Blog do Torero

Arquivo : December 2010

O futebol na música popular brasileira
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Torero

Luiz Guilherme Piva

É possível aproximar algumas letras da música brasileira a partir da forma como elas tratam o futebol. Neste texto, tento identificar umas poucas temáticas que me parecem mais chamativas.

Uma delas é a associação do futebol com a alegria e o descanso do domingo, oposto à luta e ao trabalho sofrido da semana. Chico Buarque, em Bom tempo, comemorava o fato de se vingar no domingo do duro que dava toda a semana e poder sair por aí “satisfeito, a alegria batendo no peito, o radinho contando direito a vitória do meu tricolor”. 

Fausto Nilo, em Pão e poesia (com melodia de Moraes Moreira), como o próprio título adianta, faz a mesma relação, talvez um degrau acima, acrescentando ao domingo e ao futebol as idéias de felicidade, amor e poesia, contrapostas à batalha ingrata da semana – ou da vida real. Felicidade, ali, é “fazer gol e namorar”, possíveis depois que “a fábrica apitar”, ou seja, no final da semana, quando é possível esquecer “a luta desigual, a força bruta”: “nesse dia é feriado, não precisa trabalhar”.

            Paulo César Pinheiro (com melodia de Francis Hime), em Catedral, vai no mesmo tom de futebol como elevação poética ao comparar o Maracanã, nos domingos, a uma catedral (note-se que também nesta é no domingo que ocorrem as principais celebrações “da festa popular”: “domingo é lá que a poesia vai rolar”.

            A importância do domingo e do futebol aparece também em A nível de…, letra de Aldir Blanc (com melodia de João Bosco), mas com uma dimensão nova, que é a do conflito entre homem e mulher, muitas vezes por causa do próprio futebol. No caso desta letra, a preferência pela ida ao estádio pode ser causa ou conseqüência da crise conjugal: dois amigos vão todos os domingos ao Maracanã, enquanto suas esposas ficam em casa – e os quatro têm em comum o fato de, nessas horas, se dedicarem a criticar o casamento.

Gol anulado

Chico Buarque igualmente registra o conflito entre homem e mulher por causa do futebol em Biscate, em que a esposa se dedica a fazer agrados, doces e carinhos ao marido, mas ele não lhe dá a mínima e ainda reclama: “quieta que eu quero ouvir Flamengo e River Plate!”. Ela se queixa também de que ele não resiste a um “rabo de saia”. É quase o mesmo casal de Com açúcar, com afeto, também de Chico Buarque, no qual o desvelo da mulher, que tenta, com o doce predileto do marido, segurá-lo em casa, se frustra porque ele sai para os bares, onde “alguém vai sentar junto, discutindo futebol”, e ele vai “ficar olhando as saias” de outras mulheres.

Esse conflito entre o futebol e a mulher pela preferência do marido, com clara escolha deste em favor do futebol, chega ao cume em duas letras de Aldir Blanc (ambas com melodia de João Bosco): Incompatibilidade de gênios e Gol anulado. Na primeira, é como se aquele casal de Biscate falasse novamente (na verdade, antes, dado que esta letra de Aldir é anterior àquela de Chico). O marido quer se separar da mulher por conta de uma série de atitudes dela que ele julga insuportáveis, entre elas a seguinte: “jogava o Flamengo, eu queria escutar; [ela] chegou, mudou de estação e começou a cantar”. Na segunda, o caso é mais grave. O marido se separa de fato da mulher, e antes disso aplica-lhe uma surra porque ela deixa escapar que é flamenguista ao gritar gol de Zico, o que ele toma como uma enorme traição: “três anos vivendo juntos, e eu sempre disse, contente, a minha nega é rainha porque não teme o batente, dá duro lá na cozinha e ainda é Vasco doente”. Termina o amor – e a letra identifica a ruptura com um gol anulado, o jogo terminado, o rádio desligado.

            Tom Jobim, em Falando de amor, reconhece o grande conflito entre o futebol e a mulher amada e, apesar de, ao contrário dos personagens das letras acima, escolher a mulher, ressalta o grande valor de sua escolha e o tamanho de seu amor justamente pela comparação com o que haveria de muito precioso: “quando passas tão bonita (…) eu me esqueço até do futebol”.

