Blog do Torero

Arquivo : October 2010

Toreroteca política
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Torero

Pois bem, caro eleitor e caríssima eleitora, hoje teremos uma toreroteca diferente. Uma toreroteca política!

 Ganhará aquele que acertar (ou que chegar mais perto) de quem vencerá a eleição para presidente e com quantos votos.

 O prêmio, já que esta é uma toreroteca política, será meu livro Os Vermes.

 De quebra, você ainda pode dizer em quem vai votar, assim fazemos um Datarero para saber como andam as preferências aqui no blog.

Para ajudar, dou-vos alguns números:

Nosso total de eleitores é de 135.804.433.

No primeiro turno votaram 111.187.065 (a abstenção foi de 18,12%)

O número de votos válidos (tirando brancos e nulos) foi de 101.584.095.

E provavelmente teremos uma abstenção maior por conta do feriado.

 O meu palpite é que Dilma vence com 53.159.654 votos (um deles, meu).

 Vote no voto!


Black Red x Tim Timão
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Torero

(Desenhos: André Bernardino)

Era o duelo das multidões.

 De um lado, um lutava para chegar ao céu. Do outro, o outro batalhava para não despencar no inferno.

 Um buscava a felicidade, outro, o alívio, que é uma felicidade com desespero.

 Black Red e Tim Timão, os dois mais amados caubóis de Brasileirão City se enfrentaram ontem.

 O urubu de Black Red voava sobre os dois, esperando sua refeição.

 Tim começou com cuidado, escondendo-se atrás das pedras da Big Factory of Sugar, esperando a hora certa de atacar. E ele faz isso muito bem.

 Já Black Red quis bancar o corajoso e empunhou três revólveres ao mesmo tempo. Era o seu famoso ataque em 3D, com Diego, Diogo e David. Mas Black não tem habilidade para atacar tridimensionalmente, e acabou se atrapalhando, com o que Tim se aproveitou e bang!, disparou sua Colt Ronald em Black.

A Colt Ronald é uma arma antiga e um tanto pesada demais, mas é certeira. Não desperdiça balas.

 Os dois caubóis pararam para um uísque e, quando voltaram à luta, Black não perdeu tempo: Bang!

 Acerto Tim Timão com um de seus 3D, no caso, o Diogo.

A coisa está black para Red.

 A partir daí os dois tiveram boas chances, mas estava escrito que nenhuma das multidões que seguem os dois caubóis choraria naquele dia. Nem de alegria, nem de tristeza.

 Na verdade, o resultado não foi terrível, mas também não foi bom. Tim Timão não alcançou o céu. Black Red não escapou do inferno.


In Vino Veritas
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Torero

(Como ontem bebi um pouco (um ou dois barris), republico na “Velharias” desta quarta um texto de 1999 que compara jogadores e vinho)

O futebol não é muito diferente do vinho. Os dois são saborosos, nos dão alegria e, às vezes, dor de cabeça. Além disso, tanto um como o outro possuem suas safras. Em relação aos vinhos franceses, são famosas as supersafras de 1929, 45, 47, 62, 86 e 90. No futebol brasileiro, temos as de 58, 70, 82 e agora a de 98. É difícil lembrar uma safra melhor do que essa, tanto em quantidade quanto em qualidade.

Segundo explicou-me o enófilo Mauro Marcelo, para que haja uma supersafra de uvas, ela precisa vir precedida de um inverno rigoroso e de uma primavera amena. Não é outra coisa o que aconteceu no nosso futebol. Em 90, tivemos um inverno tenebroso com Lazzaroni; em 94, uma amena primavera com a seleção de Parreira, que teve lá suas flores.

Mas, para comprovar esta tese, vejamos os frutos dessa supersafra de craques:

Em relação aos goleiros, por exemplo (que se assemelham ao champanhe, pois têm que demonstrar segurança e elegância), a lista tem nomes capazes de fazer sombra ao tradicional Taffarel, que já não tem a mesma consistência. Há os tarimbados Zetti, Carlos Germano, Velloso e Clêmer, que, como o vinho, melhoraram com o tempo, e também os jovens Rogério, Dida e André.

Na defesa (que precisa ter jogadores como um vinho Riojas: forte, encorpado e viril), temos muitas opções. Nas laterais, além de Cafu, Zé Maria, Roberto Carlos e Zé Roberto, poderíamos experimentar Júnior, Felipe, Serginho e André na esquerda, e, na direita, Russo, Rodrigo e Zé Carlos.

