Blog do Torero

Categoria : Futebol

Cinco livros e uma toreroteca
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Torero

Há tempos eu não escrevo aqui sobre livros e uns leitores até reclamaram. Então vou quitar toda a minha dívida de uma vez, escrevendo sobre vários de um só gole. Não farei críticas sérias, claro, mas sim umas impressões de leitura.

Eu gosto muito deste autor. Mas, deste livro, nem tanto. Ele reconta um caso verídico acontecido com Sir Arthur Conan Doyle, que, na vida real, deu uma de detetive e ajudou um jovem advogado que foi preso e acusado de certos crimes. Para os fãs de Sherlock Holmes, o livro pode funcionar como uma biografia de seu autor, e aí se justifica. Mas, como romance, ficou um tanto gordo demais, e tive que lutar um pouco para chegar ao fim.

 É um livro que conta em pílulas a história de Cuba. Mas a ideia não é contar uma história exata, tanto que não há nomes nem datas. Creio que a intenção de Cabrera Infante é criar um romance caleidoscópico ou algo assim, mostrando mais a natureza moral da ilha do que sua história. A leitura foi rápida e leve, com vários bons momentos, mas não chegou a ser um livro marcante. Certamente o será para quem se interessa e conhece mais profundamente a história de Cuba.
 
 Esse é bem complicado de explicar. Não acontece nada, mas você se interessa pela história. Não há uma trama, um fato central, mas as descrições de sentimentos e sensações são tão bem feitas que você tem curiosidade em saber o que acontece com o personagem (um menino que vive na África do Sul no pós-guerra). Porém, não acontece muita coisa. O livro faz parte de uma trilogia. Estou cá em dúvida se leio ou não a segunda parte. Acho que lerei.

 Leandro Narloch trabalhou na melhor e na pior revistas do Brasil, pelo menos, na minha opinião. A saber, a Superinteressante e a Veja. A primeira tem diagramação revolucionária, textos excelentes e uma busca pelo saber, uma tentativa de entender os fatos. A segunda, de nobre passado, tornou-se panfletária e hoje já não inspira a menor confiança. Já não busca entender os fatos, mas explicá-los conforme sua ideologia. Este livro é um tanto das duas coisas. Há ótimos trechos, em que se busca dar um novo enfoque, descobrir um novo ângulo sobre um assunto (como, por exemplo, o que fala sobre os índios, que não os mostra como um bom selvagem, como um ser cândido e puro, destituído de má índole) e outros em que o autor tenta apenas chocar, como o que fala que Gregório de Martos foi um dedo-duro, o que não tem o menor apoio em dados históricos. Ou seja, quando Narloch investiga sem preconceito, parece que estamos diante de uma boa reportagem da Superinteressante. Quando tenta chocar por chocar, parece que estamos lendo uma daquelas reportagens parciais da Veja.

 E eis cá o melhor livro destes cinco. Ou, pelo menos, o que me deu mais prazer. Aliás, nunca li nada do Nabokov que fosse apenas médio. Ele é sempre bom. E este livro é ótimo. Personagens palpáveis, história com reviravoltas surpreendentes, estilo elegante, etc… Eu o comprei há anos, mas, como a capa não me agradou, o coitado ficou na estante. Erro meu. Não se julga um livro pela capa, diz o ditado. E ele está certo. É um livraço.

Mas vamos ao que interessa, que é a nossa toreroteca. E o livro-prêmio de hoje (no qual ainda estou na metade) é “Dos sonhos e seus efeitos colaterais”, de Felipe Longhi Malheiro. Felipe foi jogar futebol na Nova Zelândia e conta aqui como esta aventura. Aliás, conta bem contado, com humor e sem auto-indulgência. Até hoje não tinha visto um livro em que um jogador explicasse tão a miúdo como é jogar no exterior (provavelmente porque poucos jogadores teriam condição de fazê-lo). Para melhorar, a editora maisQnada fez um bom trabalho de diagramação, dando um ar esperto ao livro, cheio de ilustrações, fotos coloridas, boxes e outras bossas. Para quem quiser o livro e não ganhar a toreroteca, o site da editora é este aqui: http://maisqnada.com.br/

 

E vamos à pergunta da toreroteca, que é a seguinte: Quais serão os placares de:

São Paulo x Corinthians

Fluminense x Vasco

Vitória x Cruzeiro

Meu voto é 2 x 1, 2 x 0 e 0 x 1.