            Pedalada

A síntese (dialética, dizia-se antigamente) do domingo como celebração da alegria e do futebol, trazendo junto o amor, a música e o prazer, mas também como espaço para os conflitos, brigas, traições, opressões e signos negativos da dureza da política e da vida, estão em Linha de passe, letra de Aldir Blanc (com melodia de João Bosco). Nela, o domingo começa com um enorme piquenique, com muita comida, sexo (insinuado pelas formas e nomes das comidas), samba e futebol harmonioso (o tipo de treino que dá nome à canção).

Mas em dado momento instala-se a confusão, o momento bom fica para trás, “já era o Garrincha”, “hoje em dia rola a bola, é sola, esfola, cola, é pau a pau” e a harmonia acaba (“meu pirão primeiro”). No final, fica claro que a mudança no piquenique, na harmonia e no futebol é também uma metáfora do Brasil, que deixara um tempo melhor para trás e vivia sob a ditadura, sob a qual traidores ganhavam espaço: “e a pedalada quebra outro nariz na cara do juiz; e há quem faça uma cahorrada e fique na banheira ou jogue pra torcida feliz da vida”.

            Pedalada, na letra de Aldir, nada tem a ver com a jogada consagrada recentemente por Robinho. Refere-se, provavelmente, a um ex-jogador de futebol apelidado de Didi Pedalada (falecido em 2005). Ainda quando jogador (atuou no Atlético Paranaense e no Internacional), em 1978, participou do sequestro de um casal de esquerdistas uruguaios no Brasil como parte da chamada Operação Condor (ação conjunta das ditaduras latino-americanas da época). O fecho sombrio da letra dá o novo conteúdo ao domingo. E, por extensão, dada a vinculação entre eles, ao futebol.

E eis que o sentido do futebol então, em muitas letras de canções, será negativo, associado à tristeza, à alienação, à opressão.

            Transformando a partida em pedreira

            Agora, o futebol, o samba e a festa são quase o oposto do que se diz nas letras acima apresentadas. São o sinal da alienação, da exploração, do sofrimento do povo mais simples, que se embevece com tais ilusões e não vê a pedreira que enfrenta; quando antes eram a poesia contra a dureza da vida. Mais até, são utilizados pelos dominadores políticos e exploradores econômicos para manter a injustiça e a opressão.

            Gonzaguinha foi um dos compositores que foram mais fundo nessa leitura. Uma de suas composições é sintomaticamente intitulada E por falar no Rei Pelé, já dando a chave da mensagem: o futebol é o circo com que se oculta a realidade, na qual o povo, oprimido, trabalha e sofre. Na canção, “craque mesmo é o povo brasileiro”, que “corre (…) se esforça (…), com os homens em cima em marcação, transformando a partida em pedreira”. Outra de suas composições (Se o meu time não fosse campeão) leva ao paroxismo essa visão. Nela o torcedor se empenha e briga pela vitória do seu time, se entregando depois a comemorar o campeonato. Não lhe importam a falta de dinheiro e a “batalha da vida”. Só a hipotética derrota do time é que o levaria à revolta – que é uma forma oblíqua de dizer que provavelmente é o futebol que o impede de se revoltar com as injustiças reais, capturando sua energia e obscurecendo sua consciência.

            Chico Buarque também emprega essa idéia. Em Meu caro amigo (com melodia de Francis Hime), cuja letra simula uma carta a um brasileiro exilado pela ditadura militar, a mensagem, apesar de anunciar que serão relatadas muitas coisas, se restringe a dizer que “a coisa aqui tá preta” e que “aqui na terra estão jogando futebol, tem muito samba, muito choro e rock’n’roll”. Há uma certa metalinguagem ao se evidenciar que não se pode escrever e contar o que se pretende. E há a ironia pesarosa de que futebol e música cumprem seu papel de circo.

            A mesma idéia se encontra em Deus lhe pague, e aqui, além do futebol, também as mulheres, as saias, a praia e o domingo (que estão com outros valores nas canções citadas no início) viram do avesso. Passam a ser parte da alienação e da dominação autoritária. A fala, na letra, é de alguém que, sendo presumivelmente miserável, agradece, de forma irônica ou ignorante, pelas coisas de que usufrui, tais como o “futebol pra aplaudir, um crime pra comentar e um samba pra distrair (…), essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui (…), pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi”.