Quanto ao miolo de zaga, Aldair, Júnior Baiano, Gonçalves e André Cruz podem ser os zagueiros preferidos de Zagallo, mas estou certo de que Cléber, Márcio Santos, Mauro Galvão, Júlio César e Adilson não comprometeriam.

Já no meio (onde os jogadores devem ser versáteis como um Chardonneay, possuindo tanto finesse suficiente para acompanhar peixes e dar toques sutis, como ser encorpados para poder acompanhar uma carne e segurar o adversário), os volantes convocados deverão ser Dunga, Flávio Conceição, César Sampaio e Mauro Silva, mas Doriva, Marcos Assunção e Capitão também são nomes de respeito.

Já os meias de armação devem ser a principal dor de cabeça de Zagallo. Arrisco que ele vai optar pelos canhotos Zinho, Leonardo, Rivaldo e Denílson, deixando de fora craques como Djalminha, Giovanni, Raí, Amoroso, Marcelinho e os contundidos Rodrigo e Juninho.

No ataque (que é como um vinho Bordeaux ou um supertoscano, onde é necessário agressividade, força e certa elegância), creio que a lista terá Edmundo, Romário, Ronaldinho e Dodô. Mas outros nomes poderiam matar nossa sede de gol, como Jardel, Bebeto, Ânderson, Viola, Élber, Túlio, Paulo Nunes, Valdir, Donizete, Muller, Oséas e Christian.

Enfim, trata-se de uma supersafra como nunca tivemos antes. As uvas, digo, os jogadores, são excelentes e podem formar uma adega, digo, uma seleção, memorável. Basta que os vinicultores Zagallo & Cia. façam a sua parte. Ou o vinho, por melhor que seja, acaba virando vinagre. E aí só nos resta tomar um porre.


Convite e links
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Torero

O convite é para os mineiros. Hoje, às 19h30, estarei no Museu de Artes e Ofícios falando do meu novo livro, O evangelho de Barrabás, sobre literatura, jornalismo, cinema e, é claro, futebol.

Aliás, agora que o blog permite link com twitter, facebook e outras modernidades, recoloco aqui o endereço do vídeo sobre o livro: 

http://www.youtube.com/watch?v=fwPR2M8lrm4

E, como às terças costumo colocar o link para um curta, hoje coloco dois:

Este é um videozinho com a música do Ayrton Senna, mas com um final inesperado:  http://www.youtube.com/watch?v=X_51bD0Y3-A

E este é um bom curta brasileiro para os fãs de Tarantino: http://www.youtube.com/watch?v=op4byt-DtsI


Brasileirão City, onde as balas fazem curvas
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Torero

(ilustrações de André Bernardino)

Em Brasileirão City, a única coisa previsível é que tudo é imprevisível.

Lá os pequenos vencem grandes e as balas fazem curvas.

Faltam apenas sete duelos, e ainda não se sabe quem vai ficar com a estrela dourada de xerife.

Esta rodada foi surpreendente, tão surpreendente que Seth Fire não empatou. Sim, isso mesmo. Depois de oito empates seguidos, que fizeram sua torcida arrancar os cabelos e ficar calva como ele, Fire conseguiu vencer (por apenas um tirinho) a bela Victoria Salvador, que agora corre grande risco de ser mandada para Série B Village. Uma pena…

Tim Timão, que vinha mal, enfrentou Big Green, que vinha bem. O esperado seria uma vitória do caubói que só se alimenta de pizzas, mas eis que Tim surpreendeu o arquirrival e venceu-o pela contagem mínima. Mais uma vez graças ao seu eficiente revólver Bruno César, que deu tiro que ricocheteou antes de se alojar no peito de Green. Foi uma boa estréia do chapéu Tite de Tim Timão.

Outra surpresa foi o índio Guarani, que é muito perigoso quando joga em suas matas mas desta vez foi vencido por Dave Dragon. Dragon, estreante em Brasileirão City, parecia fadado a ficar entre os quatro últimos. Mas, desde que vestiu o chapéu da marca René, vem se recuperando e agora já é o 14º. colocado.

Louis Laranjeira poderia ter se isolado na liderança, mas só empatou com Harry Hurricane. Aliás, Harry vem se recuperando com louvor depois de um começo cheio de tropeços, e, a bem da verdade, foi ele quem cedeu o empate. Louis deve ter saído satisfeito com o empate no Arena Saloon.

