Blog do Torero

O duelo que foi sem ter sido
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Torero

 Por Marcelo Lyra

Pois é, o esperado duelo ao por do Sol na São Silvestre com meu arqui rival José Roberto Torero acabou não ocorrendo. Primeiro porque estava nublado, mas principalmente pelo motivo mais tosco: apesar de estarmos os dois na mesma rua, armados e prontos para disparar (literalmente), simplesmente nos desencontramos na largada. Ele precisou chegar duas horas antes para encontrar a equipe de filmagens da nossa amiga Lina, que fazia um documentário. Como durmo e acordo tarde, às três horas, enquanto ele era equipado com câmera e microfone, eu equipava meu estômago com o almoço.

Combinamos, via equipe do documentário, de nos encontrar na esquina da Paulista com a rua Pamplona mas foi uma tentativa de amadores. Qualquer um que já correu a São Silvestre sabe que haveria tamanha aglomeração que seria impossível se deslocar, quanto mais achar alguém. Eu bem que tentei, mas a cada passo era preciso empurrar homens aranhas, papais noéis, um sósia do Tiririca (super aplaudido), vários chapolins, chaves, estátuas vivas, um Ayrton Senna e até um homem-touro, com chifres de verdade. Esse eu não ia querer atrás de mim. Vai que ele tropeça? E ele ainda dizia para todos que olhavam e riam: “Tá rindo do chifre? Você ainda vai ter um!”

Em meio àquela massa suada (muitos tinham feito aquecimento) que se comprimia a uma média de 15 pessoas por metro quadrado, não havia chances de encontrar meu inimigo. Nosso desafio tinha ido por água abaixo. Depois da corrida, descobrimos que o José Roberto estava há uns cem metros (ou duas mil pessoas) na minha frente. Era só gritar.

Conformado, tentava chegar um pouco mais a frente, já que cada pessoa que ultrapassasse agora seria um a menos para ultrapassar durante a prova. E cada centímetro adiante significava umas dez pessoas a menos.

A corrida estava prestes a começar e eu havia estabelecido três metas:

1)     Não parar de correr. Andar seria uma derrota.

2)     Fazer a prova em menos de 90 minutos.

3)     Chegar à frente do José Roberto.

Ok, ok, chegar à frente do José Roberto era o mais importante. Ao todo eram 21 mil corredores e eu não me importaria em ser o 20.999, desde que o sacana fosse o 21 mil. Tudo para não ler o texto sacana no blog. Após a tentativa frustrada de encontrar meu arqui rival, ainda estabeleci uma quarta meta que era não ser ultrapassado por nenhum corredor com fantasia ridícula.

Em meio à multidão, você só percebe que foi dada a largada porque começa uma gritaria. Dificilmente consegue-se correr antes de passar pelo tapete eletrônico que ativa o chip que cada corredor leva consigo. Dois minutos de passar pelo tal tapete (e meu tempo começar a valer), eu já estava correndo, ao contrário da lenda que corre (com pernas curtas), segundo a qual, na avenida Paulista, só se consegue andar.

A emoção é indescritível. Comecei a rir sozinho de alegria. Finalmente eu estava ali, correndo a mesma prova que o Marílson e alguns dos melhores quenianos do mundo. Ok, eles estavam bem lá na frente, mas quem se importa? Sei exatamente o que deve ter sentido o Bruno Senna ao largar no último lugar na sua primeira corrida de Fórmula 1.

Como a rua Consolação é só descida, continuei sorrindo pelos três primeiros quilômetros. Mas bastou pegar a subida da rampa de acesso do minhocão, lá pelo km 3 para cair a ficha de que a coisa não era brinquedo e, se eu continuasse sorrindo, não ia chegar nem na metade. Comecei a dosar as energias e respirar como qualquer corredor amador que se preze. Ou seja, diante do Minhocão, vi que a coisa era séria.

Passou o Minhocão, chegou o belo e descuidado centro velho de São Paulo.

Alguma coisa aconteceu no meu coração quando eu cruzei a Ipiranga e a avenida São João. Faltou ar, parecia ser um princípio de enfarte. Mas tomei um pouco da água que trazia comigo e fui em frente. Estava decidido a cruzar a linha de chegada, nem que fosse no helicóptero do Incor.