            Outra forma de apresentar essa alienação está em De frente pro crime, letra de Aldir Blanc (com melodia de João Bosco). Trata-se igualmente de um crime para ser comentado, mas com indiferença, pelos que vêem o defunto estendido no chão – também presumivelmente pobre e desprovido de identidade. O futebol aparece na despersonalização do morto (“em vez de rosto uma foto de um gol”) e na frieza e no distanciamento dos assistentes (“sem pressa foi cada um pro seu lado, pensando numa mulher ou num time”).

            Arte popular brasileira

                Mas a presença do futebol como fonte de alienação ou como instrumento auxiliar do domínio político mais parece ter sido uma fase – com justificação histórica até – do que uma vertente das letras das canções. A idéia mais forte e mais funda de alegria e manifestação de riqueza cultural se impõe com grande vantagem.

            Há, em muitas canções, a expressão do futebol como arte, seja pela beleza plástica de sua execução, seja por ser (como defende certo conceito de arte) linguagem coletiva. Mais ainda: trata-se de arte popular (criada e exercida pela gente mais simples) e autenticamente brasileira, o que nos faria diferentes, únicos (e melhores), em relação a todas as outras nacionalidades. Não só no talento para jogar, mas também no caráter, dado que o futebol brasileiro carregaria, nessa leitura,  alegria, espontaneidade, criatividade e improviso. Aliás, este registro de particularidade do caráter brasileiro (e de suas supostas alegrias e criatividades) está presente em muito da produção intelectual brasileira.

            A arte do futebol, por vezes, supera a própria arte em suas manifestações tradicionais. Em O futebol, Chico Buarque cita o trabalho de compositores e pintores como incapazes de atingir o efeito de certas jogadas : “para tirar efeito igual ao jogador, qual compositor?”, “que pintor para emplacar, em que pinacoteca, nega, pintura mais fundamental que um chute a gol?”. Caetano Veloso, em Reconvexo, lista o ex-craque do Bahia, Bobô, entre outros símbolos de cultura popular: “Olodum balançando o Pelô, (…) novena de Dona Canô, (…) mendigo Joãozinho Beija-Flor, (…) elegância sutil de Bobô”.

            Uma síntese das idéias aqui expostas está em Sangue, suingue e cintura, de Moraes Moreira: “bola é arte do povo, sua alegria Deus manda. Mistura de pés, futebol e arte, que em nenhuma outra parte do mundo há”. O mesmo Moraes Moreira formula a importância do futebol para o povo humilde e para as crianças em Saudades do galinho. E eis que novamente a articulação entre o futebol, o domingo e a superação da dureza da vida do povão ganha vigor.  Com a venda de Zico para a Udinese, da Itália, em 1983, o compositor lança dúvidas que não são apenas futebolísticas: “e agora, como é que eu fico nas tardes de domingo, sem Zico no Maracanã? E agora como é que eu me vingo de toda derrota da vida, se a cada gol do Flamengo eu me sentia um vencedor? Como é que ficam os meninos (…), arquibaldos, geraldinos, como é que fica o povão?”.

            Defende-se que o futebol é prática autêntica e popular, jogada desde criança nas ruas do Brasil. Isso é que faz nossa seleção melhor do que as outras, como na letra de Reis da bola, de Moraes Moreira, na qual nossos jogadores são apresentados, a partir do título, como oriundos do “jogo de rua, da bola de meia”. Aqui deve se destacar, adicionalmente, que a associação entre criança e futebol traz à tona, além das idéias de espontaneidade, alegria e criatividade, a de tempo feliz. Chico Buarque, em Doze anos, expressa saudades de chutar lata, dar banda por aí (seria possível até conectar esse passado ao futuro anunciado na letra de Bom tempo, que vimos no início), das travessuras e do “futebol de rua”. Toquinho, em A bola (com melodia de Mutinho), estabelece identidade total (é o mesmo “ser”) entre a bola que balança a rede e instala a “festa no Maracanã” e a que vai “de pé em pé (…) da chuteira do menino à vidraça da mulher”.