Joaquim Wayne ficou no empate com Black Red, o caubói que leva um urubu de estimação em seu ombro. São caubóis médios, no meio da tabela. O que poderia ser um duelo clássico, foi apenas mais um duelo. 

Outro empate, este mais trágico, foi o que aconteceu entre James Colorado e seu arquiinimigo Sancho Pampa. Quem vencesse renovaria suas esperanças de chegar às primeiras posições. Mas James Colorados, acertando uma bala no finzinho, acabou com a festa de Pampa. Estava escrito que nenhum dos dois faria um churrasco em comemoração à vitória. 


 
John Esmeraldine venceu a bela Ava Wee, que tinha começado tão bem o torneio… Os dois continuam com grandes chances de terem que pegar a carruagem para Série B Village. Mas John tem melhorado, e a esperança é a última que morre. Ainda mais em Brasileirão City, onde tudo pode acontecer.

Aliás, tudo mesmo, inclusive um caubói estar vencendo, em casa, ao seu oponente (o último colocado) por duas balas a zero e depois tomar três tiros, errar um disparo à queima roupa e, mesmo com o inimigo com duas armas a menos, não conseguir empatar o duelo. Foi o que aconteceu com Billy, the Fish, e o jovem Pete Prudent. O imberbe Prudente parecia morto, mas, no intervalo, tomou um gole de bourbon e ressurgiu das cinzas, conseguindo uma vitória que lhe dá uma réstia de luz em meio às trevas. Já Billy diminuiu muito suas chances de conseguir a estrela dourada. Tsc, tsc…

Sir Arah também não se intimidou com Jack Tricolor e meteu-lhe logo dois balaços. Não, ninguém respeita mais os caubóis paulistas. E isso é ótimo para Brasileirão City.

E o melhor duelo da rodada, pelo menos em números de balas, foi entre Will Uai e Rob Gallo. Os caubóis mineiros precisavam vencer por motivos diferentes: um era o líder e queria se afastar dos adversários; o outro queria se livrar da sombra de voltar para Série B Village.

Gallo começou implacável. Seu certeiro rifle Obina acertou três tiros em Will. Mas este, em vez de se esvair em sangue, ergueu-se e, no fim das contas, perdeu por 4 a 3, quase conseguindo o empate nos últimos minutos.

O resultado foi que Will perdeu a liderança. E Gallo saiu das últimas posições (depois de 21 rodadas seguidas).

Mas tudo pode mudar, ficando diferente ou voltando a ser o que era, que em Brasileirão City, as balas fazem curvas e só o que se espera é o inesperado.


Al-Chaerianas
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Torero

O insigne Al-Chaer, poeta, engenheiro e torcedor do Goiás,  fez dois poemas visuais sobre Pelé.

O primeiro chama-se “Pelé entra em campo”.

Este segundo é o “Soco no ar”:

Para ver o site completo, clique aqui: http://visu-al-chaer.blogspot.com/


Eu não vi Pelé
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Torero

Tiago de Souza

Todos temos devaneios (alguns dirão inclusive que se tratam de lembranças… vai saber?) e aspirações sonhadoras de termos vivido em alguma época, em algum lugar, ter vivenciado algum acontecimento histórico (e na época, provavelmente, nem ter notado que esse instante seria mesmo eternizado). Há quem sonhe em ter sido um cavaleiro templário, ou um navegador ibérico, ou ter ido à manifestações contra ditaduras, ter curtido um dia em Woodstock. Eu queria ter visto Pelé, e só.

Já perdi a conta das vezes em que assisti ao filme de Sua vida, que vi Seus lances na TV, que presenciei histórias contadas pelo meu pai (que são como lendas, algumas o são, inclusive), que me peguei desejando mais do que qualquer coisa ter ido a pelo menos um jogo do Santos de Pelé, do Brasil de Pelé, ou então apenas ter vivido essa época para depois contar aos filhos, netos, e quem mais se dispuser a ouvir, que “vi” Pelé jogar.

Não vi Pelé fazer mais de 1.200 gols, e assistir a que outros – pra mim eleitos divinamente –  também fizessem os seus mais 1.200 gols. Não vi Pelé – um negro, jovem, de país pobre – ser aplaudido em redutos arianos, em rincões bolivarianos, em palácios da Bretanha, em aldeias africanas.