Lá pelo km 10 eu já havia ultrapassado um sem número (bom, pensando bem, todos tinham um número no peito) de fantasias, incluindo um romano, uma estátua viva e um maratonista com coroa de louros levando o que deveria ser uma tocha olímpica. Foi quando vi pouco a frente o Ayrton Senna. O sujeito estava de macacão, capacete e tudo. Lembrei da minha quarta meta, engatei a quinta marcha e fui em seu encalço. Ultrapassei-o dois minutos depois e juro que ouvi a narração do Galvão Bueno “Marrrcelo Lyra ultrapaaaaaaassa Ayrton!!!!” Ok, ok, o sujeito estava de macacão e capacete, devia estar com um calor danado. Mas que eu passei, passei. E deixei O Senna para trás.

O mundo da fantasia daria o troco a seguir, pois um sujeito fantasiado de Chapolin (com macacão e antenas), me ultrapassou. Acho que ainda ouvi um “Me sigam os bons!” Indignado, engatei a sexta marcha e fui em seu encalço. Acompanhei-o por uns dois minutos, mas não agüentei seu ritmo. O Chapolin era realmente bom.

Algumas pessoas ficavam nas portas das suas casas com mangueiras. Era só abrir os braços como que pedindo e te davam um providencial e refrescante jato d’água. Obrigado a todos!

A essa altura já estava lá pelo km 10 ou 11. Quando passei pelo antigo Mappin, lembrei do antigo slogan “Mappin, venha correndo Mappin”. Pois é, vim correndo, Mappin. Depois veio o Viaduto do Chá. O que eu não daria por um bom chá mate e uma poltrona! Ao fundo, vi aquele que é um dos meus cartões postais preferido da cidade, o viaduto Santa Ifigênia, que o Adoniram Barbosa imortalizou em música. Rendi minhas homenagens: juntei o que restava de fôlego para cantarolar um trechinho “Venha ver Eugênia… Como ficou bonito… O viaduto Sta Ifigênia”.

Quando chegou o km 12, vi o início da subida da Brigadeiro. Meus pés e os joelhos doíam, assim como as batatas da perna. Sinceramente, achei que ia desistir. Meu maior inimigo era eu mesmo. Estava com o celular e resolvi sacar e ligar a câmera filmadora dele, para registrar o momento da desistência. Pensei “Quem bom que o José Roberto não está por perto para assistir minha derrota”. Mal eu sabia que, pelas nossas contas posteriores, eu devia estar passando por ele naquele exato momento. Mas estava tão exausto que não conseguiria ver nem a Gisele Bunchen de biquíni. O link para as imagens do meu celular no Youtube é esse aqui http://www.youtube.com/watch?v=sqQ9LEcu12M

Um cara passou por mim me sacaneando, bem no momento em que eu dizia para a câmera “Até agora não parei, mas acho que vou desistir”. Ele ouviu e disse: “Parou sim que eu vi!” Isso me deu um ânimo extra: “Agora é que eu não desisto”. Até consegui conversar com o cara, que estava na sua segunda S. Silvestre, tinha 37 anos e se chamava Márcio Preti, veterano corredor de diversas corridas de 10km.

Quando vi, já estava quase no final da subida. “Vai dar!”. Aguentei firme, mais gente começou a me apoiar. Umas meninas lindas começaram a gritar meu nome e achei que era miragem. Depois lembrei que abaixo do número do peito tinha meu nome, elas apenas leram. Foi um belo estímulo.

Quando cheguei na avenida Paulista, do nada parecia que eu voava! Corria leve e veloz. Achei até que tinha morrido e minha alma tinha abandonado o corpo. Na verdade, descobri uma coisa que ninguém nunca tinha me falado sobre a São Silvestre: quando a subida acaba e você começa a correr no plano, a sensação é que estamos uns vinte quilos mais leves. Comecei a ir mais rápido e vi a reta de chegada. “Vai dar! Vou conseguir!” Voltei a rir sozinho. Cruzei a linha de chegada inteiro e sorrindo, uma emoção incrível! Ainda não acredito.

Dois metros adiante um cara tinha desmaiado e era socorrido por paramédicos e alguns atletas. Olhei preocupado, pois poderia ser o José Roberto. Alívio, não era. Alívio número dois, notei que, na maca, ele tomava água e parecia estar bem, só exausto.

Completei a prova em exatos 88 minutos, ou seja, se o Marílson tivesse dado duas voltas, não me alcançaria. Achei que não fui nada mal, afinal ele treina todo dia e recebe para isso. De quebra, dez minutos à frente do arqui rival. Cumpri todas as minhas metas exceto o maldito Chapolin Colorado. Ano que vem ele não me escapa!


