Blog do Torero

Arquivo : October 2010

Toreroteca
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Torero

A toreroteca de hoje tem um prêmio diferente: o livro “Escudos dos times do mundo inteiro”, de Rodolfo Rodrigues (não, engraçadinhos, não é o goleiro).

É um livro bem editado pela Panda Books, em quatro cores, papel de primeira, e tem cerca de 2.500 escudos de clubes, desde o do Denizlispor, da Turquia,  até o do Alecrim, de Macaíba.

Para recebê-lo em sua casa, o leitor terá que adivinhar os vencedores dos quatro mais importantes jogos deste fim de semana. Não nada de Santos x São Paulo. Estou falando dos jogos decisivos da Série D, que indicarão os emergentes que irão para a C em 2011.

Os confrontos mortais, os embates hercúleos, as lides epopéicas serão:

Madureira x Operário-PR   

Araguaína x Uberaba

Joinville x América-AM

Guarany-CE x Vila Aurora 

O meu palpite, sem empates, é Madureira, Araguaína, Joinville e Guarany-CE. 

O livro sai de qualquer jeito. Se ninguém acertar os quatro resultados, invento alguma regra.

Aposte aí.

E amanhã não perca uma bombástica entrevista com João Saldanha (via Zé Cabala, é claro).


Ziriguidum, teletecoteco, balacobaco
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Torero

(publicado no carnaval de 1998)

Há aqueles que acham que o futebol deve ser comparado a uma batalha, mas esse não é o meu caso. Penso que o futebol é, antes de tudo, uma arte e, como arte, visa o belo. Ele é uma preciosa mistura de balé com teatro, e não há jogo que não tenha mais drama que um Macbeth, ou tanta quanto comédia um Tartufo.

Porém, há cem anos tratamos o futebol como se fosse um reles esporte, em que quem faz mais pontos vence.

É hora de acabar com isso! Mudemos as regras! Que vença o que oferecer mais beleza, não o que fizer mais gols! Menos contabilidade, mais estética. Como disse Parreira: “o gol é apenas um detalhe”.

Mas o leitor deve estar se perguntando: mas se o gol não definir o placar de um jogo, como saber quem foi o vencedor?

Por um longo tempo, também pensei nesse problema, mas então, como se fosse um sinal divino, meu vizinho colocou para tocar, no último volume, o CD dos sambas-enredo de 1998.

Era isso! Aí estava a resposta! Carnaval e futebol são as duas maiores paixões nacionais, e um jogo tem muito mais a ver com um desfile de escola de samba do que sonha a nossa vã filosofia.

Sendo assim, conclui que deveríamos utilizar os quesitos típicos do Carnaval para julgar uma partida de futebol. Cada quesito receberia notas de zero a dez, e a soma de todas definiria o vencedor.

O ataque, obviamente, seria a comissão de frente.

Evolução, a forma como um time sai da defesa para o ataque. Contariam pontos a precisão dos lançamentos e as jogadas de efeito.

Harmonia, o conjunto da equipe.

Bateria, a defesa. Neste caso seriam avaliadas as antecipações e roubadas de bola sem falta.

Também contariam pontos as fantasias, ou seja, os uniformes. Como diria Gilberto Gil, “quanto mais purpurina melhor”.

No quesito alegorias, seriam julgados dribles e lances de efeito, coisas que andam meio escassas, mas que, com essas revolucionárias regras, certamente voltariam aos campos.

Obrigatoriamente, cada time teria que ter pelo menos um jogador oriundo da terra de ACM, que representaria a ala dos baianos. Com Júnior, Gil e Baiano, as equipes de Flamengo, Fluminense e Santos saem na frente neste quesito.

Por fim, mestre-sala e porta-bandeira seriam, obviamente, o artilheiro e o capitão do time.

E o gol, para que não fosse esquecido de vez, valeria pontos na categoria adereços.

Mas essa mescla de futebol e Carnaval não deve parar nas equipes.

Todos os componentes do jogo devem fazer parte do espetáculo. Por exemplo, por que não contratar como bandeirinhas as belas Sheila Carvalho e Carla Perez? Muitos iriam a campo apenas para vê-las e nem ligariam para os impedimentos contra seu time.