            Galvão, em Só se não for brasileiro nessa hora (com melodia de Moraes Moreira), formula praticamente a consolidação poética dessa idéias. Apresenta-se como um adulto que, para escapar ao sofrimento, tenta continuar a ser  o mesmo menino que corria atrás da bola nas ruas de sua pequena cidade. O sofrimento talvez se tenha inaugurado quando ele quebrou a vidraça da vizinha e ela furou sua bola no meio da rua. Sua opção, como adulto, entre a vida dura e o refúgio que busca no menino que deixara de ser, é a de escolher a vida que, como uma pelada de rua, segue existindo na criança. O fecho da letra descreve um menino que, jogando futebol na rua, correndo atrás da bola, fica à mercê de ser atropelado: “pára, apito; pára, grito”. Mas o menino segue e, “quando já não há tempo”, faz sua escolha: “e o menino deixa a vida pela bola.” Diagnostica o letrista: “só se não for brasileiro nessa hora!”.

            Depreende-se que o menino morreu em causa maior, cumprindo um destino que é mais forte do que ele mas ao mesmo tempo é sua escolha, sua preferência, sua realização, seu prazer. E que morreu feliz.

            Provavelmente num domingo.

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Luiz Guilherme Piva publicou Ladrilhadores e semeadores (editora 34) e A miséria da economia e da política (Manole).


Resultado da toreroteca
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Torero

Marcos Cesario saiu-se muito bem, errando por apenas cinco minutos o gol de Pandev. Mas Danilo Angeloni chegou ainda mais perto. Errou apenas por um, tirando o livro que já estava nas mãos de Marcos.

Marcos, receba meus sinceros pêsames.

Danilo, mande seu endereço.


Sobre imperadores e melancias: esclarecimentos à imprensa sober a unificação
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Torero

Texto de Marcio R. Castro

A unificação dos títulos brasileiros (que seria mais correto chamar de equiparação) deixou o mundo do futebol em polvorosa, mesmo antes de se tornar oficial. E não me refiro somente a torcedores, dirigentes e jogadores, mas principalmente a jornalistas.

Por todos os cantos, vejo análises de jornalistas renomados, que acompanho e admiro, cheias de reservas e desinformação. É preciso, então, esclarecer as dúvidas e ressalvas que vêm assombrando nossa imprensa.

Uma delas é que, futuramente, outros clubes poderiam solicitar a “unificação” dos títulos da Copa do Brasil, já que a competição seria hoje o que foi a Taça Brasil de 59 a 68. É o que afirma Alberto Helena Júnior, por exemplo.

A comparacão é um grande equívoco. A Taça Brasil, quando surgiu, era a única competição nacional do país. Aliás, ela foi criada justamente com o intuito de eleger o campeão brasileiro de futebol e, por consequência, de indicar o representante nacional na Libertadores da América.

A Copa do Brasil, ao aparecer, ocupou óbvia e imediatamente o espaço de segundo torneio nacional, já que, desde 1959, existia uma competição principal que valia o título de campeão nacional.

Portanto, Helena, qualquer movimento para conferir à Copa do Brasil (e à Copa dos Campeões, outra copa nacional disputada entre 2000 e 2002) o mesmo status da Taça Brasil, do Torneio Roberto Gomes Pedrosa e do Campeonato Brasileiro deve ser acompanhado por boas risadas.

Não são poucos, também, os que batem na tecla do número de jogos que se realizava para ganhar a Taça Brasil. É o caso dos jornalistas Juca Kfouri e Rodrigo Bueno, que apontam com objeção as meras 4 ou 5 partidas que Santos e Palmeiras precisaram para levar os troféus.

Isso se deve à fórmula de disputa, que previa que os campeões paulistas e cariocas entrassem na competição somente nas semifinais. Não era uma proteção. O que se levava em conta era que os campeonatos estaduais de São Paulo e Rio eram muito mais fortes e acirrados do que os outros (ainda o são hoje, mesmo que em escala bem menor), e por isso seus campeões ganhavam esse “privilégio”.

Explicado o sistema de classificação, não vejo jornalista nenhum desconsiderar os titulos mundiais da Copa Intercontinental, conquistados em um ou dois jogos apenas, nem os da atual Copa do Mundo de Clubes da FIFA, que também pode ser resolvida em duas partidas e na qual clubes europeus e sul-americanos entram numa fase mais adiante.