Se ninguém acertar os três placares, ganha quem acertar primeiro os dois primeiros.


Zé Cabala e o homem de papel
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Torero

Quando cheguei à casa do ilustre mestre, ele estava no quintal disputando um gol a gol com Gulliver, seu assistente anão.

“Goool”, gritou Zé Cabala. “Onze a três!”

“Por cobertura não vale”, reclamou Gulliver.

Então os dois perceberam a minha presença. Zé Cabala pôs seu turbante e veio falar comigo.

“O que vai ser hoje, caro foliculário?”

“Aproveitando a eleição, eu gostaria de falar com o espírito de algum jogador que tivesse tido um problema político.”

“Certo, certo…”, falou o supino sábio enquanto dava uns tapas em sua túnica branca para tirar um pouco da grama.
Em seguida Zé Cabala respirou fundo e, ali mesmo no quintal, começou a girar feito a Mulher-Maravilha (para lembrar como era isso, clique na foto abaixo).

Alguns segundos depois, ainda meio tonto e apoiando-se na cabeça de Gulliver, ele disse:

“Matthias Sindelar, ao seu dispor.”

“Sindelar, o austríaco que era chamado de o Mozart do futebol?”

“Esse mesmo. Já ouviu falar de mim?”

“Um pouco. Você era o craque do time-maravilha, não era?”

“Sim, eu era do Wünderteam. O time que deveria ter vencido a Copa de 1934. Ah, como eu odeio os fascistas e os nazistas… Eles acabaram com a minha vida!”

“Calma, não vamos colocar os zagueiros na frente dos volantes. Comecemos pelo começo. Onde você nasceu?”

“Foi em 1903, numa cidadezinha chamada Kozlau, que era na Áustria mas hoje, por conta da mudança dos mapas, fica na República Tcheca. Mas só fiquei dois anos lá. Depois minha família se mudou para Viena, para um bairro do subúrbio chamado Favoriten.”

“Aí sua vida melhorou?”

“Por algum tempo, mas então veio a I Guerra Mundial e meu pai morreu em combate. Eu tinha 14 anos. Tive que começar a trabalhar como ajudante de mecânico para sustentar minha mãe e minhas três irmãs. A única coisa que me divertia era jogar futebol na rua com uma bola de feita de trapos. E essa foi minha sorte, porque um dia o pessoal do Hertha de Viena viu uma partida e me chamou para jogar lá. Fiquei no Hertha até os 21 anos.”

“E depois?”

“Depois, em 1924, fui para o Áustria Viena, o time de camisas violetas. Era um clube ligado à classe média judaica. E logo vieram os títulos. Em 1925 faturamos a Copa Austríaca e, em 1926, quando  acabou o amadorismo de vez, ganhamos a copa austríaca e o campeonato nacional. Depois ainda ganharíamos mais três copas nacionais e duas Copas Mitropas.”

“Mitropas? Nunca ouvi falar disso.”

“A Copa Mitropa era uma Copa dos times da Europa Central. Depois ela acabou se transformando na Copa dos Campeões.”

“Ah…, essa eu conheço.”

“Pois bem, vencemos a Mitropa em 1933 e 1936. Joguei no Áustria até 1939, quando aconteceu aquela tra…, bem você deve saber.”

“Já chegamos lá. Por enquanto, eu queria saber como era o seu estilo.”

“Eu era alto e magro, e tinha um estilo leve, elegante. Não era à toa que me chamavam de Der Papierene, que quer dizer ‘feito de papel’.”

“Você não devia ter um corpo muito atlético.”

“Não mesmo. E, para piorar, eu adorava fumar, beber e jogar baralho. Sem falar que me divertia um bocado com prostitutas nos bordéis e detestava treinar.”

“Mesmo com isso tudo ainda foi um grande jogador?”

“Talvez por isso tudo. Só joga bem quem está feliz.”