E para juíza, não se poderia ser escalada outra senão a primeira e única Valéria Valenssa, que não seria mais a mulata globeleza, mas sim a mulata golbeleza.

Enfim, vamos carnavalizar este esporte! Ziriguidum, teletecoteco, balacobaco!


ABC do fim de semana
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Torero

   

Alessandro: O jogador do Ipatinga, lanterna da Série B, é o artilheiro do campeonato (ao lado de Ciro, do Sport) com 14 gols. Ele já rodou o mundo (Japão, Bélgica e Holanda), mas parece que agora, aos 28 anos, no interior de Minas, é que está realmente se dando bem.

Botafogo: Se Loco Abreu tivesse acertado o pênalti contra o Palmeiras aos oito minutos de jogo, este poderia ter sido o gol da vitória. Se o Botafogo tivesse vencido o Palmeiras, iria embalado para o jogo contra o Fluminense. Se vencesse o Fluminense, estaria na luta pelo título. Se, se, se…

Coritiba: Ganhou do Bragantino fora de casa e deu uma disparada na Série B, ficando quatro pontos à frente do segundo colocado, o América-MG.

Decisões: Esta é a semana mais importante nas séries C e D. É a semana das quartas-de-finais, quando se decide quem sobe para as divisões superiores. É a hora em que muitos destinos são decididos, a hora em que muitas vidas pegam atalhos para a glória ou as esburacadas estradas para o esquecimento.

Empacado: O Corinthians está empacado. Nos últimos cinco jogos marcou apenas dois pontos. Isso lhe custou a liderança. Mas a demissão de Adílson Batista não me parece a melhor solução.  Nem a vinda de Parreira. Um pouco mais de tempo para Adilson e a volta de Elias teriam resolvido a questão.

Frustrante: Foi o fim de semana para os brasileiros na F-1. Felipe Massa treinou mal e caiu fora da corrida já na largada. Bruno Senna quebrou e Lucas di Grassi nem completou a volta de apresentação. A honra foi salva pelo veterano Rubinho, que continua correndo bem. 

Guarani: Perdeu para o Ceará no Castelão e corre perigo. 

Historinha: Roniélton Pereira Santos, o Roni, veterano jogador de 33 anos que fez sucesso no Fluminense no fim dos anos 90, estreou no Vila Nova em 1995. Agora voltou para seu primeiro clube e está indo bem. É um dos artilheiros da Série B, com 12 gols. Nesta rodada, Roni fez dois e seu clube venceu o Figueirense, que era o vice-líder. Mas o Vila ainda está na borda do rebaixamento, em 16º. lugar.

Ituiutaba: O time mineiro, que está ans quartas da Série C, foi até Santa Catarina e conseguiu empatar com o Chapecoense. Se vencer o jogo de volta, estará na Série B em 2011.

Jonas: Com 19 gols, disparou na artilharia e vive o melhor momento da carreira.

Líder: O Cruzeiro, que agora encontrou uma nova casa, o Parque do Sabiá, em Uberlândia (conhecido por alguns burocratas como Estádio João Havelange), é o novo líder do Brasileiro. O curioso é que o Fluminense assumiu há liderança vencendo o mesmo Cruzeiro há 16 rodadas, pelo mesmo 1 a 0. Será que o técnico Cuca finalmente será campeão brasileiro?

Madureira: O simpático time carioca venceu, fora de casa, ao Operário de Ponta Grossa (sem trocadilhos, por favor) por 4 a 2. Está com um pé na Série C do ano que vem.

Nunca: Nunca se deve acreditar muito quando um técnico diz que pediu demissão depois de uma derrota. Em geral, ele é demitido mesmo, mas a diretoria, para não parecer autoritária e para não desvalorizar o técnico, deixa que ele diga que pediu demissão. Talvez tenha sido o caso de Adílson Batista.

Olé: A melhor coisa do fim de semana foi a vitória do vôlei brasileiro sobre Cuba na final do Mundial. Foram três sets a zero, três sets quase perfeitos. Algum dia o futebol conseguirá trazer Bernardinho para suas hostess, como já fez com Brunoro e José Roberto Guimarães? Ele poderia trazer mudanças interessantes.

