Não pedala, Robinho!
Torero
Texto de Luiz Guilherme Piva
Pedalou, tiro do time. Irrita. O cara não sabe driblar e fica lá, com os pulinhos prum lado e pro outro. Desde que começou essa história ninguém dribla mais. E no meu time só joga quem sabe driblar. Mas tem que ser drible mesmo, de enganar, de humilhar, de fazer a bola sumir e reaparecer em outro lugar. Se pedalar no treino, tá fora. Se pedalar no jogo, tiro do time e peço à diretoria pra dispensar.
O futebol é o drible. Quando a molecada começa, o que diferencia quem joga e quem não joga é o controle, a embaixada, o drible. Os que não sabem vão pra defesa ou pro gol. Mas quem manda mesmo é quem sabe a firula, quem tem ginga, quem passa por três ou quatro, dá chapéu, elástico, faz que vai e volta – até fazer o gol ou perder a bola. Mas é ali que tá quem joga mesmo. Futebol, eu tô falando. Aí vêm esses caras agora com a pedalada. Francamente!
Lembra do Joãosinho? Do Júlio César? Do Eduardo Rabo-de-vaca? Do Edu? Do Rivelino? Eram dribladores, ilusionistas. Pega os vídeos do Pelé e vê se tem lá alguma pedalada! Do Garrincha. Do Dener. Ou faz o drible direito, enfileira, humilha, mesmo que perca a bola e o gol lá na frente, ou dá o passe. Mas não pedala! Pelamordedeus, não pedala!
Tem outra. Beque dando chutão fingindo que é lançamento. Ou dá de bico ou sai jogando ou lança de verdade. O cara ajeita o corpo, faz que olha alguém entrando em diagonal e bate bonito na bola. Ela sobe, sobe, sobe e cai na cabeça do adversário. Ou vai pra lateral. Dez vezes por jogo. E ninguém tira o cara. Eu tiro na hora. Fica uma semana treinando passe e lançamento. E banco, que é pra aprender. Se duvidar, vou eu lá e faço, ensino. Marco um xis a 40 metros e faço ela cair lá. Já joguei. Eles sabem disso.
O negócio é que eu gosto de futebol. Vê esses aí: Parreira, Capelo, aquele escocês, o holandês, o Mourinho. Não gostam. Imagine eles andando de carro numa estrada. Passam perto de um lugarejo. Tem umas cabrinhas, um buteco, um cemiteriozinho e um campinho de terra com uns moleques jogando. Eu pergunto: eles param pra ver? Param? Nunca! Pois eu paro. Descobri muito craque desse jeito. Uns até progrediram, saíram aqui da várzea.
Eu também tive chance. Fui chamado por uns times. Mas não. Aqui é que precisam de mim. Se não, acaba o futebol aqui. E esses meninos aí, quem é que vai cuidar?
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Luiz Guilherme Piva publicou Ladrilhadores e semeadores (Editora 34) e A miséria da economia e da política (Manole).