Ronaldo Nazário, um roteiro perfeito
Torero
(Publico hoje o último dos textos sobre Ronaldo, escrito loogo após a conquista da Copa de 2002).
A vida de Ronaldo Nazário daria um filme.
E isso não é uma figura de linguagem. A história desse personagem segue realmente todas as regras para uma boa história.
Dizem os manuais de roteiro que para fazer sucesso uma narrativa deve ter obrigatoriamente seis pontos: apresentação do personagem, crise, recuperação, preparação para o grande confronto, clímax e final feliz.
Pois bem, na Copa de 94 temos o primeiro passo, a apresentação do personagem. O menino dentuço é o reserva de um grupo que conquista o título para seu país após 24 anos de frustrações.
Ele cresce e, na Copa de 98, já é o melhor do mundo. Tem tudo para vencê-la. Seria a maior glória de sua carreira. Mas aí vem o passo de número dois: a crise. Vemos sua convulsão, e a derrota por 3 a 0. É aquele momento em que o herói vê o seu sonho cair por terra.
Ele sofre vários reveses. “Está acabado”, dizem todos ao ver o osso do joelho como que saltando para fora da pele. Mas Ronaldo continua lutando.
Então vem a recuperação, o passo três, conseguida após um árduo trabalho.
Passa o tempo, e ele ganha uma segunda chance. Está novamente numa Copa do Mundo. É a preparação para o grande confronto.
Um a um os adversários vão caindo, até que chega a hora de enfrentar o inimigo final. Que, como deveria ser, é o mais poderoso possível: a Alemanha. Para deixar as coisas ainda melhores, o inimigo é personificado em Kahn, que tem nome e costeleta de vilão.
Começa o duelo. O mocinho tenta uma, duas, três vezes, mas nada. O clima já é de apreensão quando, para a ira de Kahn, ele consegue vazar a meta contrária. Minutos depois, nosso herói sela a vitória e faz seu país explodir de alegria. Eis o último passo, o final feliz.
E o roteiro tem ainda personagens secundários perfeitos: Felipão, o mentor, aquele personagem mais velho que ajuda o herói a levantar-se (como o Grilo Falante de Pinóquio), Milene, a loira e bela mocinha (como a princesa Leia), e Rivaldo, seu inseparável companheiro (uma espécie de Robin).
Até mesmo detalhes de roteiro, como o traço distintivo (alguma cicatriz do herói, tal qual o raio na testa de Harry Potter), há em Ronaldo. No caso, seu cabelo esquisito. Sua marca para as duas lutas finais.
Eis aí uma vida que dá um filme.