Petróleo: O Macaé, time de prefeitura regado com dinheiro do petróleo, ganhou a primeira partida das quartas contra o Criciúma: 3 a 2. Se empatar em Santa Catarina, estará na Série B.

Quartel-general: O do América-AM é o estádio do SESI, em Manaus. Neste fim de semana o time venceu o Joinville por 2 a 1. O América-AM é presidido por uma mulher e recentemente mudou seu nome para Manaos. Mas voltou atrás.

Ronaldo: Deve retornar contra o Guarani. O Corinthians precisa que ele volte e bem, para dar uma chacoalhada na equipe e voltar a sonhar com o título. É a hora de Ronaldo ser fenômeno.

Salgueiro: O time pernambucano é uma experiência interessante. Tem apenas cinco anos, mas já conseguiu uma boa torcida. Parece ter uma administração razoavelmente moderna e vem ganhando espaço. Empatou com o Paysandu em 1 a 1 nas quartas da Série C. No próximo jogo, em Belém, se ficar precisar vencer para subir à Série B.

Tropeço. O Sport tropeçou feio neste fim de semana. Perdeu, e em casa, para o lanterna do campeonato, o Ipatinga. Segue em quinto lugar na B, ou seja, é o primeiro dos últimos, a cinco pontos do Bahia.

Uberaba x Araguaína. A partida ficou no 0 x 0 e foi pelas quartas da Série D. Quem passar, estará na C no ano que vem. Neste primeiro jogo, o herói foi o goleiro Régis, do Araguaína. O time de Tocantis, o Tourão do Norte, está perto de voltar para a Série C, onde esteve em 2007.

Vovô valente: Parecia que o Ceará entregaria os pontos, mas, tirou os tubos, jogou longe o marcapasso e venceu o Guarani. Conseguiu sair da UTI, mas ainda inspira cuidados.

Xô!: Vitória e Avaí estão à beira do precipício. Daqui a duas ou três rodadas podem estar na zona de rebaixamento, no lugar dos Atléticos Mineiro e Goianiense.

Zada: Oucos ouviram falar deste lateral-esquerdo. Mas ele teve um dia de glória neste domingo. Marcou, de falta, o primeiro gol do Guarany-CE contra o Vila Aurora, em Rondonópolis. O resultado final foi 2 a 0. Ou seja, mesmo com uma derrota por um gol de diferença em Sobral, o time de José de Alencar (que já eliminou Santa Cruz e Sampaio Corrêa) estará na Série C em 2011. Em tempo, Zada é apelido. É claro que ele não teria um nome tão estranho. Em seu RG está escrito Zandonnayde.

PS: O título de hoje foi mandado por Elvyn Reis, que explica: Duff é a cerveja, Indi é um cantor australiano, Sema é a feira de software da Austrália e o NA é o símbolo dos narcóticos anônimos de Chicago.


999
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Torero

(Como hoje é o dia 10/10/10, ou seja o dia de Pelé, republico aqui um texto que está no livro “Os cabeças-de-bagre também merecem o paraíso”)

O quando era 19 de novembro de 1969 e o onde era o Maracanã. O quê foi um pênalti apitado contra o Vasco da Gama pelo juiz Manoel Amaro de Lima. O quem era Pelé, o número dez do Santos, autor de 999 gols.

Ele ajeita a bola na marca de cal. Antes de bater, olha para as arquibancadas. Centenas de milhares de pessoas querem compartilhar aquele momento histórico. Ele também olha para Andrada, o goleiro magricela que, para tornar ainda maior a alegria de Pelé, é argentino. 

Pelé começa a correr. Escolhe o canto direito e bate colocado à meia altura. Ainda cego pelos inúmeros flashes das máquinas fotográficas, não consegue entender direito o que se passa, mas a reverberação de um comprido “Uuuh!” chega aos seus ouvidos. Ele esfrega os olhos e vê Andrada com a bola apertada contra o peito. Não tinha sido daquela vez.