O paralelo é exato: na Taça Brasil, os estaduais serviam como “fase de classificação”, assim como as competições continentais são para o Mundial. Na Taça Brasil, os clubes vindos dos estaduais mais fortes e tradicionais entravam numa fase mais avançada; no Mundial, os times vindos dos campeonatos continentais mais fortes e tradicionais, também.

O Santos foi campeão sul-americano em 63 fazendo apenas quatro jogos e entrando numa fase mais avançada da Libertadores. O Independiente, também, ao entrar direto na semifinal de 65 e disputar só cinco jogos. Na época, o regulamento previa essa primazia aos atuais campeões. Alguém acha que essas conquistas devem ser desconsideradas? Ou devem ter um status diferente das Libertadores disputadas hoje?

Por isso, Juca e Rodrigo, é evidente que a quantidade de jogos disputados não deve ser levada em conta para eleger um campeão nacional, continental ou mundial. O que importa, mesmo, é se o torneio tem o significado que alega-se ter. Tanto a Taça Brasil quanto o Robertão, tinham.

Vi também o Celso Unzelte e o PVC se utilizarem de uma metáfora para contestar a equiparação. Segundo eles, não é preciso chamar Dom Pedro I de Presidente da República para reconhecer seu valor. Já o Sérgio Xavier, na mesma linha, argumenta que “é como pegar melancias e maracujás e dizer que é tudo laranja”. Do nada, de acordo com ele, “tudo virou Brasileirão”.

Não é nada disso. O termo unificação, que vem sendo usado, se refere à dimensão das conquistas, não a suas nomenclaturas. Ninguém está chamando Dom Pedro de presidente. Apenas afirma-se que ambos, presidente e imperador, são chefes de estado. O Fluminense, por exemplo, é três vezes campeão brasileiro, por ter conquistado um Robertão e dois Campeonatos Brasileiros. Melancia continua sendo melancia, laranja continua sendo laranja.

Outros tantos jornalistas, como Renato Maurício Prado e Roberto Assaf, apontam os anos em que a Taça Brasil e o Robertão foram concomitantes como uma discrepância inadmissível. Ainda mais que, em 67, o Palmeiras ganhou os dois torneios.

No futebol paulista, de 1926 a 1929 e em 1935 e 1936, mais de uma equipe foi campeã estadual, no mesmo ano, por conta de ligas paralelas. Em 73 também, dessa vez por lambança do juiz. No Rio, em 79, foram disputados dois estaduais, o que tornou o Flamengo bicampeão num único ano.

Em 2000, há apenas dez anos, tivemos dois campeões mundiais: o Boca levou a Copa Intercontinental e o Corinthians o Campeonato Mundial de Clubes.

Atualmente, na Argentina, Chile e Colômbia, dois campeões nacionais são consagrados por ano, com o Apertura e o Clausura. Aliás, o River em 97, o Colo-Colo em 2006 e 2007 e o Atlético Nacional em 2007, foram bicampeões numa única temporada.

Seja qual for o motivo (competições paralelas, regulamentos inusitados, mudanças políticas), fica claro que transformações que ocorrem no esporte ao longo do tempo já fizeram com que, no mesmo ano, campeões de mesma representatividade e significado fossem apontados. Não me parece que o Assaf e o Renato achem razoável desconsiderar os títulos mencionados acima.

No caso da Taça Brasil e do Robertão, houve um período de transição em que um campeonato foi se tornando mais relevante, enquanto outro começava a desaparecer. Semelhante aos dois mundiais de 2000 e aos estaduais paulistas das décadas de 20 e 30. Nos anos em que foram simultâneas, 67 e 68, ambas as competições devem ser reconhecidas, como se faz em todos os casos parecidos.

Para terminar, uma reflexão sobre o que escreve o jornalista Emerson Gonçalves: “não há porque desmerecer o passado tentando reescrevê-lo”.

Essa inversão do que de fato aconteceu é absolutamente espantosa. A História foi reescrita quando, a partir de 1971, as conquistas anteriores foram relegadas. A Taça Brasil, primeiramente, e o Robertão, na sequência, foram competições criadas e organizadas oficialmente, justamente com o propósito de eleger os campeões nacionais. Isso está fartamente documentado, em pilhas e mais pilhas de jornais e revistas da época, em rolos e mais rolos de negativos do Canal 100. 