Queria ter visto o Pelé numa das maiores demonstrações do poder social do esporte no – hoje quase hollywoodiano – dia em que parou uma guerra no Congo Belga. Queria ter visto Pelé no Pacaembú, no Morumbi, no Maracanã, no Azteca, na Rua Javari, no estádio da Esportiva de Guaratinguetá, ou em qualquer lugar que ele nunca pisou mais juram já tê-lo visto passar. Porque não duvido da Onipresença do Rei. Não duvido de nenhum feito relacionado a Pelé.

Não vi narradores se referirem a Pelé como “lá vem Ele…” quando seu pé, sua velocidade, sua habilidade, sua destreza, e a bola, se misturavam num desafio à física de qualquer época, e todos os ouvintes, muitos sem qualquer referência de imagem do Rei, saberem que Pelé estava vindo… e o gol muito provavelmente também.

Não vi Pelé para conseguir fazer poemas com seus feitos, para poder entender de fato o sentido de Armando Nogueira ao falar que “se Pelé não tivesse nascido homem, teria sido bola”. Queria ter visto Pelé.

Não me interessa que à época eu também teria visto alguns de meus mestres de samba cantando ao vivo por exemplo, teria presenciado momentos interessantes, de maior importância histórica do que qualquer feito de Pelé. Não, queria era ter visto Pelé subir e consubstanciar a expressão “matar no peito”, quando ele e bola se entendiam como nunca mais se verá.

Queria ter visto Pelé inclusive para quem sabe soltar a bravata de que ele não foi exatamente tudo isso, mas sempre sabendo que não passaria de pura vontade de ser do contra, ranzinza como sou.

Queria ter gritado “fica” no Maracanã farto em sua despedida de 1972 como meu pai jura ter ido e gritado (não me interessa se é real, eu acredito e é isso que interessa a ele, meu pai). Queria ter ido ao Maracanã no milésimo gol como mais de 500 mil pessoas já falaram também terem ido e igualmente não me interessa quem foi, apenas porque vivas eram à época e têm todo direito de falarem que foram, ponto.

Eu vi o Edson Arantes do Nascimento, mas queria ter visto Pelé. Não pelo motivo recorrentemente citado sobre a personalidade, índole, e outros sobre Edson. Mas porque Pelé era no campo, e só esse me interessa. O que ele é, foi e será fora dele, é problema dele, não meu. Mas o que ele fez nos estádios, é inspiração para o mundo, e isso eu queria ter visto.

Na minha geração – aqui coloco todos que não viram Pelé jogar, porque são eras diferentes na minha cabeça e que cada um faça a sua divisão – sempre ouço a insolência de que “hoje” Ele não teria sido isso, não teria feito aquilo, não driblaria assim… puro despeito de quem não viu Pelé.

Porque, no interior, a verdade é que todos esses queriam ter visto Pelé. Esse é meu devaneio de viagem ao tempo, esse é o desejo que jamais realizarei na vida, esse é o sonho de criança que tenho quando estou sozinho: queria ter visto Pelé!
Tiago de Souza é jornalista, são-paulino, e tem tristes 28 anos que não lhe permitiram ver Pelé.


E se a Gaviões fizesse um desfile sobre Pelé?
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Torero

(Para não deixar o aniversário do Negrão passar em branco, coloco aqui um texto sobre Ele, escrito na Folha de S.Paulo em 22/2/2007)

O carnaval acabou, mas meus ouvidos ainda escutam um zumbido. Explico: é que um bloco carnavalesco achou por bem eleger a calçada em frente à minha casa como sua sede, de modo que o baticum perseguiu-me durante todos os dias e, pior, noites do reinado de Momo.

Por conta disso, meus sonhos foram confusões carnavalescas.

Vi-me morrendo afogado num mar de confetes e enforcado por serpentinas. Sem falar nos devaneios eróticos, em que Grazi misturava-se a Juliana Paes, Sabrina Sato a Kelly Key, e, misteriosamente, Preta Gil à águia da Portela.

Mas o mais curioso foi que sonhei que uma escola de samba, a Gaviões, fazia um belo desfile que contava a vida de Pelé.

Na comissão de frente, como não poderia deixar de ser, vinham Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe acenando para a torcida. Zito, é claro, era o diretor de harmonia. E Gilmar, o mestre da bateria.

Depois vinham três alas relativas às cidades onde o Rei jogou. A primeira era formada por homens fantasiados de bauru. Nota para as esvoaçantes folhas de alfaces amarradas aos braços dos foliões, transbordando dos sanduíches e dando leveza às fantasias.