Pelé ficou triste e desmotivado; até pediu para ser substituído minutos mais tarde. No jogo seguinte, contra o São Paulo, esteve novamente perto da glória, mas por duas vezes mandou a bola de encontro às traves.

Vieram outras chances. No empate contra o Palmeiras, o jovem goleiro Leão rebateu a bola à frente de seus pés; ele, porém, mandou-a para fora. Alguns dias ­depois deu dois chapéus em Ditão, mas acabou chutando em cima de Ado. Pena! Ele adorava vencer o Corinthians…

Pelé foi ficando nervoso e um dia, sem que ninguém visse, começou a beber. Primeiro foi uma cerveja, depois uma caipirinha e no fim acabou experimentando aguarrás. O efeito disso foi que começou a chegar atrasado aos treinos, caiu de rendimento e, diante dos clamores da torcida, perdeu a posição para Brecha.

Isso foi fatal para seus planos de jogar a Copa de 1970. Zagallo, receoso, não o convocou para a equipe tricampeã. Tostão jogou um pouco mais recuado no meio-campo e Dario foi o centroavante.

Nos anos seguintes, na reserva, Pelé não conseguiu fazer seu milésimo gol. Decidiu então despedir-se do futebol. As glórias passadas ainda estavam na memória de todos, e a Vila Belmiro lotou naquela tarde de 1972 para ver o seu adeus contra um combinado de craques. Quem sabe se na partida derradeira ele não chegaria ao milésimo gol.

Pelé estava infernal. Num lance brilhante, a Vila ­Belmiro quase veio abaixo. Pôs a bola no meio das pernas de Piaz­za, deu o drible da vaca em Luís Pereira, deixou Figueroa no chão e chutou colocado no ângulo. Ele já ia dar um soco no ar quando viu a bola sendo espalmada para escanteio pelo goleiro. O nome dele era ­Andrada.

Daquele dia em diante, ninguém mais o viu. Pelé deixou a barba crescer e ficou conhecido pelos habitantes de Três Corações como um mendigo esquisito, que vivia chutando pedrinhas como se estivesse cobrando um pênalti. E nunca acertava.

“Acorda, acorda!”

“Que foi, Assíria?”

“Você está tendo um pesadelo e não pára de me chutar!”

“Sonhei que perdi o pênalti contra o Andrada, ­entende?”

“Que bobagem… Dorme, Edson.”

Mas ele não consegue mais dormir e passa a noite em claro. Enquanto isso, em algum lugar, Andrada tem o mesmo sonho de Pelé. E sorri.


O mar é salgado, o futebol é doce
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Torero

Não, não vou falar da rodada do meio de semana. Hoje há um assunto muito mais importante, muito mais candente: futebol na praia.

 E não estou falando do futebol de areia, aquele em que o Brasil sempre faz a final do Mundial contra Portugal. Estou falando no simples e cândido futebol na praia. E nem é aquele com traves e onze de cada lado, mas o gol-caixote, que deve ter nascido porque ninguém queria ficar de goleiro.

 Para quem não conhece, informo que o gol caixote não tem número fixo de jogadores, não tem área demarcada, não possui duração definida e o travessão é imaginário.

 Pois bem, estava eu correndo (está bem, caminhando rápido) pela praia de Santos (de areia cinzenta e dura, perfeito para a prática ludopédica), quando vi alguns garotos de 16, 17 anos jogando bola. Automaticamente contei-os e vi que eram nove.

 Não sei se a nobre leitora e o plebeu leitor gostam de jogar futebol na praia, mas, se gostam, sabem que, quando passamos por um joguinho, automaticamente contamos o número de jogadores. Se forem em número ímpar, o passo seguinte é fazer ar de cachorro pidão e dizer: “Ei, cabe mais um?”

 Se você tiver sorte, responderão “Entra aí”, e está feito o contrato futebolístico.

 Foi o que se deu por estes dias.