“E o tal do Wünderteam?”

“Olha, de 1930 a 1933, a seleção austríaca disputou 16 partidas. Ganhamos 13, empatamos duas e perdemos só uma, para a Inglaterra, lá. Foi um belo 4 a 3. Mas, em Viena, conseguimos a vingança: 2 a 1. E entre as vitórias tivemos goleadas de 4 x 0 na Franca, 5 x 0 na Alemanha, 6 x 1 na Bélgica 8 x 2 na Hungria e 8 x 1 na Suíça.”

“Então vocês eram os favoritos para vencer a Copa de 1934.”

“Sim. E começamos bem. Vencemos a França nas oitavas por 3 a 2, com um gol meu, e a Hungria na quartas por 2 a 1. Então, na semifinal, pegamos a Itália, que nós tínhamos vencido há pouco tempo, na própria Itália, por 2 a 1. Mas dessa vez foi diferente…”

“Ah, já sei… Esta paerte da história é famosa. A Copa de 1934 foi na Itália e o ditador Benito Mussolini fez de tudo para conseguir a Copa.”

“Pois é… Dizem que o juiz da nossa partida, o sueco Ivan Eklind, jantou com o Mussolini uns dias antes. E o cardápio deve ter sido ótimo, porque durante o jogo o Eklind fez de tudo. Pode perguntar para qualquer uma das sessenta mil almas que estavam no San Siro naquele dia. O Eklind não via uma falta a nosso favor, não marcou um pênalti claríssimo em cima de mim e, no fim do jogo, ele, sem querer, é claro, bateu a cabeça numa bola que vinha na minha direção na grande área.

“Puxa, que escândalo!”

“Agora me pergunte se ele foi punido?”

“Ele foi punido?”

“Não! Pelo contrário! Ganhou o privilégio de apitar a final! E aí a Itália ganhou na prorrogação.”

“Um absurdo!”

“Eu apanhei tanto naquele jogo que nem consegui participar da disputa do terceiro lugar. E aí perdemos para a Alemanha por 3 a 2. Aliás, esse jogo foi desastroso.Áustria e Alemanha tinham uniformes iguais, então nós tivemos que jogar com umas camisas do Nápoli emprestadas.”

“E a Copa seguinte?”

“Bem, passamos tranqüilos pela fase eliminatória. Mas, no dia 13 de março de 1938, a Áustria foi anexada pela Alemanha. Ou seja, sumimos do mapa. Dali em diante os jogadores austríacos teriam que jogar pela seleção da Alemanha. Veja que ironia, fomos roubados pelos fascistas e agora teríamos que servir aos nazistas.”

“E como foi sua carreira na seleção alemã?”

“Não foi. Eu me recusei a jogar. Sempre dizia que estava machucado. Aí a Gestapo começou a me investigar. E descobriu que eu era amigo de judeus e simpatizante dos comunistas.”

“Xi…”

“E isso não era a pior coisa na minha ficha. O pior aconteceu na partida para festejar a anexação. Havia no ar a sensação de que nós não poderíamos vencer. Poderia ser perigoso para a saúde, entende?”

“Sei, sei…”

“Bem, por minha sugestão, nós jogamos de camisas e meias vermelhas e calções brancos, as cores da bandeira da Áustria. E nós dominávamos a partida com facilidade. Mas, “estranhamente”, perdíamos todas as chances. Eu mesmo já tinha desperdiçado três oportunidades na cara do gol. Era uma humilhação, sabe? Mas fazer o quê? Desafiar os alemães?”

“Que situação difícil…”

“Ficamos assim, naquela lenga-lenga, até o meio do segundo tempo. Aí o público começou a vaiar. Ah, como aquela vaia doeu… E ela doeu porque estava certa. Nós não podíamos abaixar a cabeça! Tínhamos que desafiar os alemães. Então nós começamos a correr feito doidos e o jogo virou uma guerra. Logo depois, a bola sobrou para mim na meia lua. Eu dei um toque sutil, encobrindo o goleiro que estava adiantado. O público delirou! Ainda mais quando eu fui até a tribuna de honra onde estavam as autoridades nazistas, e dancei uns passos de Rheinland Pfalz, uma dança popular austríaca. Foi uma gargalhada geral em cima das autoridades alemãs. Depois disso, nós enchemos ainda mais de brio e fizemos dois a zero.”