São-silvestrinas
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Torero

Durante a corrida pude colher algumas histórias. Quatro delas:

1-) Os dois já têm certa idade. Ele é um negro alto e forte, com um bigode imponente. Ela, baixinha e com ar decidido. Ele veio do Rio. Ela, do Ceará. Os dois viajaram para São Paulo em 2006 para participar da prova e ficaram no mesmo hotel. “A gente já se pegou antes da prova”, ela explica.  Os dois acabaram se casando e correm a prova inteira lado a lado.

2-) Todo ano Zaguinha corre com Nossa Senhora nas costas. Mas só isso seria muito fácil, então ele também vai fazendo embaixadas pelo caminho. Teve um ano em que foi controlando a bola durante todo o percurso. Demorou duas horas e meia, mas diz que não a deixou cair. “Para quê pressa, eu não vou ganhar mesmo?”

3- No meio da prova, uma senhorita alta me alcança, olha para a câmera em minha cabeça  e pergunta se eu estou fazendo uma filmagem. Respondo que sim e ela começa a me contar sua história: “Eu corro para provar que não morri. É que eu mudei do meu bairro e todo mundo começou a dizer que eu tinha morrido. Mas eu não morri, tanto que estou aqui”. Depois me distraí um pouco e, quando olhei de novo, ela não estava mais do meu lado.

4-) Jirinaldo correu com uma capa e um chapéu de papelão. A capa era uma propaganda de plástico de Paulo Maluf. E no chapéu estava escrito: “Judas traiu Jesus e o povo traiu Maluf. O povo virou Judas”. Pergunto por que ele é malufista e Jirinaldo me explica que não acredita em nada, nem em Deus, mas acredita em Maluf. Pergunto sobre a honestidade de seu ídolo e ele rresponde: “Maluf nunca foi condenado a nada. Ou ele é honesto ou a justiça do Brasil não presta.”


A primeira São Silvestre a gente nunca esquece. Mas eu vou tentar.
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Torero

Cheguei na Paulista às 15h00. Iria fazer a prova para ajudar uma amiga que está fazendo um documentário sobre a prova.

Antes de qualquer coisa, tirei uma foto com este sujeito:

Logo depois a equipe de filmagem instalava uma câmera em minha cabeça e um microfone em minha cintura.

O microfone pesava uns 200 gramas no começo da prova e uns dois quilos no final. Sem falar que nos primeiros quilômetros o treco estava bem presa, mas, depois, com o suor, as fitas afrouxaram e a câmera veio balançando e batendo em minha testa. Tenho 312 galos para provar.

Eu e Gilvan, o outro cameraman.

Quanto ao microfone, estava coberto com uma capa peluda para evitar o som do vento. Quem olhasse de longe teria a impressão de que eu possuía um enorme e cabeludo membro, que estava ereto e fora do calção. Não é à toa que recebi olhares admirados de algumas senhoritas e parabéns de alguns rapazes.

Quando finalmente largamos, tive que andar por uns cinquenta metros, mas logo era possível trotar e em menos de duzentos já se pode correr. Ou seja, a idéia de que você anda o primeiro quilômetro da São Silvestre é um mito, um exagero.

A descida da Consolação é um consolo para nós, os comuns. Você consegue correr na mesma velocidade dos sujeitos mais atléticos e se sente leve, rápido. Chega até a pensar: “Ah, se eu tivesse saído no grupo de elite…”

Ledo engano. Tudo tem seu preço. Quem acelera na descida morre na subida.

Depois da Consolação vem uma parte plana e o Minhocão. Continuei num bom ritmo e completei o sexto quilômetro, no fim do elevado, em 33 minutos. Ou seja, na média de 5’30”/km. Se continuasse assim faria a prova em 1h22’30”, o mesmo tempo do 4600º. colocado.

Mas logo começaram algumas pequenas subidas e eu comecei a ser ultrapassado. Um cara parecido com o Biro-Biro, mas que carregava um cartaz do Rogério Ceni (sendo aplaudido e vaiado pelo caminho), passou por mim voando. Logo depois foi a vez do Homem-Aranha e do Chapolin.

“O Chapolin, não!”, eu pensei.

Pensei, acelerei e passei. Mas um quilômetro depois ele me passava de novo e desaparecia.

Cheguei ao décimo quilômetro em 58 minutos. A média já caíra bastante. Agora estava em 5’48’. Mesmo assim, se a mantivesse chegaria em 1h27’, por volta da 6100ª. posição. Mas aí cometi um erro.