 Há anos eu não jogava uma partidinha de gol-caixote na praia, e logo lembrei de gentes e coisas dos meus tempos. Sim, passam-se os anos, o mundo gira, a Lusitana roda e tudo continua igual. Tanto que vi naquele grupo de jovens imberbes os mesmos tipos que vi há trinta anos. A saber:

Zé Bonitinho: É aquele sujeito que vai jogar na praia com uniforme oficial. E sempre dá um jeito de usar uma caneleira, uma tornozeleira ou uma cotoveleira. Às vezes, as três coisas juntas. No jogo havia um rapaz com o uniforme completo do Boca Juniors. E ele tomava bastante cuidado para não cair e sujar sua roupa de areia. 

Bip-bip: É aquele sujeito que corre muito. Ele não tem grande habilidade, mas corre tanto que acaba sendo útil. Obviamente, não é o meu caso. 

Grossíssimo: Ele é grosso. Mas muito grosso mesmo, grossíssimo. Tão grosso que nem se espera nada dele. Invariavelmente é gente boa, e assim ninguém reclama muito dele. Quando recebe a bola, todos já fazem uma cara de pré-riso, pois sabem que alguma besteira vai acontecer. É uma espécie de 007, com direito para errar. Não, leitor maldoso, também não sou esse. 

Ogro: Todo timinho tem uma cara meio grandalhão que joga dando trombadas, se apoiando nos adversárisos, empurrando todo mundo. É um garoto maior do que os outros, com pouca habilidade, e se aproveita do seu tamanho. Um bom conselho é ficar no seu time, o que evita torções de joelho, pisões nos dedos e inchaços na canela.

A bola é minha: É um jogador mais habilidoso e os amigos acham que ele até podia fazer um teste no time profissional. O cara é bom mesmo, mas nunca passa a bola. Tenta driblar todo mundo, resolver o jogo sozinho. E quase nunca consegue. Quando se cansa, se desinteressa do jogo e fica conversando com os outros jogadores. Via de regra, com o Risadinha. 

Risadinha: É um cara que mais assiste do que joga. Ele vai para fazer piadas, para tentar fazer jogadas engraçadas, para ver os outros caírem no chão. Fala o tempo todo e ri de qualquer coisa. É uma espécie de bufão futebolístico. O chato se irrita um bocado com ele. 

Chato: É aquele cara que leva o jogo a sério. Fica gritando para seus companheiros: “Marca na direita!”, “Olha aquele lá sozinho”, “Tem que passar a bola”, “Chuta, chuta!”, “Pô, eu falei para chutar…”. Geralmente é um cara meio grosso e um pouco mais velho. E não entende porque dizem que o Muricy é mal humorado. Os outros jogadores vão à praia para se divertir, mas ele vai para ganhar. Sua alegria dura apenas um segundo: quando o jogo acaba e ele percebe que seu time venceu o jogo. Infelizmente, me encaixo nesse grupo. Até tento me conter, mas, quando vejo, estou aporrinhando os pobres garotos, dizendo que eles têm que fazer isso e aquilo. Resumindo, um chato.

Em tempo, ganhamos de 5 a 3. Não fiz um gol sequer, nem dei uma assistência. Mas queria ver se não fossem os meus gritos.


Toreroteca
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Torero

Como o Santos ganhou do líder, e fora de casa, vou colocar como prêmio na toreroteca de hoje um livro sobre o clube: “A década de ouro”, de Guilherme Gómez Guarche.

 E aproveito para fazer uma resenhazinha do livro.

 Para quem não conhece o autor, explico que Guarche é um estudioso sobre o Santos. Na verdade, é mais que um estudioso. É um pesquisador fanático, um nerd. Escrevi dois livros sobre o time e assim conheço um bom tanto sobre sua história, mas, se nós dois disputássemos de um concurso com perguntas sobre o Santos, tenho certeza que eu perderia de goleada. E não é falsa modéstia, eu perderia feio mesmo.

 Hoje, Guarche é uma espécie de historiador contratado do clube, com direito até a salinha sob as arquibancadas, uma salinha cheia de fotos, jornais e pôsteres que deve causar inveja noutros fanáticos.

 Mas deixemos o autor de lado e vamos ao que interessa: o livro.

 Ele tem uma proposta curiosa: contar tudo o que se disse nos jornais sobre o clube durante a década de 60.