“E os alemães deixaram isso ficar assim?”

“Uns meses depois, eu e minha namorada, uma judia italiana, fomos encontrados mortos no quarto dela.”

“Foi a Gestapo?”

Ele não me respondeu. Apenas ajeitou o turbante e disse:

“Mais de 40 mil pessoas foram ao meu enterro. Fui enterrado no mesmo cemitério onde estão Brahms, Schubert e Johann Strauss. Minha tumba fica perto da do Beethoven. Um lugar apropriado para o Mozart do futebol, rá, rá! A vida tem suas ironias. E a morte também.”


Resultado da toreroteca
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Torero

Antes de mais nada, vamos ao resultado das eleições no blog. Aqui, Dilma teve 52,7%, Serra ficou com 36,5% e o nulo se saiu muito bem, com 10,8% (se bem que há quem diga que os três candidatos eram nulos).

Mas o que realmente interessa não é a presidência do Brasil,  e sim quem ganhou a toreroteca. 

A votação de Dilma foi de 55.752.092. E tivemos quase 300 palpites.

Logo nos primeiros minutos da toreroteca, às 8h21 de sexta-feira, Dorfo mandou um chute que passou raspando: 55.669.124 votos. Pensei que já tinha um vencedor.

Mas eis que Raul Antonio Ferraz, às 9h24, mandou a bola na trave: 55.712.631.  Menos de quarenta mil votos de diferença para o número final.

Raul liderou por muito tempo, até que, Marcelo Gomes de Moraes, no apagar das luzes, ou do sol, de sexta-feira, chutou no ângulo: 55.732.449. Menos de 20 mil votos de diferença. Para ser exato, 19.643 votos, o que significa um erro de 0,014%, mais preciso do que qualquer instituto de pesquisa.

Marcelo fica com o livro (mande aí seu endereço, Marcelo) e com o cargo de Diretor para previsões políticas e metereológicas do Datarero.


Toreroteca política
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Torero

Pois bem, caro eleitor e caríssima eleitora, hoje teremos uma toreroteca diferente. Uma toreroteca política!

 Ganhará aquele que acertar (ou que chegar mais perto) de quem vencerá a eleição para presidente e com quantos votos.

 O prêmio, já que esta é uma toreroteca política, será meu livro Os Vermes.

 De quebra, você ainda pode dizer em quem vai votar, assim fazemos um Datarero para saber como andam as preferências aqui no blog.

Para ajudar, dou-vos alguns números:

Nosso total de eleitores é de 135.804.433.

No primeiro turno votaram 111.187.065 (a abstenção foi de 18,12%)

O número de votos válidos (tirando brancos e nulos) foi de 101.584.095.

E provavelmente teremos uma abstenção maior por conta do feriado.

 O meu palpite é que Dilma vence com 53.159.654 votos (um deles, meu).

 Vote no voto!


Black Red x Tim Timão
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Torero

(Desenhos: André Bernardino)

Era o duelo das multidões.

 De um lado, um lutava para chegar ao céu. Do outro, o outro batalhava para não despencar no inferno.

 Um buscava a felicidade, outro, o alívio, que é uma felicidade com desespero.

 Black Red e Tim Timão, os dois mais amados caubóis de Brasileirão City se enfrentaram ontem.

 O urubu de Black Red voava sobre os dois, esperando sua refeição.

 Tim começou com cuidado, escondendo-se atrás das pedras da Big Factory of Sugar, esperando a hora certa de atacar. E ele faz isso muito bem.

 Já Black Red quis bancar o corajoso e empunhou três revólveres ao mesmo tempo. Era o seu famoso ataque em 3D, com Diego, Diogo e David. Mas Black não tem habilidade para atacar tridimensionalmente, e acabou se atrapalhando, com o que Tim se aproveitou e bang!, disparou sua Colt Ronald em Black.

