dirigentes:

O Paulo César quer que “o Juvenal Juvêncio, o Leco e o Jesus Lopes resolvam que é hora de ficar em casa cuidando só dos netinhos”.

E Carlos Reineres escreveu: “Caro Papai Noel, não sou de desejar mal a ninguém, contudo, não poderia V.S.ª providenciar a aposentadoria do Sr Ricardo Teixeira?”

Mas Jony foi na contramão. Ele quer Belluzo como presidente vitalício do Palmeiras. Jony, claro, é corintiano.

Outrens

Alguns generosos leitores querem presentes para outras pessoas. É o caso de Alex Pina: “Eu pediria para o Papai Noel fazer com que: O Ronaldo ficasse magro/O Adriano sossegado/O Ronaldinho Gaucho bem apessoado/O Neymar não fosse mascarado/O Muricy não fosse emburrado/E o Timão nunca fosse roubado.”

Ado Marcelo, usando seus poderes zecabalísticos, adivinhou o desejo de três ilustres técnicos:

Luxemburgo – “Quero levar o Flamengo à Sulamericana”

Muricy – “Quero nada não, porra!”

Felipão – “Quero ir embora”

Élson disse que Celso Roth quer pegar algum time na metade da competição, pois quando ele pega um time no começo da competição ele não consegue ganhar nada…

E para Sérgio, Ronaldo quer o peso do Neymar e Neymar, um curriculum igual ao do Ronaldo. Já o Murici pediu um saco de risadas mesmo.

Óleo e água

Paulo Souza fez um longo e estranho pedido: que algumas pessoas não acumulassem duas ou mais funções. Por exemplo:

– Jornalistas não poderiam ser publicitários, o que impediria a existência de programas esportivos como pretextos de inúmeros merchans;

– Técnicos de futebol até poderiam ser professores, mas não donos de escolas ou institutos. Isso evitaria certos Vexames. Ou seria Wexames?

– Presidentes da CBF não poderiam ser presidentes do COL;

– Economistas respeitáveis não poderiam ser presidentes de clubes de futebol;

– Apresentadores de TV não poderiam ser donos de bancos;

– Goleiros do Flamengo não poderiam ser… bem, deixa pra lá. Afinal, leitores de blogs não poderiam ser Juízes de Direito.

Milagres

No final das contas, a maioria dos pedidos roga por milagres.

Geraldo, que por sinal se chama Geraldo Milagre, pediu o seguinte:

– Que os ingressos passem a ser nominais e vendidos pela internet, para inviabilizar o negócio dos cambistas;

– Que a numeração dos assentos nos estádios sejam levados à sério.

– Que a polícia, o ministério público e a justiça façam sua parte e torcedores agressivos sejam processados e punidos.

Carlos Alberto Gomes de Araújo não ficou muito atrás, e pediu estatutos que não permitissem que dirigentes como o finado Eduardo Viana e o atual Ricardo Teixeira se perpetuassem no poder. Além disso, ele pede que haja justiça no país e que criminosos engravatados sejam punidos como o são os reles mortais aqui na base da pirâmide social.

David Hepner é aparentemente mais modesto, mas só aparentemente:   “Pediria uma mordaça para o Galvão Bueno.”

O flamenguista Huguenin, utópico legítimo, quer “um Flamengo com um dos maiores e mais modernos CTs do mundo; uma categoria de base que revele craques para o time principal; que o futebol brasileiro seja um dos mais organizados do mundo dentro e fora de campo, com força financeira para não ter que vender os melhores jogadores; estádios supermodernos e que o torcedor seja respeitado em seu máximo; e que em 2011, que o Flamengo ganhe o estadual, a Copa do Brasil, a Copa Sulamericana e o Campeonato Brasileiro.”

O corintiano Valdir, não menos sonhador, deseja que não haja corrupção na construção dos estádios para a copa no Brasil, que o Rogério Ceni deixe outro goleiro jogar, que o Pelé volte a ter 17 anos e, principalmente, que o Bahia não devolva o Souza

Por fim, Caio Delcio, que tem um nome meio para baixo, pede “Que vença o melhor em qualquer torneio que houver”, o que é bem complicado em se falando de futebol.


Zé Cabala e o primeiro campeão brasileiro
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Torero

(Como agora pela manhã os títulos brasileiros foram equiparados, coloco aqui uma entrevista (publicada originalmente na Revista do Brasil) com um dos primeiros campeões.)  

Quando cheguei à casa de Zé Cabala, o grande vidente, o supino telefonista dos espíritos, ele roncava estirado numa rede.