É que decidi dar-me um prêmio por um tempo tão bom e peguei um copo de água. Enquanto o bebia, comecei a andar e lembrei o quanto é bom uma simples caminhada. Foi como o alcoólatra que bebe a primeira gota. Depois disso, passei a andar e a correr alternadamente. No plano, eu corria. Mas, se houvesse uma subida, mesmo que suave, meus pés se punham em ritmo de caminhada-de-domingo-na-pracinha-do-coreto.

Quando cheguei à subida da Brigadeiro, que tem uns 2 km, decidi que tentaria correr. A decisão durou uns 500 metros. Talvez 400. Não é impossível que 300. Ou 200. Foi quando fiz uma adaptação da filosófica música de Balu, o urso de Mogli, e cantei para mim mesmo: “Eu corro o necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais. Eu corro o necessário, por isso é que essa vida eu vivo em paz.”

Milhares de pessoas me passaram nesta hora. E “milhares” não é exagero.

Decidi voltar a correr nos últimos metros da Brigadeiro e alcancei pelo menos uma pessoa: dona Zélia, uma baixinha gordinha de 61 anos.

Emparelhei e comecei a lhe fazer algumas perguntas: nome, idade, desde quando corria, por quê, etc…

Quando entramos na Paulista, disse que iria ao seu lado até o final.

Pensei que ela ficaria agradecida por eu lhe fazer companhia, mas ela ficou é ofendida. E acelerou. A sexagenária senhora não estava querendo chegar junto deste abdominoso atleta.

Aí achei demais. Uma afronta! Não ia perder para dona Zélia.

Acelerei, dei tudo o que podia, ignorei dores e ardores, e segui com ela até a linha de chegada. Sim, cheguei ao lado de dona Zélia! Podem checar lá no site da São Silvestre. Nós dois tivemos o tempo bruto de 1h41’52”.

É bem verdade que dona Zélia tirou o 18º. lugar em sua categoria e fui o 1476º. da minha, mas que chegamos juntos, chegamos.

No fim das contas, fiquei em 9756º. na classificação geral, com o tempo líquido de 1h37’59”. Uma performance, digamos, modesta.

Perdi para Marílson por apenas 53 minutos.

No dia seguinte, minhas pernas doíam tanto que pensei em amputá-las. Tive dores de cabeça e febre. Nem tirei o pijama no primeiro dia do ano. Nada como a corrida para deixar um sujeito saudável.

Não sei se participarei da São Silvestre em 2011. Prometi a mim mesmo que ano que só tentarei de novo se estiver abaixo dos 80 quilos. 

Para não correr riscos, vou comer um panetone agora.


ABC de 2010
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Torero

Texto de Douglas Aluizio

A – de Ahmadinejad, nunca na história desse País, ouvi nos telejornais nego
se enrolando pra pronunciar o nome do presidente do IRÃ…kkkk
 
B – Bruno, ex goleiro do Flamengo é acusado de ser um dos responsaveis da morte de sua ex namorada.
 
C – Copa do Mundo da Africa vê surgir a Espanha como a mais nova seleção campeã do mundo de futebol.
 
D – Dilma Russef é eleita a primeira mulher presidente da história do Brasil.
 
E – Eyjafjallajokull, o vulcão islandês, A Europa viveu em abril de 2010 a pior crise aérea da história. A causa: as gigantescas nuvens de cinzas expelidas pelo Eyjafjallajokull.

F – Filme – Tropa de Elite, entra pra história do cinema nacional, sendo visto por mais de 10.000.000 de pessoas.
 
G – Guillermo Fariñas, dissidente cubano, desafiou o regime de Raúl Castro com uma greve de fome de 135 dias, em protesto pela morte do preso político Orlando Zapata.
 
 H -Haiti – Mais de 250 mil pessoas morreram e 1,3 milhão permanecem desalojadas por conta do desastre.
 
I – Ipad é lançado no Brasil.
 
J – Jabulaaaaaaaaaaaaani, a bola mais comentada em 2.010.
 
K – Kaká, mais uma vez decepcionou na copa do mundo.

 L – Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, Lula deixa o cargo com índices de aprovação altíssimos e visto como um dos líderes mais bem sucedidos da América Latina

M – mineiros, 33 são resgatados em outubro, no Chile

N – Néstor Kirchner, morre em 27 de outubro na Argentina
 
O – Octa, Santos e Palmeiras são reconhecidos como octacampeoes brasileiros pela CBF.
 