Não há canetada alguma, não há tapetão nenhum. A Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa foram vencidos em campo, brilhantemente, e davam aos ganhadores o título de campeão brasileiro de futebol. O que está sendo feito agora nada mais é do que a redenção da História, meus caros jornalistas. E isso precisa ser informado.


Toreroteca do Mundial
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Torero

Como eu disse que, caso o Inter não marcasse gols, teríamos nova toreroteca, ei-la aqui.

O prêmio, novamente, será O Evangelho de Barrabás, livro que, não sei se vos disse, é um ótimo presente para as festas natalinas.

A pergunta é quem fará o primeiro gol na decisão do mundial de clubes e quando.

Meu palpite é Eto’o, marcando contra os seus irmãos continentais, aos 20′ do primeiro tempo.

Para facilitar, coloco cá os jogadores que participaram do último jogo de seus clubes:

Inter de Milão: Julio César,  Chivu, Santon,  Cordoba,  Zanetti,  Lucio,  Stankovic,  Cambiasso,  Eto’o,  Sneidjer,  Thiago Motta, Pandev,  Milito e Muntari. 

Mazembe: Kidiaba, Nkulukuta,  Kimwaki, Mihayo, Kasusula, Bedi, Kasongo, Ekanga, Kabangu, Kanda, Kaluyituka, Singuluma. 

Façam suas apostas!


Poeminha épico
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Torero

(A leitora Bruna Favaro pediu e eu obedeço, republicando no Velharias de hoje um texto de 2002. Por coincidência ele fala de Celso Roth)

Os alas e becões assinalados

Da oriental praia paulistana
Partiram em missão desumana
A bater inimigos colorados.

Depois do empate duro e fero,
Três a três em pleno alçapão,
Queriam ao menos 1 a 0,
e o sonho manter no coração.

Em casa, o torcedor,
Na busca do descanso,
quer esquecer o labor.
E talvez afogar o ganso.

Mas não. Ele senta na poltrona
levando nas mãos, ora veja,
O amendoim, a azeitona,
E a latinha de cerveja.

A mulher, que já o conhece,
Sabe que não adianta se bater.
Hoje nem mesmo com prece,
Verá Said, Jade ou SBT.

Assim que ela, bocejo cético,
Sai para dormir seu sono frio,
O Santos, vestido de Atlético,
Entra no Beira-Rio.

Ele dá uma risada
e se pergunta, otimista,
venceremos de goleada,
com jogadas de artista?

Será daquelas que humilham,
e levam o vencido ao divã?
Com belos gols de William
e lances ousados de Odvan?

Robert, em noite inspirada,
fará gols, dará chapéu?
E tremerá a arquibancada
nos dribles de Michel e Léo?

Preto, claro, fará a festa,
Ou então Paulo, no finzinho.
Talvez Cléber, com a testa,
mesmo Renato, de peixinho.

Não importa do gol o autor,
e sim passar à outra fase.
Voltar dos pampas sem a dor,
de outra vez dizer: Foi quase.

Mas o jogo começa e oh, não!
O Inter avança, ataca, assola.
O Santos, recuado e sem ação,
Mal retém nos pés a bola.

A defesa sofre um bombardeio
O meio-campo perde seu eixo
O ataque não diz a que veio…
E ele, sentado, coça o queixo.

Segue tudo nessa perspectiva
Faz o que pode Fábio Costa.
O torcedor, já na defensiva,
Pensa: Que grande droga…

Ele grita: Marquem esse Diogo!
Mas vem a maldição cruel,
Explodem gaúchos em fogo,
Marca o gol Carlos Miguel.

Cenas sombrias revolvem
Lá no fundo da memória
Cenas que não se dissolvem
E ofuscam a passada glória.

O trágico gol de Ricardinho,
O apito de Márcio Rezende,
Lenda sem flor, só de espinho,
Quando virá o seu The End?

Vem o tempo complementar.
O torcedor diz, coçando os pés
Se sai o gol podemos virar,
Mas tem que ser antes dos dez.

Nada de gol e ele diz: Agora
Só se for antes dos vinte
Senão fica em cima da hora.
Dor, vá lá, mas sem requinte.