A Colt Ronald é uma arma antiga e um tanto pesada demais, mas é certeira. Não desperdiça balas.

 Os dois caubóis pararam para um uísque e, quando voltaram à luta, Black não perdeu tempo: Bang!

 Acerto Tim Timão com um de seus 3D, no caso, o Diogo.

A coisa está black para Red.

 A partir daí os dois tiveram boas chances, mas estava escrito que nenhuma das multidões que seguem os dois caubóis choraria naquele dia. Nem de alegria, nem de tristeza.

 Na verdade, o resultado não foi terrível, mas também não foi bom. Tim Timão não alcançou o céu. Black Red não escapou do inferno.


Convite e links
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Torero

O convite é para os mineiros. Hoje, às 19h30, estarei no Museu de Artes e Ofícios falando do meu novo livro, O evangelho de Barrabás, sobre literatura, jornalismo, cinema e, é claro, futebol.

Aliás, agora que o blog permite link com twitter, facebook e outras modernidades, recoloco aqui o endereço do vídeo sobre o livro: 

http://www.youtube.com/watch?v=fwPR2M8lrm4

E, como às terças costumo colocar o link para um curta, hoje coloco dois:

Este é um videozinho com a música do Ayrton Senna, mas com um final inesperado:  http://www.youtube.com/watch?v=X_51bD0Y3-A

E este é um bom curta brasileiro para os fãs de Tarantino: http://www.youtube.com/watch?v=op4byt-DtsI


Brasileirão City, onde as balas fazem curvas
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Torero

(ilustrações de André Bernardino)

Em Brasileirão City, a única coisa previsível é que tudo é imprevisível.

Lá os pequenos vencem grandes e as balas fazem curvas.

Faltam apenas sete duelos, e ainda não se sabe quem vai ficar com a estrela dourada de xerife.

Esta rodada foi surpreendente, tão surpreendente que Seth Fire não empatou. Sim, isso mesmo. Depois de oito empates seguidos, que fizeram sua torcida arrancar os cabelos e ficar calva como ele, Fire conseguiu vencer (por apenas um tirinho) a bela Victoria Salvador, que agora corre grande risco de ser mandada para Série B Village. Uma pena…

Tim Timão, que vinha mal, enfrentou Big Green, que vinha bem. O esperado seria uma vitória do caubói que só se alimenta de pizzas, mas eis que Tim surpreendeu o arquirrival e venceu-o pela contagem mínima. Mais uma vez graças ao seu eficiente revólver Bruno César, que deu tiro que ricocheteou antes de se alojar no peito de Green. Foi uma boa estréia do chapéu Tite de Tim Timão.

Outra surpresa foi o índio Guarani, que é muito perigoso quando joga em suas matas mas desta vez foi vencido por Dave Dragon. Dragon, estreante em Brasileirão City, parecia fadado a ficar entre os quatro últimos. Mas, desde que vestiu o chapéu da marca René, vem se recuperando e agora já é o 14º. colocado.

Louis Laranjeira poderia ter se isolado na liderança, mas só empatou com Harry Hurricane. Aliás, Harry vem se recuperando com louvor depois de um começo cheio de tropeços, e, a bem da verdade, foi ele quem cedeu o empate. Louis deve ter saído satisfeito com o empate no Arena Saloon.

Joaquim Wayne ficou no empate com Black Red, o caubói que leva um urubu de estimação em seu ombro. São caubóis médios, no meio da tabela. O que poderia ser um duelo clássico, foi apenas mais um duelo. 

Outro empate, este mais trágico, foi o que aconteceu entre James Colorado e seu arquiinimigo Sancho Pampa. Quem vencesse renovaria suas esperanças de chegar às primeiras posições. Mas James Colorados, acertando uma bala no finzinho, acabou com a festa de Pampa. Estava escrito que nenhum dos dois faria um churrasco em comemoração à vitória. 


 
John Esmeraldine venceu a bela Ava Wee, que tinha começado tão bem o torneio… Os dois continuam com grandes chances de terem que pegar a carruagem para Série B Village. Mas John tem melhorado, e a esperança é a última que morre. Ainda mais em Brasileirão City, onde tudo pode acontecer.