P – Paul McCartney volta ao Brasil, e faz 2 shows em São Paulo, no Morumbi.
 
Q – Quebrado, ficou Silvio Santos com o rombo de 2.5 bilhões no banco Panamericano.

R – Rio de Janeiro, vive guerra urbana com vitoria simbólica da policia contra o tráfico.

S – Sakineh Ashtiani, a mulher que teve suspensa o seu apedrejamento, foi noticia em todo o mundo.
 
T – Tiririca, se torna o deputado mais bem votado nas eleições, com mais de 1.000.000 de votos.
 
U – Um dia de Fúria com Michael Dunga, bombou no youtube durante a copa do mundo.
 
V – Volei masculino – Embaixo de acusações de terem entregue jogo, volei masculino é tricampeão na Itália. 

X – Xavi, destaque da Espanha na Copa do Mundo
 
Z – Na Matemática, Z representa o conjunto dos números inteiros. e é como quero entrar  em 2011….


 

Feliz Ano Novo a todos….


Eu, São Silvestre e o Super-Homem
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Torero

(Eis cá a continuação do texto de ontem)

    

Motivação é o segredo.

Em 1998 corri a São Silvestre e não fiquei exatamente entre os primeiros. Fui o 7.563º a cruzar a linha de chegada. E o pior: no final fui ultrapassado por um corredor que usava óculos e uma esdrúxula roupa de Super-Homem.

Para esta prova de 1999 prometi a mim mesmo que melhoraria minha posição e que venceria o Homem de Aço. Motivação é o segredo.

Preparei-me com esmero.Troquei a Fanta Uva por Gatorade, o toucinho matinal por Fibrax, a feijoada de sábado por alfaces, chicórias e agriões. Nadei diariamente, tive aulas de alongamento, musculação e axé music.

Quando o dia chegou, estava pronto para a vingança, para vencer o filho de Kripton.

Cheguei à Paulista faltando meia hora para a prova. O tempo estava quente, abafado e úmido, mas nada disso importava. Alonguei os músculos, amarrei os tênis com laços duplos e rezei uma ave-maria. De repente, lembrei-me que tinha esquecido de me hidratar. Corri então para o bar mais próximo e tomei apressadamente dois litros de água mineral.

Voltei à pista e quem vi? Sim, ele, o invencível, o insuperável, o invulnerável Super-Homem. Ao me ver, o miserável ajeitou seus óculos e, lançando um risinho de superioridade, entregou-me o indefectível folheto com a frase: ''''Quer emagrecer? Fale comigo''.

A prova começou e disparei como uma gazela que foge do fogo, como um tigre atrás da presa, como um cavalo no cio que procura sua fêmea. Passei quatro Elvis Presleys, três Ayrtons Sennas, dois Lampiões e cinco Carmens Mirandas.

Logo me juntei aos profissionais e fugi daqueles barrigudos decrépitos e suas fantasias ridículas. Aliás, meu uniforme para este ano foi uma camiseta roxa, short laranja, boné violeta e tênis fosforescente verde-limão. Ou, se preferirem, verde-kriptonita.

Tudo corria bem até que, ao chegar à avenida Rudge, minha bexiga falou: ''Aqueles dois litros foram demais!''

Meu cérebro tentou contemporizar: ''Você não pode aguentar até o fim da corrida?''

Mas a bexiga, impaciente, respondeu: ''Você está brincando? Eu vou explodir!''

Então tive que sair da pista e ir atrás de uma rua deserta, o que não é fácil em dia de São Silvestre. Até que achei uma, mas demorei para encontrar o caminho de volta.

Depois de perder sei lá quanto tempo zanzando, cheguei à Brigadeiro Luís Antônio. As pessoas me aplaudiam e pensei que ainda estava bem colocado, mas então um gago gritou: ''''Vo-você é o ú-ú-último, mas tenha f-f-fé!''''

Último!

Dei um pique extraordinário e cheguei à Paulista ainda a tempo de avistar um corredor: justamente o Super-Homem de óculos.

Corri como um político que quer pegar o vôo de Brasília para a sua cidade natal numa quinta de manhã, mas percebi que não ia dar. Então tirei um de meus tênis verde-kriptonita e arremessei-o contra a cabeça do Homem de Aço, que caiu desmaiado. Não, ele não era invulnerável.

Cruzei a faixa e recebi uma medalha de participação. Para comemorar, comprei uma Sidra Cereser sabor pêssego e a estourei como se fosse um Paul Tergat. Foi então que olhei para trás e vi o tal Super-Homem correndo em minha direção. Saí dali o mais rápido que pude. Ele só parou de me seguir depois de quarenta minutos e quinze quilômetros.