Tarda o empate e ele diz: OK,
se jogarmos com afinco,
Ainda sinto que verei
o primeiro antes dos trinta.

O relógio chega a quarenta
E ele, entregando os pontos,
Sem acreditar, ainda sustenta:
Quem sabe nos descontos…

Nem vitória, gol ou lhufas…
Ele desliga a TV, sem viço
E prevê, calçando as pantufas,
O dia de gozações no serviço.

Terá um palestrino desbocado
que com sabedoria arrote:
Eu bem que tinha avisado,
É um burro o Celso Roth!

 


Cinco (ou seis) links legais
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Torero

 1-) Por estes dias saiu na Folha de S.Paulo uma reportagem estranhíssima sobre Oscar Niemeyer, na qual havia vários entrevistados e todos falavam mal do arquiteto, dando a impressão de que ele era um fracasso unânime. Não havia nenhuma voz dissonante. Um exemplo de jornalismo parcial. Pelo menos o texto falou sobre um sambinha que Niemeyer fez recentemente, bem simpático, por sinal. Para escutá-lo, clique no link: 

http://sonora.terra.com.br/#/cd/177801/tranquilo_com_a_vida

 

2-) Aqui tem um comercialzinho anticelular muito bacana. Dura 90 segundos:

http://blogdobraulio.blogspot.com/2010/12/desconecte-para-conectar.html

 

3-) Este é um curta sobre o natal muito bom, brilhante mesmo. É o nascimento de Jesus contado pela internet:

http://www.youtube.com/watch?v=tgtnNc1Zplc

 

4-) Para não dizer que não falei de esporte bretão, vai aqui o link para a Revista de História da USP, que tem um excelente dosssiê sobre futebol. Vale a pena. Por enquanto li apenas o texto sobre a Copa de 50, que conta coisas que eu nem desconfiava. É engraçado como o conhecimento cristaliza sobre alguns assuntos e acabamos ficando sábios ignorantes. Para ler a revista, clique aqui:  

http://revhistoria.usp.br/index.php?option=com_content&view=article&id=119:rh-163&catid=6:edicoes&Itemid=7

 

5-) E ontem comecei um blog ficcional (com Marcus AureliusPimenta) que vai durar 4 meses.  Ele conta a história de dois alienígens, o cabo Kubno e a tenente Velva, que vieram de Tralfamador para pesquisar a Terra (se bem que Kubno preferisse pesquisar Velva). O blog terá texto às segundas, quartas e sextas, e faz parte de um projeto maior, uma série de oito documentários para o Sesc TV e a TV Cultura, que começam a ser exibidos em abril. 

Para ler o relatório alienígena, clique aqui: http://www.somos1so.com.br/2010/12/15/a-chegada/

Para ver o site inteiro, aqui: http://somosumso.com.br/


Uma vírgula, uma reles vírgula
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Torero

Bom dia leitores.

Aviso desde já que hoje não falarei de futebol.

Sobre o quê, então?

Sobre gramática.

Daqui de casa deu para escutar milhares de mouses clicando em outros blogueiros. Tudo bem, sei que meus três fiéis leitores ficarão até o fim deste texto, que é também um desabafo.

Isso mesmo, um desabafo. Um desabafo gramático.

É que há um erro que não consigo mais suportar em emails. Um erro comum. Um erro que cometi lá na primeira linha.   

Qual?

Ora, não coloquei a vírgula antes da palavra “leitores”, que é um vocativo. E esse é um erro feio, muito feio. E tão feio quanto comum. Hoje, quase ninguém coloca vírgula antes ou depois de um vocativo. A coisa mais comum é eu receber emails começados com “Oi Torero”.

Oi, uma vírgula!

O pior é que esse erro acontece na primeira linha de quase todas as mensagens. Ou seja, logo de cara você percebe que a pessoa não domina uma regra básica de português e assim já começa a ler o email com certa desconfiança.

A função do vocativo é impedir confusões. Por exemplo, se alguém escrever “Torero, sabe português?”, estará perguntando para mim, pois lá está o vocativo para mostrar que você está chamando, invocando o ouvinte. Mas se escrever “Torero sabe português?” estará perguntando a um terceiro se eu domino a língua mãe. Não domino muito bem, como bem sabem os leitores deste blog, sempre atentos aos meus erros, mas pelo menos ponho a vírgula do vocativo.