 Assim temos pérolas e coisas pouco úteis. Para mim, por exemplo, pouco interessa a ficha do jogo entre Santos e Noroeste em 1965. Mas já interessa muito a transcrição de um texto, escrito por conta do aniversário de 70 anos de Friedenreich, que conta a passagem do grande goleador pelo Santos, já com 43 anos, quando ele, depois de um amistoso no Rio Grande do Sul, chegou ao hotel apenas na manhã seguinte e se negou a ir para um jogo noutra cidade, mas acabou sendo carregado pelos outros jogadores para o ônibus.

 Ou seja, o pecado do livro é, ao mesmo tempo, sua qualidade. Por conta de sua proposta abrangente, ele traz coisas pouco úteis, mas, em compensação, conta histórias saborosas como essa, que eu, por exemplo, jamais tinha ouvido falar.

 O tempo cristaliza um certo conhecimento sobre o clube, uma certa mitologia, e livros como esse conseguem furar esse muro de informação oficial.

 Na minha leitura, eu pulei estas fichas dos jogos e fui atrás dos casos curiosos.

 Como é uma edição de autor, quem quiser comprar o catatau (412 páginas, R$ 30,00) deve entrar em contato com o próprio Guarche (ggguarche@bol.com.br)

 Mas vamos à toreroteca.

 Como o prêmio é mais para santistas (mas também para os loucos por futebol e os amigos de santistas), ganha aquele que adivinhar quem fará, e quando, o primeiro gol santista no jogo de sábado contra o Atlético Paranaense.

 Se ninguém acertar na mosca, ganha quem chegar mais perto. Só com zero a zero é que o prêmio não sai.  

 Eu voto em Neymar aos 22’ do primeiro tempo.

Façam suas apostas.


Mostra-me teu par e te direi quem és
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Torero

 

(Texto publicado pouco antes do começo do Paulista de 1998)

As boas coisas da vida vêm sempre aos pares, e não estou falando apenas das Ronaldinhas. É mais que isso. A necessidade das duplas pode ser vista em qualquer atividade humana.

Na música, por exemplo, temos Vinícius e Toquinho, Roberto e Erasmo, Gil e Caetano, sem esquecer dos internacionais Lennon e McCartney e dos caipiras Tonico e Tinoco.

O cinema não fica atrás. Se na fase muda houve o Gordo e o Magro, nos tempos modernos temos De Niro e Scorsese, Bergman e Nikvist, Fellini e Mastroianni. No jornalismo, a reportagem das reportagens, o caso Watergate, foi feita por Carl Bernstein e Bob Woodward, e até na literatura, atividade tão individualista, tivemos uma bela dupla formada por Borges e Casares.

Enfim, tudo tem que ter seu par, mesmo as coisas mais básicas: o pão não seria nada sem a manteiga, o arroz fica sem graça sem o feijão, e a goiabada é muito melhor ao lado do queijo.

No futebol não é diferente. Mesmo que um time tenha 11 jogadores, as duplas são a alma das equipes.

O Santos, por exemplo, teve o auge de sua história com Pelé e Coutinho, e recentemente não voltou a ser campeão porque faltava um par para Giovanni, que era uma espécie de maestro sem solista.

No Palmeiras, Dudu e Ademir da Guia foram o esteio da Academia e até viraram estátua no Parque Antarctica. No grande time de 93/94, havia Edmundo e Evair; que, aliás, acabam de dar um título ao Vasco.

E, se o assunto é Campeonato Brasileiro, como esquecer da recente dupla Paulo Nunes e Jardel, no Grêmio, e de antigas, como Careca e Renato, que levantaram o único campeonato do Guarani?

No Corinthians, os sexagenários lembram-se com saudades da era Luisinho e Baltazar, e os trintões riem sozinhos quando recordam as tabelas da dupla Sócrates-Palhinha, depois convertida em Sócrates-Casagrande.

Os são-paulinos não esquecem que o grande tricolor dos anos 70 teve, pelo menos, duas parcerias memoráveis: Chicão e Pedro Rocha e Serginho e Zé Sérgio. Já nos anos 80, o time vencia tudo com Oscar e Dario Pereyra atrás e Muller e Careca na frente.