Acho que este ano atiro o tênis na cabeça dele logo no começo da corrida. Motivação é o segredo.


O dia em que desafiei o homem de aço
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Torero

(No Velharias de hoje publico um textinho de 1999 sobre a São Silvestre)

Por um ano eu mantive este segredo. Um ano! Mas agora basta, é hora de contá-lo: Em 1998 eu participei da São Silvestre!

A decisão, como a maioria das decisões imbecis, surgiu num instante de euforia.

Era Natal. Depois de beber um pouco de vinho, de uísque, de cerveja, de vodca e de caipirinha, bradei para meus amigos: ''Hic! Ezse ano eu vou correr a Zom Zuvestre!''

Burrice feita, só me restava fazer uma boa preparação para a prova. No dia 26 acordei cedo e fiz dez flexões, no 27 fiz 15 abdominais, no 28 corri em volta do meu quarteirão, no 29 comprei um short roxo, uma camiseta laranja e um tênis verde-limão, e no 30 descansei, que ninguém é de ferro.

No dia da prova almocei um gigantesco prato de lasanha a fim de fazer uma boa reserva de carboidratos.

Então vesti meu colorido uniforme e fui para a largada. Admito que estava otimista. Ainda mais depois de observar os oponentes que estavam por ali: um homem carregando um cartaz onde se lia ''''Mamãe, eu tô na Globo'', outro com uma gigantesca mão de borracha, e um outro com o capacete do Senna.

Mas quem mais me chamou a atenção foi um Super-Homem gordinho e de óculos que se alongava ao meu lado. Não sei se foi o seu risinho confiado ou o fato de ele ter me entregue um folheto com a frase ''Quer emagrecer? Fale comigo''. Mas a verdade é que antipatizei com ele e assumi o desafio de derrotá-lo.

Mal foi dada a saída e tomei a dianteira do meu exótico grupo. Naqueles primeiros metros eu estava lépido e fagueiro.

Cheguei a pensar que poderia alcançar o pelotão de elite. Talvez, com sorte, conseguisse até um podiunzinho.

Porém, logo depois da curva no final da rua da Consolação meu baço começava a doer. Mais alguns metros e o coração disparava, mais alguns centímetros e o pulmão arfava, mais alguns milímetros e a língua não cabia mais na boca.

Eu estava determinado a não desistir, mas como minhas pernas estavam decididas a não continuar, chegamos a um acordo: eu pegaria um atalho.

Dobrei a primeira alça do Minhocão e fui andando até o centro da cidade.

Parei num bar da rua Aurora e pedi uma coxinha e uma caracu com ovo enquanto via a corrida pela tevê.

Conta paga, segui até a Praça Ramos de Azevedo, esperei os quenianos passarem para não dar na vista e entrei logo atrás. De repente, eu era o melhor brasileiro da prova.

Tudo ia bem até a subida da Brigadeiro Luís Antônio. Ali, não sei se pelo calor, pelo ovo, pela lasanha ou pela coxinha, comecei a suar frio e a ver as coisas de modo nebuloso.

Diminui o ritmo e quando cheguei à travessa da Treze de Maio parecia um cágado. Ou seu homógrafo imperfeito.

Milhares de corredores me ultrapassaram: velhos de bengalas, cegos, pernetas e até um homem barbado carregando uma cruz.

Quando estava quase na linha de chegada, a decepção maior: o Super-Homem passou por mim e me deu um tchauzinho.

Aquela derrota ficou entalada na garganta e hoje (31 de dezembro de 1999), enquanto estiver me aquecendo para a prova, só terei pensamento: a vingança contra Super-Homem.

Quem viver, lerá.

(amanhã publico a parte final)


Última toreroteca
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Torero

E chegamos à última toreroteca. 

Quereis saber sobre o que será?

Pois eu vos digo: sobre a São Silvestre. Mais especificamente, sobre minha colocação na prova.

Sim, atlética leitora e preguiçoso leitor, vós tereis que adivinhar em que posição este colunista com problemas de coluna irá chegar.

No ano passado, 14.925 corredores completaram o percurso.

Minha aposta é que cruzarei a linha de chegada na posição de número 6666. Por quê? Porque é quase o número da Besta, e me sinto meio besta metendo-me nesta corrida. 