Aliás, tudo mesmo, inclusive um caubói estar vencendo, em casa, ao seu oponente (o último colocado) por duas balas a zero e depois tomar três tiros, errar um disparo à queima roupa e, mesmo com o inimigo com duas armas a menos, não conseguir empatar o duelo. Foi o que aconteceu com Billy, the Fish, e o jovem Pete Prudent. O imberbe Prudente parecia morto, mas, no intervalo, tomou um gole de bourbon e ressurgiu das cinzas, conseguindo uma vitória que lhe dá uma réstia de luz em meio às trevas. Já Billy diminuiu muito suas chances de conseguir a estrela dourada. Tsc, tsc…

Sir Arah também não se intimidou com Jack Tricolor e meteu-lhe logo dois balaços. Não, ninguém respeita mais os caubóis paulistas. E isso é ótimo para Brasileirão City.

E o melhor duelo da rodada, pelo menos em números de balas, foi entre Will Uai e Rob Gallo. Os caubóis mineiros precisavam vencer por motivos diferentes: um era o líder e queria se afastar dos adversários; o outro queria se livrar da sombra de voltar para Série B Village.

Gallo começou implacável. Seu certeiro rifle Obina acertou três tiros em Will. Mas este, em vez de se esvair em sangue, ergueu-se e, no fim das contas, perdeu por 4 a 3, quase conseguindo o empate nos últimos minutos.

O resultado foi que Will perdeu a liderança. E Gallo saiu das últimas posições (depois de 21 rodadas seguidas).

Mas tudo pode mudar, ficando diferente ou voltando a ser o que era, que em Brasileirão City, as balas fazem curvas e só o que se espera é o inesperado.


Al-Chaerianas
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Torero

O insigne Al-Chaer, poeta, engenheiro e torcedor do Goiás,  fez dois poemas visuais sobre Pelé.

O primeiro chama-se “Pelé entra em campo”.

Este segundo é o “Soco no ar”:

Para ver o site completo, clique aqui: http://visu-al-chaer.blogspot.com/


Zé Cabala e o homem que virrou estádia
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Torero

Quando cheguei à nova sede da Igreja Mundial da Divina Ascensão, que é um puxadinho que Zé Cabala fez atrás de sua casa, disse:

“Gostei da nova sede, mestre.”

“A Imunda merecia este palácio.”

“Imunda?”

“É a nossa sigla. I de igreja, Mun de Mundial…”

“Já entendi, já entendi.”

“Pois bem, o que vai ser hoje?”

“Gostaria de fazer algo diferente. Quem sabe vossa santa espiritualidade possa incorporar um jogador internacional.”

“Tudo bem, mas você vai ter que pagar em euros.”

Antes que eu fizesse alguma objeção, o supino mestre começou a dançar de uma maneira estranha, algo entre a polca e um ataque epilético.

Depois de algum tempo, ele disse com sotaque alemão.

“Muita prazer, eu ser Fritz Walter.”

“Fritz Walter? O grande capitão da seleção alemã de 1954? O melhor jogador de alemão de todos os tempos segunda a FIFA? Aquele que foi o primeiro kaiser, depois seguido por Beckenbauer e Matthaus? Aquele que…”

“Você vai falar tudo ou vai deixar uma pouco parra mim?”

“Desculpe…”

“Pois eu ser esse mesmo: Friedrich ´Fritz’ Walter. Daqui a dez dias eu farria 90 anos. Pena que eu morri em 2002, bem no meio do Copa.”

“Dizem que o senhor foi o maior.”

“O maior, não, porque tinha só 1,73 m e era magrinha. Nem parrecia alemão. Mas fui uma bom meia.”

 “Jogou pelo Kaiserlautern, não é?”

“Isso, foi o único time em que jogar em toda a minha vida. 306 gols em 379 jogos. Meu pai era o gerrente do bar do clube. E dois de meus irmãos, Ludwig e Ottmar, também jogarram lá comigo: Comecei no Kaiserlautern com 8 anos, estreei no equipe principal com 17 e pendurei os chuteirras aos 39. Mas houve uma intervalo.”

“Contusão?”