No futebol internacional acontece o mesmo: Careca-Maradona, Gullit-Van Basten, Cruyff-Neeskens e Puskas-Kocsis mostram que os pares não são uma invenção brasileira, mas uma necessidade natural.

Por isso acredito que o Campeonato Paulista deste ano será vencido pelo time que tiver a melhor dupla. Por enquanto, as coisas estão equilibradas.
O Palmeiras acena com Paulo Nunes e Oséas.

No Corinthians podemos ter Marcelinho e Mirandinha, um par respeitável, e o São Paulo vem com Denílson e Dodô.

Já o Santos está um pouco complicado. A dupla Caio-Caíco parece mais nome de dupla caipira do que de dupla de área, relembrando os amargos tempos de Totonho-Toinzinho.

O time da Vila Belmiro, entretanto, pode emplacar Jorginho e Muller, um casal bem eficiente.

Não há mistérios. O time que formar a melhor dupla põe um dedo na taça, porque as duplas são o centro de tudo; que o digam o próton e o elétron.

 

(Na final do campeonato, depois de perder a primeira partida por 2 a 1, o São Paulo venceu o Corinthians por 3 a 1, gols da dupla Raí e França.)


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Torero

O de hoje é “Vai indo que eu já vou”, dirigido por Rubem Barros e Marcelo Perez. É um documentário de 15 minutos sobre a morte, o mais importante dos assuntos, e é bem interessante, apesar de eu ser um dos entrevistados.

Para ver o filme, clique aqui.

E, se tiver uma sugestão de curta, mande aí.


Bolas na urna e votos na rede
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Torero

O futebol é uma metáfora universal. Serve para fazer comparações com guerra (“ataque”, “defesa”, “artilharia”, etc…), sexo (não vou falar em “penetrações” ou “entrar com bola e tudo” porque este é um blog de respeito), sobre a duração da vida (eu, por exemplo, sei que já estou no segundo tempo e torço por uma prorrogação) e até sobre política.

Hélio Costa, por exemplo, lembra o Atlético Mineiro: começou o ano com tudo e prometia um grande ano, mas todos viram que foi facilmente superado pelo rival.

Aliás, o Cruzeiro lembra a Marina: acabou a semana em terceiro na tábua de classificação, mas foi o grande vencedor da rodada (o que é ótimo, pois com a peessedebização do PT, é importante que surja algo diferente).

O Cruzeiro, em terceiro lugar, vem atropelando.

Continuando em Minas, Antonio Anastasia parece o América: Ninguém botava muita fé, mas ele está no G-4 da Série B e pode subir para a A em 2011. Aliás, sabem quem é o artilheiro do time? O velho Fábio Junior, que está em terceiro lugar na artilharia. 

Mas mudemos de estado. Vamos a Pernambuco, onde Marco Maciel, conhecido torcedor do Santa Cruz, mostra que tem mais a ver com o seu time do que sonha a nossa vã sociologia. Ele não conseguiu se reeleger para o Senado, mesmo com duas vagas em jogo. E há um tempo atrás ele parecia invencível. Já o seu Santa Cruz, que participou da Série D este ano, caiu fora ao ser vencido pelo Guarany de Sobral, um time com, digamos, pouca tradição. Porém, diga-se que o Guarany cearense conseguiu entrar nas quartas-de-finais da Série D, eliminando o colorido Sampaio Correa.

O Santa Cruz está numa fase de vacas magras.

Falando em colorido, Fernando Collor pode ser comparado ao Brasília, na Série D. Disputando a terceira fase do campeonato, o time do Distrito Federal saiu na frente ganhando por 3 a 0 do Araguaína. Mas tomou uma virada inacreditável e perdeu por 4 a 3. No jogo de volta, saiu ganhando por 1 a 0, mas tomou outra virada, desta vez por 2 a 1. O Araguaína é uma espécie de Aloysio Nunes, que conseguiu uma virada totalmente inesperada, tirando Netinho do senado (o chato é que com isso ele volta a cantar).