O erro é tão comum que até o astronauta norte-americano Doug Wheelock o cometeu esta semana. Ou seja, é um erro mundial. Ou pior, universal.

Eu sei que várias pessoas ficarão irritadas com este texto e vão me mandar comentários dizendo “Torero não encha o saco.”

Tudo bem, mande o comentário, mas, por favor, ponha a vírgula antes de “não encha o saco”.


Lágrimas vermelhas
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Torero

 O sonho colorado acabou.

O time africano não era grande coisa, mas era eficiente. O Mazembe não era mambembe.

Faltou suor e talento à equipe gaúcha, faltou ousadia e cuidado, faltou razão e uma pitada de insanidade.

No começo da partida, o Inter dominava e parecia que o gol era questão de tempo. O time do Congo, o Tout Pouissant Mazembe (ou seja, Todo Poderoso Mazembe) era forte na defesa e, na base do contra ataque, levava perigo.

Mesmo assim, parecia que a habilidade venceria a força. Mas aos poucos se viu que o time brasileiro não era tão habilidoso e o africano não era tão tosco.

No segundo tempo, o jogo ficou mais equilibrado e, num belo lance de Kabangu, com a habilidade que faltou aos brasileiros, o Mazembe fez um a zero.

Para piorar, Celso Roth fez estranhas substituições, por exemplo, tirando Rafael Sobis, o melhor atacante do time, em vez de tirar um dos volantes.

Houve algumas chances desperdiçadas (inclusive uma de Giuliano, aquele que faz os gols na hora certa), mas não houve uma chuva de bolas na área africana. Não houve uma pressão irresistível, não houve uma saraivada de chutes.

O Inter, no começo,  esteve nervoso quando deveria estar calmo. E, no fim, manteve-se frio quando deveria ter sido tomado por uma ira santa, por uma fúria redentora.

No finzinho, outro gol de habilidade, desta vez de Kaluiyituka. E aí acabou de vez.

O Mazembe conseguiu duas zebras seguidas. Tomara que consiga a terceira. Ou melhor, tomara que dispute a final contra os coreanos, numa final totalmente inédita.


Octacampeões
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Torero

Finalmente a CBF unificou os títulos brasileiros.

Acho que foi a melhor solução, apesar de achar estranho que em dois anos tenhamos dois campeões.

Agora o Brasil tem dois octas: Santos e Palmeiras.

E eles possuem coincidências com outros octas:

Palmeiras e Valentino Rossi têm a ver com a Itália.

Santos e Robert Scheidt (que torce pelo Santos) têm a ver com o mar.

Toreroteca
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Torero

E vamos a uma das últimas torerotecas.

Desta feita, o livro-prêmio é este:

Lembro ao leitor que, pelo tema, O Evangelho de Barrabás trata-se de um inigualável presente de Natal, amigos secretos e afins. Mas, é claro, sempre se pode comprar Ágape, do padre Marcelo Rossi.

Bem, vamos à pergunta, que é: Quem fará o último gol do Inter no jogo de amanhã, contra o Mazembe?

Se não houver gol (toc, toc, toc), o prêmio fica para o jogo seguinte.

Para facilitar, coloco cá os jogadores do Inter no Mundial.

1 – Renan (goleiro)
2 – Bolívar (zagueiro)
3 – Índio (zagueiro)
4 – Nei (lateral-direito)
5 – Guiñazu (volante)
6 – Kleber (lateral-esquerdo)
7 – Tinga (meia)
8 – Giuliano (meia)
9 – Alecsandro (atacante)
10 – D’Alessandro (meia)
11 – Rafael Sobis (atacante)
12 – Derley (volante)
13 – Rodrigo (zagueiro)
14 – Ronaldo Alves (zagueiro)
15 – Eduardo Sasha (meia)
16 – Juan (zagueiro)
17 – Andrezinho (meia)
18 – Oscar (meia)
19 – Leandro Damião (atacante)
20 – Wilson Matias (volante)
21 – Daniel (lateral-direito)
22 – Pato Abbondanzieri (goleiro)
23 – Lauro (goleiro)

Meu palpite: Rafael Sobis aos 33´do segundo tempo.