“Pior: guerra. Fui convocado para servir como parraquedista.”

“Você lutou por Hitler?”

“Você acha que eu tive escolha? Você acha que eu querria que a guerra roubasse os melhorres anos do meu futebol?”

“Bem… e como foi na guerra?”

“Foi terrível. Tive até malárria. No fim do guerra, meu unidade se rendeu ao exército amerricano. Mas fomos entregues aos russos. Então, enquanto estar no campo de prisioneirros de Marmaros-Sziget, esperando o transferência para a Sibéria, onde os prisioneirros sobreviviam pouco tempo, alguns soldados húngaros, veja que irronia, me reconhecerram e acabei voltando para o Alemanha.”

“E a seleção?”

“Estreei aos 19 anos, em 1940, e logo nesse jogo já marquei três gols. Mas parrei com a guerra e só voltei a jogar pelo meu país em 1951, já com 30 anos.”

 “Aí foi sua melhor fase?”

“Sim. Em 1951 e em 1953 o Kaiserlautern foi campeão alemão. Depois, o clube só foi campeão em 1998. E em 53 também fui artilheirra do campeonato. Principalmente por causa dos meus cobranças de faltas.”

“E houve a Copa de 1954…”

“Foi o ponto alto do meu carreira.”

“O ponto alto de sua carreira não foram os saltos de paraquedas, rá, rá?”

“Você sempre faz piadas tão sem graça? Pois fique sabendo que fiquei tão traumatizado que nunca mais subi num avião depois do guerra.”

“Desculpe…”

“Tuda bem.”

“O senhor estava falando da Copa de 54…”

“Isso. Houve um jogo, contra o Áustria, que ganhamos de 6 a 1. Dois gols meus e dois de meu irmão Ottmar Walter.”

“Na fase de classificação vocês perderam da Hungria, não é?”

“Foi um surra! 8 a 3 parra eles. Nós entramos em campa com muitos reservas. Depois, no final do Copa, jogamos com todos as titularres e aí foi diferente.”  

“Com menos de dez minutos já estava 2 a 0 para a Hungria, não é?”

“Isso. Mas empatamos antes dos vinte. Nosso primeiro gol foi de Morlock. Depois, eu cobrei uma escanteio e Rahn marcou o segundo. Ah, Rahn, aquele bêbado mulherrengo… Você precisa entrevistar ele…”

“Estava chovendo naquele dia, não?”

“Estava. E esse foi meu sorte. É que por causa do malárria eu sofria muito com o calor. Com frio e chuva eu jogava melhor. As pessoas até chamavam esse clima de clima Fritz Walter.”

“Não foi este jogo que ficou conhecido como ‘O Milagre de Berna’?”

“Foi. Porque parecia impossível vencer as húngaros. Eles estavam invictos há 33 jogos.”

“E como foi o final da partida?”

“Hidegkuti, da Hungria, acertou uma chute na trave. Logo depois, Rahn pegou um bola na entrada do árrea e chutou de perna esquerda na ângulo. Uma golaço! Aquela foi nossa primeirra Copa. Uma coisa muito boa parra o meu país recuperrar o morral. E eu tive o honra de ser o primeirro capitão alemão a receber a taça.”

“E na Copa seguinte?”

“Eu tinha 37 anos, mas ainda era o capitão. Estávamos muito bem até a semifinal contra o Suécia. O jogo estava 1 a 1. Então, faltando 15 minutos, eu me machucar e ficar andando em campo. Aí eles fizerram 3 a 1. No jogo pelo terceirro lugar, também não pude entrar e perdemos para o França.”

“O que o senhor fez depois de parar com o futebol?”

“Eu parrei em 59. Aí dirigi um lavanderria e depois uma cinema.”

“E recebeu muitas homenagens, não?”

“Muitas. O melhor delas foi em 1985, no meu aniversárria de 65 anos.”

“O que aconteceu neste dia?”

“Eu virrei estádia.”

“Hein?”

“É que colocarram o meu nome no estádia do Kaiserslautern. Não numa rua, ou numa praça, mas na estádia do único time em que joguei. Não podia ter homenagem melhor.”