Tasso Jereissati pode ser comparado ao Ceará. Os dois começaram bem nos seus campeonatos (o Ceará, lembram?, era vice-líder no tempo de PC Gusmão), mas Tasso acabou fora do senado e o Ceará está perto da zona do rebaixamento (se bem que empate com o Corinthians dá esperanças de que o time possa reagir).  

O Ceará tem motivos para estar preocupado.

Os candidatos ao governo da Paraíba Ricardo Coutinho e Zé Maranhão (ele não deveria disputar contra Roseana?) quase empataram em votos: 49,74% a 49,30%. Eles são como Coritiba e Figueirense na Série B, que vêm disputando a ponta a cada rodada.

Roriz é como o Grêmio Prudente. Ambos mudaram de nome. Um, de Joaquim para Weslian. Outro, de Barueri para Prudente. E os dois parecem que serão rebaixados.

O Grêmio Prudente terá que dar muitas entrevistas para se explicar.

Mercadante lembra a Ponte Preta. Chega perto mas não leva. Aliás, a Ponte vem em sexto lugar na Série B, quatro pontos atrás do quarto colocado.

Por fim, Dilma é o Fluminense, lidera mas pode perder a ponta para o Corinthians, que lembra muito o Serra: está em segundo lugar na tabela e é o queridinho da imprensa (pronto, já vi que corintianos e serristas vão me xingar. Tudo bem, mas poupem minha velha mãezinha, por favor).

Como se vê, futebol e política têm coisas em comum. Mas um nos alegra a vida, o outro, nem tanto.


Nômade Futebol Clube
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Torero

  

 

  Por Márcio R. Castro

Primeiro foi o Grêmio Barueri. Após divergências com a prefeitura da cidade natal, que dava apoio financeiro ao clube, que é privado, além de destinar instalações públicas para uso de uma equipe profissional (fatos que por si só já eram escandalosos), os donos do clube-empresa negociaram “melhores condições” com outra prefeitura e se mudaram, se tornando o Grêmio Prudente. Mas a epopeia não acabou: já se fala em nova mudança, em busca de mais caraminguás.

Agora é a vez do Guaratinguetá. De acordo com seus investidores, os empresários da região não estão dando o suporte econômico que era esperado, diferentemente do que aconteceria em outras cidades. Portanto, malas prontas!

Times de futebol sem raízes, sem tradição, sem identidade, sem torcida, sem paixão, sem estádio e sem estrutura têm, obviamente, pouco futuro esportivo. Mas não é nem o caso de alertarmos os donos desses clubes-empresas de que eles estão dando tiros nos pés. Me parece que eles não estão nada preocupados com questões esportivas, mas apenas comerciais.

A Federação Paulista de Futebol já mostrou irritação com a situação, aumentando substancialmente o valor cobrado pela transferência, mas diz que nada mais pode fazer a respeito, já que a legislação esportiva permite mudanças de sede sem maiores implicações.

Uma alteração simples nessas regras bastaria para desestimular os nômades: cada transferência de sede, ou mesmo troca de nome, resultaria em rebaixamento automático do clube às divisões iniciais do futebol profissional. Assim, os “novos” times teriam que remar tudo novamente, fazendo com que seus comandantes pensassem melhor antes de procurar outros ares como quem troca de sapatos.

Não podemos negar que, pelo menos nos dois casos citados, os neo-dirigentes mostraram-se bem mais competentes do que a média nacional. Suas equipes, quase inexistentes há poucos anos, foram subindo de divisões seguidamente, tanto regionalmente quanto nacionalmente, até chegarem às séries B (Guaratinguetá) e A (Prudente) do Brasileirão. Virtude que mostra também a incompetência e o amadorismo reinantes em clubes tradicionais do nosso futebol.

Mas isso é só um adendo. Essa inversão da “ordem natural” (primeiro o negócio, depois o esporte) é inaceitável.  É ótimo que novas iniciativas sejam tomadas e que clubes com uma concepção mais moderna tentem seu lugar ao sol. Desde que, além das intenções mercantis, cultivem também outros valores, como respeito e apreço por torcedores e pelo próprio esporte.