– Mestre?

– Anh? O quê? Eu vou pagar, eu vou pagar!

– Sou eu, mestre.

– Ah…, sei… Quem você quer entrevistar hoje?

– O pessoal da Revista do Brasil me pediu um texto sobre o primeiro campeão brasileiro.

– Já lhe falei que o preço da consulta aumentou?

– De novo?

– Sabe como é, essa política cambial…

– Tudo bem, vamos lá.

Sem sair da rede, o supino MSN das almas deu uns tremeliques. Eu sabia que aquilo significava que algum jogador estava baixando. Esperava que o espírito tivesse um sotaque mineiro, mas o que ouvi foi um cumprimento assim:

– Diga aí, meu rei!

– É… O senhor jogou no Atlético?

– Afe!, só se foi no de Alagoinhas!

– Deve ter havido um engano, eu preciso escrever sobre o primeiro campeão nacional, e qualquer um sabe que esse time foi o Atlético Mineiro em 1971.

– Não, senhor, foi o Bahia em 1959!

– Perdão, mas aquilo era a Taça Brasil.

– E a Taça Brasil era o quê, meu bom? Campeonato regional?

– Não, era nacional.

– Pois então. Olhe, a edição de 1959 teve dezesseis participantes. E não era timinho não, meu nego, era Santos, era Grêmio, era Vasco, era briga de cachorro grande!

– Desculpe, estou falando com quem?

– Com o grande Biriba. Quer dizer, grande como jogador, porque eu era baixinho.

– O senhor era ponta-esquerda, não era?

– Era. Fiz 113 gols pelo Bahia. E olhe que eu comecei tarde no futebol. Eu jogava lá na areia de Itapuã, mas aí o pessoal insistiu tanto que eu fui fazer teste no Bahia. E passei. Isso foi em 54. Eu já tinha 26 anos. Em compensação joguei até os 40.

– Pois não, senhor… Biriba. Então o Bahia precisou enfrentar grandes esquadrões para ser campeão?

– Primeiro a gente passou pelo CSA, depois pelo Ceará e aí decidiu a vaga do Grupo Norte contra o Sport. Ganhamos por 3 a 2 em casa, mas tomamos uma piaba de 6 a 0 em Recife.

– E onde foi a negra?

– Foi comprar pão e já volta. Eh! Eh! Eh! Desculpe a piada, velho, baiano é assim mesmo. Mas, falando sério, a negra foi na Ilha do Retiro. Aí nós lavamos a jega: 2 a 0.

– Depois veio quem?

– O Vasco, todo cheio de guéri-guéri. Ganhamos a primeira lá no Rio, perdemos a segunda na Fonte Nova e aí, na Fonte Nova de novo, ganhamos o desempate por 1 a 0.

– A final foi contra o Santos, não foi?

– Santos não, demônios! Aquele foi um dos maiores times de todos os tempos: Manga; Getúlio, Urubatão, Formiga e Dalmo; Zito e Jair da Rosa Pinto; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.

– Foram três jogos de novo?

– Claro, meu rei. A glória para ser gloriosa tem que ser dificultosa. Metemos 3 a 2 na Vila Belmiro, perdemos por 2 a 0 na Fonte Nova e aí, no desempate, no Maracanã, metemos 3 a 1.

– Caramba!

Biriba é o último agachado à direita

– Olhe, eu respeito o Atlético Mineiro, mas os primeiros campeões brasileiros não foram eles não, foram Nadinho; Leone, Henrique, Vicente e Beto; Flávio e Bombeiro; Marito, Alencar, Léo e euzinho, o Biriba.

– Realmente foi uma grande vitória!

– Menino, prefiro dizer que foi um grande triunfo, um grande êxito.

– O senhor não gosta da palavra vitória?

– Não muito.

– Agora me diga uma coisa: o que o senhor acha do Bahia atualmente?

Naquele momento Zé Cabala começou a emitir os famosos zumbidos, como óóóin, bzzz e tu-tu-tu… Com tantos anos de visitas eu já sabia que aquilo significava a perda do contato e o fim da entrevista.

Pois bem, cara leitora e barato leitor, eis aí a verdade: pensei que ia escrever uma matéria sobre o Atlético Mineiro e acabei falando do Bahia. Tudo bem, o tricolor merece. Ele foi o legítimo vencedor na época em que o campeonato brasileiro dava seus primeiros passos. Na falta do reconhecimento da CBF, fica aqui essa modesta homenagem.