O prêmio será, pela derradeira vez, o glorioso, o fantástico, o maravilhoso e mais recente livro deste modesto escriba: O evangelho de Barrabás!

Façam suas apostas! 


Três livros e um filme
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Torero

Por estes dias li três livros e vi um filme. Os assuntos: vampiros, futebol, poesia e tecnologia, coisas que não têm nada a ver uma com a outra, mais ou menos como a ceia de natal lá de casa, que teve peixe, pernil e peru, que só possuem em comum a primeira letra.

O primeiro livro foi este aqui ao lado, de Giulia Moon. Foi meu primeiro livro sobre vampiros (agora já comecei a ler “Entrevista com o vampiro”. Acho que gostei do tema.).

A história divide-se em duas linhas narrativas, uma hoje em dia, em São Paulo, e a outra uns séculos antes, no Japão. Nas duas, a personagem principal é Kaori, uma bela jovem que se torna vampira.

Li o livro com rapidez, e acho que isso aconteceu porque a história é interessante, com bons ganchos. A alternância de uma linha narrativa para outra foi um recurso bem utilizado.

Às vezes as descrições são um pouco longas e nem sempre úteis. Eu, pelo menos, não me importo de saber como Kaori está vestida a cada cena, mas Giulia sempre faz as descrições detalhadas de seus belos vestidos. Imagino que muitas leitoras não devam se importar com isso.

De qualquer forma, este excesso de verbo, ou, no caso, de adjetivos, não atrapalha a trama, que é bem bolada.

Imagino que o livro deva agradar bastante às adolescentes. Mas vi pouca coisa sobre ele na imprensa. Uma pena.

O segundo livro já é bem velho. Tem quase 50 anos. Ele foi escrito por um dos maiores contadores de história do país, talvez o mais popular, e fala do brasileiro mais famoso de todos os tempos. Trata-se de “Eu sou Pelé”, de Benedito Ruy Barbosa.

Na verdade, o livro é apresentado como um depoimento ao escritor, que na época era um reles escriba esportivo como este que vos fala.

O curioso é que esta biografia de Pelé foi feita quando ele tinha apenas 21 anos. Ou seja, ele ainda não sabia o que seria. Tinha vencido apenas a Copa de 1958. Ainda venceria as de 62 e 70, e ganharia mais dois mundiais de clubes, duas Libertadores e seis Brasileiros (sim, isso foi para provocar).

Por conta de seus 21 anos, o Pelé que conta a sua história ainda não sabe que ela será ainda mais grandiosa. Na verdade, ele confessa que pensa em parar com o futebol aos 25 anos, e então vai se casar e passará o tempo se dedicando à família.

Há outras revelações interessantes, como de suas travessuras quando criança, de como foram os dias após a conquista na Suécia ou da cantada que o time do Santos teria recebido de um diplomata numa de suas viagens.   

Uma leitura bem agradável. É de se lamentar que o livro não tenha sido reeditado nos 70 anos de Pelé (falando nisso, fiquem atentos para a toreroteca de amanhã).

O terceiro livro é Uma noite em cinco atos, de Alberto Martins. Trata-se de um diálogo entre Álvares de Azevedo e José Paulo Paes (na parte final, Mario de Andrade se junta a eles, mas pouco fala).

Nunca fui um grande fã de poesia. Dos clássicos, gosto de Manuel Bandeira, Gregório de Matos e Drummond. Dos mais recentes, de Paulo Leminski e, justamente, José Paulo Paes.

Estes cinco, talvez Drummond um pouco menos, conseguem deixar a poesia menos sacra, mais cotidiana, rotineira, bem humorada.

De certa forma, é isso que faz Alberto Martins trazendo dois poetas para conversarem sobre São Paulo e poesia. Os diálogos são ágeis, espertos, inteligentes.

Li o livro em apenas dois almoços (é que tenho o feio costume de levar livro para restaurantes quando estou sozinho e, enquanto a comida não chega, fico lendo).

Foi uma leitura saborosa. Mesmo para quem não é um gourmand em poesia, como no meu caso.

Por fim, vamos ao filme: Tron.

Eu tinha visto a versão anterior, e lembro que não tinha entendido direito a história. Mas não fazia diferença. O importante era ver a revolução estética do filme, o primeiro a usar tanta computação de uma só vez.

Trinta anos depois, a computação já não é uma novidade em si. E a história também não é grande coisa. Há uns empréstimos de Guerra nas Estrelas: o filho que tenta resgatar o pai, a entrada num mundo diferente e em disputa, os capuzes, uma certa “força” vinda da concentração, etc…

O filme parece com uma mulher bela, mas de uma beleza fria. E, para piorar, sua conversa não é muito interessante.