A ala “Santos, sempre Santos” era formada por umas cem pessoas, cada uma fantasiada de um santo diferente. O destaque, obviamente, era são Jorge, que vinha montado num imenso dragão.

Depois veio a ala “Niuiorque, Niuiorque”, onde todos estavam vestidos como a estátua da Liberdade. Só que, em vez de tochas, seguravam bolas. E vestiam a camisa do Cosmos.

A segunda maior ala em tamanho foi a “Ala dos Mil Gols”,  e ela era formada por nada menos do que mil pessoas, cada uma representando um dos gols de Pelé. Em tamanho, a “Ala dos Mil Gols” só perdeu para a “Ala das Ex-Namoradas”, composta pelas próprias.

Falando em mulheres, o “Bloco das Xuxas” fez muito sucesso. Era formado apenas por homens, todos usando imensas perucas loiras. Seguindo o “Bloco das Xuxas”, vinham o mestre-sala e a porta-bandeira, Robinho e Marta, que faziam malabarismos com a bola.

A “Ala dos Novos Pelés” comoveu o público. Era formada por crianças vestindo a camisa 10 e por Cláudio Adão, o único novo Pelé que deu mais ou menos certo.

As baianas vinham com vestidos imitando meia bola, causando um bonito efeito quando vistos de cima, parecendo dezenas de bolas a girar. Uma ala de muito bom humor foi a “Sonho Corintiano”, que trazia seus foliões todos engessados.

Pelé, o próprio, vinha dentro de uma gigantesca Taça Jules Rimet de dez metros de altura, e lá embaixo os integrantes da escola estavam vestidos como a própria taça. Mas, de repente, numa curiosa coreografia, de dentro do grande troféu saíam homens vestidos de ladrões e carregavam as mulheres fantasiadas de taça.

O carro alegórico que trazia Edinho numa prisão foi considerado de gosto duvidoso, assim como o bloco que homenageava o Pelé cantor, composto somente por integrantes surdos.

Talvez a ala mais engraçada tenha sido a “Exame de DNA, oba!”, que falava dos filhos ilegítimos do Rei. A fantasia era simples, mas interessante: todos os componentes usavam apenas fraldas e uma máscara de Pelé.

Um humor um tanto ácido, é verdade, mas há que lembrar que o desfile foi bolado pela Gaviões.

Só não me lembro muito bem do samba-enredo, mas acho que se utilizava da melodia de uma conhecida marchinha de Carnaval e começava com algo como:

 “Doutor, eu não engano, quando criança fui corintiano”.


Zé Cabala e o homem que virrou estádia
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Torero

Quando cheguei à nova sede da Igreja Mundial da Divina Ascensão, que é um puxadinho que Zé Cabala fez atrás de sua casa, disse:

“Gostei da nova sede, mestre.”

“A Imunda merecia este palácio.”

“Imunda?”

“É a nossa sigla. I de igreja, Mun de Mundial…”

“Já entendi, já entendi.”

“Pois bem, o que vai ser hoje?”

“Gostaria de fazer algo diferente. Quem sabe vossa santa espiritualidade possa incorporar um jogador internacional.”

“Tudo bem, mas você vai ter que pagar em euros.”

Antes que eu fizesse alguma objeção, o supino mestre começou a dançar de uma maneira estranha, algo entre a polca e um ataque epilético.

Depois de algum tempo, ele disse com sotaque alemão.

“Muita prazer, eu ser Fritz Walter.”

“Fritz Walter? O grande capitão da seleção alemã de 1954? O melhor jogador de alemão de todos os tempos segunda a FIFA? Aquele que foi o primeiro kaiser, depois seguido por Beckenbauer e Matthaus? Aquele que…”

“Você vai falar tudo ou vai deixar uma pouco parra mim?”

“Desculpe…”

“Pois eu ser esse mesmo: Friedrich ´Fritz’ Walter. Daqui a dez dias eu farria 90 anos. Pena que eu morri em 2002, bem no meio do Copa.”

“Dizem que o senhor foi o maior.”

“O maior, não, porque tinha só 1,73 m e era magrinha. Nem parrecia alemão. Mas fui uma bom meia.”

 “Jogou pelo Kaiserlautern, não é?”