A história me parece uma desculpa para batalhas interessantes. Há mais tecnologia do que emoção.

Voltando à comparação com senhoritas, digamos que há mais silicone que coração.


Piores do ano
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Torero

E vamos à grande eleição: Quem vocês acham que foram os piores do ano? Os maiores fiascos. E podemos sair do óbvio. Além dos piores esportistas em geral (sim, valem outros esportes) e dos 11 jogadores, podemos incluir técnico, torcida, lance, partida, juiz, blogueiro (jáganhei!, já ganhei!), comentarista, dirigente, patrocinador etc…

Vocês votam e depois eu faço as contas por cá.


Mundial de clubes: uma década sem futebol brasileiro
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Torero

 Texto de Marcio R. Castro*

Em 98, num jogo emocionante, Vasco e Real Madrid decidiam o título mundial na Copa Intercontinental. Grandes jogadas, chances de gol para os dois lados, golaços e quase golaços, bolas salvas em cima da linha. Foi simplesmente de arrepiar.

O Vasco perdeu jogando um futebol envolvente e vistoso, absolutamente de igual para igual com os europeus. Em boa parte da partida, jogou melhor.

No ano seguinte, era a vez do Palmeiras representar o Brasil e o continente. Contra o Manchester United, outro ótimo jogo. Mas com muito menos equilíbrio: a equipe brasileira dominava a partida amplamente, criava chances claras, encurralava os ingleses. Alex chegou a marcar, mas o juiz anotou impedimento, equivocadamente.

Jogando de forma convincente, buscando sempre o gol e controlando as ações na maior parte do tempo, o Palmeiras merecia sorte melhor. A taça ficou com os ingleses.

Já em 2000, dessa vez no Campeonato Mundial de Clubes, que a FIFA criou para substituir a Copa Intercontinental, foram Corinthians e Vasco que entraram em campo. Os paulistas deixaram o Real Madrid pelo caminho, com direito a um jogaço entre os dois que terminou empatado, e os cariocas atropelaram o Manchester United, numa atuação de gala de Edmundo e Romário.

Os clubes brasileiros, brasileiros que são, jogaram à brasileira, com técnica, habilidade e poder ofensivo. Numa final nacional, o Corinthians foi o campeão.

Dez anos se passaram desde então. Infelizmente, dez anos em que o futebol brasileiro não foi mais visto nos mundiais de clubes. Por duas vezes fomos campeões, é verdade. Mas jogando com medo, retrancados, sem confiança, sem brilho. Sem a alma do nosso jogo.

Em 2005, o São Paulo foi massacrado pelo Liverpool por praticamente o jogo todo. Para se ter uma ideia da artilharia disparada, os ingleses chegaram a ter três gols anulados pelo juiz – todos bem anulados, por sinal. Quase como um prêmio individual ao Rogério Ceni, o São Paulo levou o título.

O Internacional, ganhando e perdendo, repetiu o enredo por duas vezes. Em 2006, se encolheu de forma deprimente contra um Barcelona que, estupefato, nem pressionou tanto quanto a postura colorada poderia indicar. Agora em 2010, quando parecia que os gaúchos eram capazes de fazer bonito, voltaram para casa com uma das maiores derrotas da sua história, surpreendidos pelo Mazembe. 

O mal da década se alastrou para além dos clubes e afetou também a seleção, resultando no inexplicável dunguismo que nos assolou. Agora, Mano Menezes ensaia os primeiros passos em busca de uma vacina. Mas a cura só virá quando respeitarmos novamente o que nos fez únicos nesse esporte. Essa é a premissa: nos lembrarmos de quem somos.

Ainda podemos resgatar o jeito brasileiro de jogar futebol, criativo, ousado, cheio de brilho e competitivo ao mesmo tempo. Para novamente conquistar o mundo sem olhar para baixo, sem pedir desculpas. Como o redentor Palmeiras de 51, o eterno Santos de 62 e 63, o arrasador Flamengo de 81, o destemido Grêmio de 83 e o refinado São Paulo de 92 e 93.

Como vimos, vitórias e derrotas podem acontecer de várias maneiras. Ganhar ou perder faz parte do jogo. Mas, se fizermos do nosso modo, com o nosso estilo, ganharemos mais. E, se perdermos, perderemos melhor.

*Marcio R. Castro é torcedor do Palmeiras.