“Isso, foi o único time em que jogar em toda a minha vida. 306 gols em 379 jogos. Meu pai era o gerrente do bar do clube. E dois de meus irmãos, Ludwig e Ottmar, também jogarram lá comigo: Comecei no Kaiserlautern com 8 anos, estreei no equipe principal com 17 e pendurei os chuteirras aos 39. Mas houve uma intervalo.”

“Contusão?”

“Pior: guerra. Fui convocado para servir como parraquedista.”

“Você lutou por Hitler?”

“Você acha que eu tive escolha? Você acha que eu querria que a guerra roubasse os melhorres anos do meu futebol?”

“Bem… e como foi na guerra?”

“Foi terrível. Tive até malárria. No fim do guerra, meu unidade se rendeu ao exército amerricano. Mas fomos entregues aos russos. Então, enquanto estar no campo de prisioneirros de Marmaros-Sziget, esperando o transferência para a Sibéria, onde os prisioneirros sobreviviam pouco tempo, alguns soldados húngaros, veja que irronia, me reconhecerram e acabei voltando para o Alemanha.”

“E a seleção?”

“Estreei aos 19 anos, em 1940, e logo nesse jogo já marquei três gols. Mas parrei com a guerra e só voltei a jogar pelo meu país em 1951, já com 30 anos.”

 “Aí foi sua melhor fase?”

“Sim. Em 1951 e em 1953 o Kaiserlautern foi campeão alemão. Depois, o clube só foi campeão em 1998. E em 53 também fui artilheirra do campeonato. Principalmente por causa dos meus cobranças de faltas.”

“E houve a Copa de 1954…”

“Foi o ponto alto do meu carreira.”

“O ponto alto de sua carreira não foram os saltos de paraquedas, rá, rá?”

“Você sempre faz piadas tão sem graça? Pois fique sabendo que fiquei tão traumatizado que nunca mais subi num avião depois do guerra.”

“Desculpe…”

“Tuda bem.”

“O senhor estava falando da Copa de 54…”

“Isso. Houve um jogo, contra o Áustria, que ganhamos de 6 a 1. Dois gols meus e dois de meu irmão Ottmar Walter.”

“Na fase de classificação vocês perderam da Hungria, não é?”

“Foi um surra! 8 a 3 parra eles. Nós entramos em campa com muitos reservas. Depois, no final do Copa, jogamos com todos as titularres e aí foi diferente.”  

“Com menos de dez minutos já estava 2 a 0 para a Hungria, não é?”

“Isso. Mas empatamos antes dos vinte. Nosso primeiro gol foi de Morlock. Depois, eu cobrei uma escanteio e Rahn marcou o segundo. Ah, Rahn, aquele bêbado mulherrengo… Você precisa entrevistar ele…”

“Estava chovendo naquele dia, não?”

“Estava. E esse foi meu sorte. É que por causa do malárria eu sofria muito com o calor. Com frio e chuva eu jogava melhor. As pessoas até chamavam esse clima de clima Fritz Walter.”

“Não foi este jogo que ficou conhecido como ‘O Milagre de Berna’?”

“Foi. Porque parecia impossível vencer as húngaros. Eles estavam invictos há 33 jogos.”

“E como foi o final da partida?”

“Hidegkuti, da Hungria, acertou uma chute na trave. Logo depois, Rahn pegou um bola na entrada do árrea e chutou de perna esquerda na ângulo. Uma golaço! Aquela foi nossa primeirra Copa. Uma coisa muito boa parra o meu país recuperrar o morral. E eu tive o honra de ser o primeirro capitão alemão a receber a taça.”

“E na Copa seguinte?”

“Eu tinha 37 anos, mas ainda era o capitão. Estávamos muito bem até a semifinal contra o Suécia. O jogo estava 1 a 1. Então, faltando 15 minutos, eu me machucar e ficar andando em campo. Aí eles fizerram 3 a 1. No jogo pelo terceirro lugar, também não pude entrar e perdemos para o França.”

“O que o senhor fez depois de parar com o futebol?”

“Eu parrei em 59. Aí dirigi um lavanderria e depois uma cinema.”

“E recebeu muitas homenagens, não?”

“Muitas. O melhor delas foi em 1985, no meu aniversárria de 65 anos.”

“O que aconteceu neste dia?”

“Eu virrei estádia.”

“Hein?”

“É que colocarram o meu nome no estádia do Kaiserslautern. Não numa rua, ou numa praça, mas na estádia do único time em que joguei. Não podia ter homenagem melhor.”